Herrera: Reeleição de Lula é estratégica para região

“O Brasil não é só Brasil. É América do Sul”. Esse é o recado do tenente-coronel Héctor Herrera, presidente da Frente Cívico Militar da Venezuela, para quem uma possível vitória da direita representa uma

Herrera, que esteve em Recife participando do 2º Fórum Social Brasileiro (FSB), visitou a redação do Vermelho na última terça-feira (25) quando conversou com os jornalistas da equipe. No encontro, o tenente-coronel venezuelano alerta que sob “um governo títere, Bush poderia colocar grupos militares lá em Roraima para proteger a Amazônia. Então ficaríamos cercados com a Colômbia, Roraima e Curaçao”, há 50 quilômetros da costa venezuelana, onde mais de 40 mil marines estão fazendo exercícios no porta-aviões George Washington.

“É importante que um governo progressista como o de Lula permaneça com todas suas forças. Votem por Lula! Por isso, em Curitiba, Chávez disse aos sem terra ‘se querem a mim, votem em Lula’”, reafirmou.

Para o dirigente militar, agora é a hora de Lula jogar duro contra a ofensiva da direita brasileira. Definir os campos: "dizer para onde vai, o que quer e o que vai fazer". E o mais importante: "radicalizar". “Isso vai fazê-lo ganhar inimigos, claro. Mas vai fazer ganhar muitos amigos. Muitos brasileiros que vão votar nele”, garantiu. 

“Nós somos um comando de campanha de Lula! Porque acreditamos que é importante que ele ganhe um segundo mandato. Sei que cometeu muitos erros e lamentamos muito isso. Mas na Venezuela também se cometeu. A vitória da direita aqui seria uma derrota para a tendência progressista que avança na América do Sul”, avaliou.

Incongruências

Herrera ressaltou que este é o momento em que os países não podem seguir a cartilha neoliberal que vai justamente na contramão das políticas que vêem avançando no continente. E criticou o governo brasileiro: “Não pode, por exemplo, o Brasil, governado por um governo de tendência de esquerda com uma política de mercado e neoliberal. Não estamos de acordo com isso. É uma incongruência. Isso tem que ser que revisto. Mas acreditamos no Mercosul e apostamos todas nossas fichas. O Brasil para nós é o nosso norte”.

Pra o tenente-coronel, falta ao Brasil compreender seu papel nesse contexto latino-americano. “Vocês são América do Sul. Não só Brasil. É uma influência muito grande para a América do Sul e nós queremos que vocês sejam a referência. Porque é grande, um poder econômico mundial, mais desenvolvido tecnologicamente. Para nós alcançarmos vocês faltam muitos anos. Porque nós conjunturalmente temos muito dinheiro pelo petróleo, mas isso não dura a vida toda”, disse.

O dirigente bolivariano destacou também a importância da rearticulação dos movimentos sociais e dos partidos da base aliada neste momento. “Gostei muito de ver os três presidentes dos partidos em Recife. Apoios críticos, mas apoios. A intelectualidade que vi, vários professores universitários com duras críticas a Lula. Mas vêem que se Lula não continuar, será um retrocesso grande contra o processo progressista aqui”.

Há quase dez dias no Brasil, o dirigente percebeu que “há muita consciência entre as pessoas de que o presidente não pode governar para as grandes oligarquias, que tem que ser um governo popular. Não populista, mas popular. E se quiserem pôr o nome populista, então que ponham. Se é tirar as nossas riquezas e dar aos pobres, por que não compartilhá-la?”, disse.

Guerra midiática

Mas Herrera aponta folhas na estratégia comunicacional do governo Lula. “Eu comprei uns jornais aqui e ninguém fala bem de Lula. Não existe confrontação. No segundo mandato, acho que vocês deviam pensar seriamente em ter um jornal nacional”, sugeriu. Em abril de 2002, o governo Chávez sofreu um golpe de Estado orquestrado midiaticamente. Desde o regresso do presidente constitucional ao poder, a Revolução Bolivariana passou a estudar e investir diretamente numa ampla estratégia de comunicação.

“Nós já conseguimos avançar nesse tema, depois de sete anos de governo. Temos três emissoras de televisão nacional. E antes não tínhamos nenhuma. Agora, há quatro jornais impressos nacionais com tiragem enorme. E temos muitos também regionais. Mas acho que o mais importante são as rádios e tevês comunitárias”, conta. Segundo o dirigente, o governo fez um programa agressivo de liberação de licenças e financiamento a produtores independentes. “Isso foi extraordinário para drenar informação e criar consciência”.

CAN e Mercosul
O tenente-coronel também explicou a recente saída da Venezuela da Comunidade Andina de Nações (CAN), anunciada semana passada devido à assinatura de tratados de livre comércio (TCL) com os Estados Unidos por parte de países membros. “O pacto andino está agonizando a morte, porque os presidentes lacaios ao imperialismo venderam a alma do seu povo ao diabo”. A Colômbia e o Peru já assinaram. O Equador paralisou as negociações depois de uma grande pressão popular.

Herrera explicou que o objetivo da Venezuela era pressionar a revisão da assinatura dos TLCs, mas também que “formemos um grande Mercosul, com mais países e transformado”. Para a Venezuela, o Mercosul deve promover maior integração sul-americana e diminuir a dependência tecnológica, “servindo à união dos países não só no comercial, mas no social, no político e no militar. Se baseando não só em leis de mercado, mas na solidariedade, na complementaridade e na integração”.

Outra contribuição nesse sentido virá da vitória de Humala, que Herrera dá como certa. “Vão fazer muitas trapaças para que não ganhe. Fizeram bastante com Evo Morales e conosco também. Mas o povo está decidido”. Para o tenente-coronel, a vitória de Humala terá peso significativo para o fortalecimento da integração e da Comunidade Andina de Nações. “Uma equipe progressista no Peru e no Equador revitaliza a CAN porque sabemos que vão deixar para trás os TLCs, que só a Colômbia terá e enquanto Uribe continuar ali”.

Parcerias

No mesmo dia, o tenente-coronel venezuelano manteve ainda um encontro com dirigentes do Instituto Maurício Grabois (IMG) e da Fundação Perseu Abramo, em que acordaram a organização de dois encontros sobre o socialismo do século 21. Um em Caracas e outro em São Paulo. Os eventos ainda não têm data marcada. Mas, segundo Herrera, já está acertado que, ao final, será publicado um livro que tratará da discussão.

Na próxima sexta-feira (28), às 20h, o dirigente participará do debate "A revolução Bolivariana e as eleições deste ano na Venezuela", que acontecerá na sede nacional do PT (Rua Silveira Martins, 132. Centro de São Paulo). A atividade está sendo promovida pelo IMG e pela Fundação Perseu Abramo.

Da Redação,
Mônica Simioni