CIA na Europa: Funcionários da agência admitem prisões secretas

ONGs também afirmam que centros de detenção secretos foram instalados pelos EUA em diferentes áreas do mundo após os ataques do 11 de setembro

O eurodeputado socialista italiano Giovanni Fava, membro da comissão parlamentar que investiga as atividades da CIA, assegurou nesta quarta-feira que fontes da própria agência lhe confirmaram que houve "entre 30 e 50" detenções e transferências ilegais de suspeitos de terrorismo.

As fontes, que Fava qualificou de "fidedignas", indicaram que os EUA criaram prisões secretas na Europa, na Ásia e na África após os ataques de 11 de setembro de 2001 para transferir os suspeitos, alguns dos quais foram detidos em países da UE.

Fava contatou as fontes — as quais se referiu como "altos funcionários da CIA até datas recentes" e como "fontes da inteligência" dos EUA — durante a visita de uma delegação da comissão do Parlamento Europeu a Washington entre os últimos dias 8 e 12.

Os eurodeputados reuniram-se com o secretário de Estado adjunto para a Europa, Dan Fried, o assessor legal do Departamento de Estado, Jonh Bellinger, o ex-diretor da CIA James Woolsey e as mencionadas fontes, que pediram para não ser identificadas.

"Todos os nossos interlocutores sugeriram ou confirmaram que o programa de transferências extraordinárias na Europa só pôde ser realizado com o conhecimento e o apoio dos governos nacionais europeus", apontou o presidente da comissão do PE, o conservador português Carlos Coelho.

"Os oficiais do Departamento de Estado disseram, de forma diplomática, que os EUA nunca violaram a soberania dos Estados-membros (da UE). Outros admitem o envolvimento dos governos europeus de uma maneira mais direta", explicou Coelho.

Fava relatou que uma "fonte da CIA" lhe disse que "não parece possível" que os serviços secretos italianos ignorassem o seqüestro em Milão, em 2003, do egípcio Abu Omar, pelo qual a Promotoria milanesa pediu a extradição de 22 agentes americanos.

A delegação da comissão temporária se reuniu também com advogados, especialistas em Direitos Humanos e representantes das ONGs Human Rights First, Human Rigths Watch e Anistia Internacional.

As ONGS afirmam que oito centros de detenção secretos foram instalados pelos EUA em diferentes áreas do mundo após os atentados de Washington e Nova York, e asseguraram que pelo menos um deles, na África, ainda está em operações, segundo Fava.

A comissão temporária da Eurocâmara investiga os vôos ilegais e prisões secretas estabelecidas pela CIA na Europa a pretexto da "guerra contra o terrorismo", assim como a possível cumplicidade dos governos da UE.

Com agências internacionais