PT vê obra de Lula como “ainda parcial, desigual e incompleta”

O 13º Encontro Nacional do PT encerrou-se neste domingo (30). O debate do terceiro dia de trabalhos dos 1.068 delegados (89% dos inscritos) concentrou-se na aprovação do documento “Diretrizes para a Elaboração do Pro

O texto parte da tese elaborada em março pelo Diretório Nacional. Lembra que “o Governo Lula se constituiu em meio a uma grave crise do capitalismo brasileiro”, crise estrutural e também crise conjuntural. Mas avalia que essa tendência começou a ser revertida. “A ação do Governo Lula evitou a catástrofe”, afirma. Admite que “a economia ainda não  retomou o crescimento esperado pelos que elegeram Lula”, mas enumera realizações econômicas e “avanços importantes no plano social”, além de um “processo de reconstrução do Estado”, enfraquecido pelo governo anterior.
No plano político, o documento diz que, “a despeito dos ataques e denúncias da oposição, o Governo Lula respeita e promove em nosso país a democracia, as instituições republicanas e os direitos humanos”. Admite porém que “o governo e o PT sofreram duro golpe no ano de 2005. A direita reorganizou-se e soube aproveitar nossos erros para desfechar um ataque frontal que tinha como programa máximo o impeachment de Lula e a ilegalidade do partido e, como programa mínimo, a derrota acachapante de ambos nas próximas eleições”, diz o texto.
“Um balanço franco do governo”
Sobre o futuro, o documento das “Diretrizes” observa que “Não basta celebrar as realizações do Governo e oferecer uma mera perspectiva de continuidade. Será necessário, em primeiro lugar, um balanço franco do governo. Em segundo lugar, é importante que o  programa  mostre o até agora realizado como base para avançar na direção das mudanças que mobilizaram os eleitores em 2002.”
Adiante, o texto proclama que “o PT terá de organizar um discurso didático que resgate o governo Lula como superior ao de FHC mas, sobretudo, como capaz de dar um salto de qualidade em seu segundo mandato, a partir do trabalho realizado no primeiro”. Diz ainda que “esse discurso não deve escamotear as dificuldades objetivas que nos cercam; menos ainda nossos erros”.
Na macro-economia, as dificuldades
Segue-se uma longa e elogiosa enumeração de medidas e resultados administrativos do governo Lula. Mas também a admissão de que “foi na relação do Estado com a gestão macro-econômica que nosso governo encontrou dificuldades de transitar para um outro paradigma. A ‘autonomia operacional’ do Banco Central, maior do que em períodos anteriores, permitiu uma política monetária – revestida de um discurso conservador – que se chocou, mais de uma vez, com as bases sociais do governo e com o próprio governo”.
A crítica à política de juros é centrada no Banco Central, sem menção ao Ministério da Fazenda. Esta criou, segundo o documento, restrições que “limitaram fortemente o positivo das políticas de emprego e renda do governo Lula”.
Anúncio, início, impulso
Como síntese, o texto das “Diretrizes” afirma que “a obra do governo Lula é ainda parcial,  desigual e incompleta”. Mas contrapõe que Lula presidente criou “uma cultura política propícia à superação do peso das elites na política brasileira”.
“Por isso tudo, a vitória de Lula e das forças populares em 2006 será um passo fundamental para dar novo impulso à mudança histórica anunciada em 2002, iniciada nos últimos três anos, e para cuja aceleração estão criadas condições excepcionais”, afirma o documento. E enumera pontos, do crescimento acelerado, “em níveis qualitativamente superiores aos das duas últimas décadas”, à manutenção da estabilidade macro-econômica, porém admitindo que “será necessário acelerar o esforço atual de reduzir os juros”.
O documento conclui dizendo que, “passado o Encontro Nacional, o PT deve realizar um debate com os partidos aliados, além de dar continuidade ao debate programático com a sociedade”. Coloca a relação do PT com o candidato à Presidência como uma “interlocução”. E enxerga o programa de governo “como elaboração coletiva”, que tem nas “Diretrizes” petistas uma contribuição.
Campanha de filiação
O sítio do PT (http://www.pt.org.br/) divulgou na íntegra o documento, assim como outros aprovados pelo 13º Encontro. Este convocou também o 3º Congresso do PT, para o segundo semestre de 2007. E aprovou uma campanha de filiação partidária.
Nos três dias de trabalho, apenas uma questão, sobre a Companhia Vale do Rio Doce, exigiu contagem de votos. A deputada Doutora Clair (PR) propôs uma campanha pela anulação da privatização da empresa – já que recente decisão judicial pôs em xeque a lisura do processo de venda pelo governo Fernando Henrique Cardoso. O presidente Ricardo Berzoini disse que não havia “condições políticas” para isso e sugeriu que o partido se limite a acompanhar de perto o processo judicial. Na contagem voto a voto venceu a proposta de Berzoini, por 358 a 305.
Com http://www.pt.org.br/