Para comunista português, União Européia empobreceu Portugal

José Catalino, membro da Comissão Política do Partido Comunista Português, está no Brasil a convite do Partido dos Trabalhadores, que inicia hoje o seu 3.º Encontro Nacional. Catalino esteve na manhã de hoje na sede do PCdo

A entrada de Portugal na União Européia, o empobrecimento decorrente das políticas neoliberais aplicadas em seu país nos últimos dez anos e a inédita eleição de um representante da direita para a presidência — a primeira desde a Revolução dos Cravos, foram alguns dos assuntos tratados na entrevista.

Catalino disse que "no início, o PCP se opôs à entrada de Portugal na União Européia. O partido entendia que o país perderia sua soberania, teria grandes perdas na produção nacional e comprometeria a identidade nacional". Segundo o dirigente comunista, o desenrolar dos acontecimentos provou que o PCP tinha razão. Mesmo assim, "estamos contra a saída do país da União Européia", disse.

Catalino conta que Portugal é hoje menos independente e mais pobre depois que entrou para a União. "A balança comercial é desfavorável e aumentou a distância entre ricos e pobres". Sobre a injeção de fundos que o país recebeu após a entrada na UE, "Reconhecemos que houve uma evolução com a entrada dos fundos comunitários, mas os governos não investiram corretamente esses fundos, o que conduziu a situações ruins", dando como exemplo a falência da indústria de pesca do país, que hoje importa pescado.

Euro regrediu economia

Um dos problemas que Catalino aponta é a falta de planejamento. "Os governos aplicaram políticas clientelistas na distribuição desses fundos, beneficiando grupos empresariais próximos dos dirigentes do país". Os fundos comunitários serviram para construir uma boa infra-estrutura rodoviária no país, com rodovias de alto padrão, mas essa infra-estrutura é litorânea e deixou de lado o interior do país, que ainda continua inacessível e pobre como antes. Segundo ele, os fundos comunitários são destinados pela União de tal maneira que não permitem a retomada da produção agrícola do país.

Outro problema gerado com a integração é o da moeda única. "O euro não interessa a Portugal", revela. "Um estudo publicado recentemente pela própria União Européia demonstrou que o país não progrediu com a adoção do euro". O custo de vida aumentou e boa parte da população não compreende, ainda, o valor da moeda.

Há 200 mil aposentados hoje no país que passam fome e a lei que prevê a complementação da aposentadoria é demasiado restritiva. O regulamento da complementação exige, entre outros aspectos, que o cidadão tenha mais de 81 anos e prove que seus filhos não têm condição de sustentar os pais.

Outra situação alarmante que Catalino denuncia é a das escolas. O governo neoliberal do partido socialista pretende privatizar e fechar cerca de 300 escolas públicas. E o mais bizarro dessa privatização é que ela atinge também maternidades públicas "forçando portuguesas que moram em regiões fronteiriças a se deslocarem até a Espanha para dar a luz" contou.

Política externa e a crise política no Brasil

Em relação à política externa do país, Catalino aponta as grandes contradições do Partido Socialista, do primeiro-ministro José Sócrates, que era contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos quando o país era governado por Durão Barroso, mas que hoje mantém tropas não só no Iraque como também no Afeganistão e em Kosovo.

Para Catalino, a crise política no Brasil é reflexo das disparidades sociais do país, refletidas na luta que se trava atualmente em relação às eleições presidenciais de outubro próximo. Para ele, o governo Lula "tem diferenças abismais com os governos anteriores" em termos de progresso social, embora a situação pudesse ser melhor. "Como o governo não tem maioria no Congresso, é difícil votar políticas sociais" aponta.

Da redação