Morales: “é hora de olhar o outro lado”

O presidente da Bolívia, Evo Morales, se prepara para assinar no próximo sábado um acordo de integração com seus colegas Fidel Castro e Hugo Chávez, em um último esforço para salvar a Comunidade Andina de Nações (CA

O próprio presidente anunciou na ontem à noite que no próximo sábado assinará em Havana, junto com os presidentes cubano e venezuelano, um pacto para a adesão da Bolívia à Alternativa Bolivariana para a América Latina e Caribe (Alba) impulsionada por Chávez. Nesse marco, Morales considera que se abrirá espaço para sua proposta de um Tratado de Livre Comércio dos Povos (TCP), como alternativa aos Tratados de Livre Comércio (TLC) que promove os Estados Unidos.

Morales adiantou que o acordo boliviano-cubano-venezuelano abrirá a possibilidade de exportar produtos de seu país a Cuba e Venezuela sem o pagamento de impostos. Entre os acordos que estão em entendimento, o presidente adiantou que o mercado de soja boliviana – atingido pela assinatura de um TLC entre Colômbia e EUA – está assegurado já que a Venezuela pode passar a adquirir toda a produção. Ele também destacou o interesse de Cuba em comprar quinua (um tipo de cereal das regiões andinas) da Bolívia e a possibilidade de exportar para ambos países folhas de coca com fins lícitos.

Morales indicou que os temas da Alba e do TCP foram tratados pelo chanceler, David Choquehuanca, em uma visita urgente à Venezuela na segunda-feira passada para se somar a uma delegação enviada no dia anterior. Na ocasião, Choquehuanca tratou também da iniciativa de Morales de salvar a CAN, que caminha para a morte pelo impacto que os TLCs assinados pela Colômbia e Peru com os EUA têm sobre os outros países membros do grupo.

Em um comunicado divulgado ontem, o Ministério de Relações Exteriores saudou a postergação de uma reunião da CAN de nível ministerial que se pronuncia sobre a retirada venezuelana do bloco. A declaração considera que a suspensão abre caminho a uma cúpula dos países da CAN (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), estimulada pela Bolívia, para buscar saídas à crise causada pelos TLCs. A suspensão do encontro da CAN ocorreu pela ausência da Venezuela, cuja renúncia invoca o fato de que os TLCs ameaçam os princípios da CAN e destroem os acordos integracionistas.

Para a chancelaria boliviana, o adiamento é um avanço, em função da proposta do presidente Morales de que a Venezuela suspenda sua retirada e Colômbia e Peru congelem a vigência dos TLCs, para dar um passo na direção de uma cúpula que busque saídas à crise. Chávez aceitou o pedido, mas os presidentes da Colômbia e Peru se negaram a paralisar seus empenhos para pôr em vigor os tratados com Washington.

Ontem a noite, Morales reconheceu que “é hora de olhar o outro lado”, ao anunciar sua viagem a Cuba e assinar os acordos. Ele descartou a possibilidade de se retratar das declarações que fez em que acusou os presidentes Álvaro Uribe (Colômbia) e Alejandro Toledo (Peru) de trair os povos indígenas e de atentar contra a CAN ao firmar os tratados. “Pelo contrário, me ratifico”, disse.

Alba a todo vapor

Ontem os presidentes Chávez, Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Néstor Kirchner (Argentina) também deram importante passo no processo de integração regional. Reunidos em São Paulo, eles avançaram nas discussões sobre o Gasoduto do Sul, que transportará gás natural da cidade venezuelana de Puerto Ordaz até o Brasil e a Argentina.

Eles decidiram priorizar o mercado energético do continente e formalizar o convite para que a Bolívia participe do projeto. Além do gasoduto, Chávez, Kirchner e Lula debateram outros aspectos da integração, como o solidário, militar e econômico.

Os recursos estimados para a criação do supergasoduto giram em torno de US$ 25 bilhões e a construção pode durar seis anos. Segundo o chanceler brasileiro, Marco Aurélio Garcia, os investimentos serão divididos entre os países e, pela viabilidade e resultados previstos para custo e médio prazo, a obra deverá atrair também investidores internacionais.

Da Redação,
Com agências