Ciro Gomes duvida que PSDB concretize transposição do Rio São Francisco

Para o ex-ministro da Integração Nacional, o grupo político de Geraldo Alckmin "não fez o projeto, não fez a locação de recursos nem a licença ambiental", enquanto Lula teria "força, v

Se a execução da obra de transposição das águas do Rio São Francisco for depender de Geraldo Alckmin (PSDB) na Presidência da República, é sinal de que o projeto vai continuar no papel. A avaliação foi feita ontem por Ciro Gomes, ex-ministro da Integração Nacional, pasta responsável pelo empreendimento federal. "O grupo que governou o País oito anos não fez. Não fez nem o projeto. Não fez nem a locação de recursos. Não fez nem a licença ambiental. Não fez nada", criticou Ciro, após um debate sobre o assunto, no Pacto de Cooperação.

"O Lula, eu sei com segurança (que vai fazer), porque eu vi ele mandar fazer o projeto, mandar licenciar e enfrentar todas as resistências", afirmou. "E o Antônio Carlos Magalhães, que é o maior veto à obra, do PFL do Nordeste, está apoiando o Alckmin", completou o ex-ministro. Segundo Ciro, Lula "tem força, vontade e determinação" para tocar a obra.

Um dos maiores defensores do governo federal – inclusive da candidatura do presidente Lula à reeleição -, Ciro Gomes negou, no entanto, que sua opinião sobre o destino do projeto, num eventual governo tucano seja uma indução para que defensores da transposição votem em Lula. "Voto é uma coisa muito solene, muito sagrada, para a gente vincular a coisa miúda, mesmo importante", minimizou. "O que está em jogo não é o projeto. É o interesse do Brasil. Do futuro do nosso povo. Isso é o que deve orientar o voto de cada um de nós".

Com o início das obras impedido por uma liminar, o projeto prevê a construção de dois eixos de captação de água a partir do leito do rio no Estado de Pernambuco. Um deles entra pelo Sul do Ceará e deverá levar água por canais construídos pelo governo do Estado para várias regiões, inclusive Fortaleza. A obra está orçada em R$ 4,5 bilhões, com dois anos de duração e benefício previsto para 12 milhões de nordestinos, segundo o governo.

Já as ações de revitalização do rio – um dos pontos que provocaram maiores controvérsias entre apoiadores e defensores – estão em andamento em 48 dos 250 municípios ribeirinhos. O Congresso estuda medidas para garantir R$ 6 bilhões na recuperação do rio, ao longo dos próximos 20 anos. Segundo Ciro, apenas outro Estado – Sergipe – , ao lado da Bahia de Antônio Carlos Magalhães, estaria, atualmente, resistente ao projeto.

Ciro Gomes também atacou o pré-candidato do PSDB a presidente, quando questionado sobre a política de desenvolvimento regional. Na semana passada, em Fortaleza, Alckmin prometeu, entre outros pontos, reduzir a carga tributária e simplificar o ICMS. Ontem, Ciro fez duras críticas ao tucano, dizendo que o então governador de São Paulo promovera uma intensa guerra fiscal com vários Estados brasileiros, inclusive contra os do Nordeste.

O ex-ministro disse que sem uma "simetria fiscal competitiva", as regiões mais atrasadas do País, como a nordestina, não terão condições de recuperar a distância sócio-econômica do Sudeste. "Sem incentivo fiscal, nós não vamos superar", disse ele, acrescentando que São Paulo já se beneficiara disso, na primeira metade do século passado.

A crítica de Ciro contra os tucanos sobrou até para o governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB). "É um dos meus problemas com o meu amigo governador Lúcio Alcântara", frisou ele, para quem o Ceará parou de se industrializar. "Eu acho que ele (Lúcio) não esteja percebendo isso".

Fonte: Jornal O POVO