´L´Humanité´: Depois do Iraque, o Irã?

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) apresentou um relatório bem mais duro e negativo que os precedentes sobre a crise iraniana, remetendo a questão ao Conselho de Segurança da ONU. O Irã é acusado de t

Em 29 de março, o Conselho de Segurança tinha “sublinhado […] que era particularmente importante”  que o Irã suspendesse completa e duradouramente “todas as atividades ligadas ao enriquecimento e ao retratamento” de urânio; e que a AIEA devia poder verificá-lo.
Três dos cinco querem, dois não
O enriquecimento é uma técnica “dual”: é utilizada para fornecer combustível nuclear a centrais de uso civil, mas pode servir igualmente para fabricar uma bomba atômica.
Os Estados Unidos desejam obter sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra Teerã. A Grã-Bretanha e a França apóiam a iniciativa. Porém a Rússia e a China, dois membros permanentes do Conselho, dispondo do poder de veto, se opõem.
“Aguardamos uma resposta”
O ministro iraniano do Petróleo, Kazem Vaziri-Hamaneh, advertiu para uma nova escalada dos preços do barril no caso de sanções contra seu país. Na terça-feira, o principal negociador do Irã em torno do dossiê nuclear, Ali Larijani, afirmou que no caso de sanções internacionais seu país suspenderia as relações com a AIEA.
No dia seguinte, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, reafirmava que seu país poderia voltar atrás na adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e na cooperação com a AIEA, caso concluísse que não teria nenhum benefício por respeitar os tratados internacionais. “Aguardamos uma resposta para o que indagamos (à AIEA): o que nos dão em troca do fato de cumprirmos nossas obrigações? Que forma de ajuda nos dão?”, perguntou. “Esperamos que eles cumpram as suas obrigações e não obriguem a República Islâmica a reconsiderar suas relações com eles”, agregou.
Uma tensão que cresce
Signatários do TNP (ao contrário de Israel, da Índia e do Paquistão), os iranianos se retiraram recentemente do Protocolo Adicional do Tratado, que autoriza inspeções de surpresa nas instalações atômicas. Tomaram esta decisão depois da transferência de seu dossiê nuclear para o Conselho de Segurança da ONU.
O Irã se queixa de não se beneficiar do compartilhamento de tecnologia no quadro do TNP. Chega-se na verdade a um impasse: os diplomatas ocidentais exigem que Teerã dê provas de suas intenções pacíficas para que tal direito lhe seja concedido. Mas a AIEA ainda não se sente em condições de assegurar que as ambições iranianas sejam inteiramente pacíficas, se bem que tampouco descobriu provas de um programa militar.
A França manteve por enquanto a data de 2 de março para uma reunião dos dirigentes políticos dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, assim como da Alemanha, para estudar o caminho a seguir sobre a questão iraquiana. No entanto, quanto mais os dias passam, mais a questão se tensiona.
A lógica de Condoleezza
“Penso que devemos passar para uma nova etapa. Parece lógico que devíamos ter em vista uma resolução conforme o capítulo 7 (da Carta das Nações Unidas), sob um mandato do Conselho de Segurança”, declarou a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
Tal solução abriria caminho para as sanções, ou uma ação militar. Washington, aliás, não faz segredo de suas intenções. Os projetos militares esperam nas gavetas e as simulações em tempo real se multiplicam nas diversas instituições privadas.
Como sugere a advogada iraquiana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz, tudo se passa como se quizessem preparar a opinião pública  para uma intervenção armada, intervenção que, segundo muitos peritos, poderia ter lugar dentro de um ano.
A ameaça de Khamenei e a de Bolton
“Os americanos devem saber que, caso ataquem o Irã, seus interesses serão tomados como alvos em todo lugar onde seja possível”, retrucou o aiatolá Ali Khamenei, guia supremo do país. “A nação iraquiana revidará golpe por golpe, duas vezes mais forte”, acrescentou.
“Os engenheiros nucleares podem facilmente capacitar outros países islâmicos na área do enriquecimento de urânio e da produção nuclear”, ameaçou também Khamenei, depois de uma entrevista com o presidente sudanês, Omar Hassan al-Bachir.
É o que basta para alimentar os sonhos de intervenção de George W. Bush e de seu representante na ONU, John Bolton. Este, não muito tempo atrás, sonhava em suprimir dez dos 38 andares do edifício das Nações Unidas em Nova York…
Fonte: www.humanite.presse.fr;
intertítulos do Vermelho