Daniel Dantas e a eleição na Previ

Dentro de três semanas, entre 15 e 29 de maio, 160 mil bancários da ativa, aposentados e pensionistas do Banco do Brasil elegerão seus prepresentantes na Previ – a poderosa Caixa de Previdência dos Funcionários do BB. A disp

É sob este prisma que Lessivan questiona a aliança representada pela chapa 1, situacionista. “A gente vinha de um processo em que o movimento sindical dos bancários marchava unido”, lembra ele, referindo-se em especial à “disputa muito acirrada” com o banqueiro Daniel Dantas – figura controvertida cuja sombra se projeta, segundo denúncias, sobre negociatas conexas com as privatizações do governo passado e com o esquema do Valerioduto. “Havia uma expectativa de que essa lógica macropolítica fosse observada na renovação da direção da Previ”, agrega.

Uma aliança que deixou "órfãos"
 

Entretanto, “na última hora”, relata Lessivan, a Articulação Sindical, que participava desses questionamentos, mudou de rumo. E formou sua chapa em condomínio com o setor ligado ao PPS e representado por Valmir Camilo, da Anabb (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, outra representação corporativa forte em inserção e em recursos).
Segundo a revista Carta Capital, durante as recentes investidas do deputado ACM Neto (PFL-BA) contra os fundos de pensão, era Camilo que municiava o jovem rebento da oligarquia carlista, contra a Previ. Pouco antes, era o mesmo Camilo que se queixava de que “a Articulação bancária do Gushiken e do Berzoini tomou o BB de assalto e não sobrou nada para ninguém que não use estrela vermelha no peito”, segundo relata a jornalista Eliane Catanhede (Folha de S. Paulo).
Para Lessivan, essa junção de duas visões diferentes “deixou órfã a consciência dos funcionários do BB”. Daí a formação da sua chapa, que reúne bancários da CSC (Corrente Sindical Classista), CDS (Cut Socialista e Democrática) e outros setores de esquerda.

Um gigante de R$ 83 bilhões
 

Estes elementos se conjugam, na campanha eleitoral, com outros pouco familiares a quem parte de uma visão meramente sindical. A Previ é um gigante corporativo com 102 anos de xistência e um patrimônio de R$ 83,1 bilhões, aplicado em participações acionárias em dezenas de empresas, como o próprio BB, Embraer, Vale do Rio Doce, Sadia, Telemar, CPFL. Nestas condições, as propostas administrativas em disputa sobressaem.
“A Previ teve um superávit imenso nos últimos anos. Isso é apropriado pela situação como uma realização. Já para nós, é notório que o superávit decorreu, de um lado das altas taxas de juros, e de outro da explosão do mercado acionário; as ações compõem mais de 60% do patrimônio da Previ. Portanto esse resultado tem que ser ponderado com cautela”, adverte Lessivan.
Ele manifesta a necessidade de proteger o patrimônio da Previ, em um cenário que já se desenha de queda das taxas de juros e no caso de oscilações no valor das ações. Como diferencial administrativo de sua chapa, apresenta o nome de Evandro Lopes de Oliveira, superintendente-executivo do BB que concorre a titular do Conselho Deliberativo. Aalém da extensa experiência em finanças, Evandro tem em seu currículo o êxito em evitar a privatização da BB-DTVM (Banco do Brasil Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários).

O processo da eleição
 

O sistema de gestão da Previ é compartilhado: metade da direção indicada pelo banco, metade eleita pelos funcionários. Nesta eleição, devido a uma recente mudança estatutária, os bancários do BB elegerão três diretores, em um total de 19 cargos, entre eles 12 representantes em um recém-criado Conselho Consultivo. O funcionamento da Previ foi modificado, no último ano do governo Fernando Henrique, passando a dar voto de minerva ao representante do banco no Conselho deliberativo. A recente mudança do estatuto redemocratizou alguma coisa do muito que foi desdemocratizado em 2002; em contrapartida, “comprimiu” o processo eleitoral, segundo Lessivan.
Baiano de Jacobina, funcionário do Banco do Brasil há 25 anos, Lessivan Pacheco já foi secretário-geral e vice-presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia. Concorre à Previ após concluir duas gestões como diretor da Cassi – a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, também eleito por estes para gerir o seu sistema de assistência de saúde.
Enquanto Lessivan dava esta entrevista ao Vermelho, foi informado por telefone dos resultados de uma parcial da eleição que renova parte da direção da Cassi. Os números apontavam uma vitória da chapa articulada por Camilo, com 48,7% dos votos apurados. O entrevistado anotou, pediu “um momento”, para “assimilar” a má notícia. Trocou dois comentários com os companheiros de campanha que assistiam; e seguiu adiante. Filho de funcionário do BB, casado com uma funcionária do BB, e pai de funcionário do BB, ele sabe que há os interesses de uma categoria a defender.
Da redação,
Bernardo Joffily