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PCdoB em tempo de vôos bem mais altos

O maior periódico de Pernambuco, Jornal do Commercio, publicou, no último domingo uma matéria em que procura traçar um perfil do atual momento vivido pelo PCdoB, destacando o crescimento que o partido vem obtendo nos últimos anos. Repro

Aos 84 anos – e no seu mais longo período de legalidade –, legenda vive um dos seus melhores momentos e arma planejamento para crescer em todo o País. É, hoje, um forte aliado de Lula

César Rocha
Correspondente

BRASÍLIA – O Partido Comunista do Brasil disputará as eleições deste ano com o entusiasmo febril de um adolescente. É quase tudo novo nessa campanha. Pela primeira vez participa de uma corrida presidencial na condição de membro do governo – ocupa hoje o Ministério do Esporte e marcha com o presidente Lula na reeleição. Vai às urnas ao mesmo tempo em que preside a Câmara dos Deputados e administra uma capital, Aracaju. Não é pouco. O PCdoB não vivia fase tão positiva desde a década de 1940, quando elegeu alguns dos mais bem votados parlamentares do País, entre eles Luiz Carlos Prestes, Jorge Amado e Gregório Bezerra – grupo tão numeroso e forte que acabou cassado e com o partido banido da política nacional.

Vivendo seu mais longo período de legalidade, iniciado em 1985, o PCdoB decidiu mudar aos 84 anos. Quer crescer, ser visto, ouvido, tornar-se alternativa de poder. E se lançou num movimento nacional para conquistar espaços majoritários: deseja cargos de governador, vice e senador. Partiu para um plano ousado, como mostra esta reportagem do Jornal do Commercio, a segunda de uma série que pretende, sempre aos domingos, fazer uma radiografia dos principais partidos políticos que concorrerão nas eleições gerais de outubro.

Minúsculo, com apenas 12 deputados federais – a 11ª bancada na Câmara – e um senador, o PCdoB resolveu arriscar a reeleição de parte desses parlamentares para concorrer na majoritária como nunca fez em sua história. Sonha em conquistar dois governos estaduais – Distrito Federal e Tocantins –, mais duas vagas no Senado, além de ampliar para cerca de 20 as cadeiras na Câmara dos Deputados e multiplicar os espaços nas Assembléias Legislativas.

“Até agora vínhamos adotando uma tática de sobrevivência. Queremos aprofundar a disputa nesse espaço majoritário, que nos permite colocar a posição do partido para a sociedade como um todo”, explica o deputado federal Renildo Calheiros (PE), vice-presidente nacional da legenda. Duas razões, diz ele, levaram os comunistas a aumentar a medida de seus passos. Primeiro, os bons resultados obtidos na última eleição municipal. O PCdoB saiu dela com a reeleição de Luciana Santos em Olinda e a conquista de mais 12 prefeituras. Obteve ainda 22 vagas de vice, entre elas a de Aracaju, cujo comando foi assumido definitivamente por Edvaldo Nogueira, no final de março, com a renúncia do petista Marcelo Déda, que disputará o governo de Sergipe.

A outra razão para esse ânimo novo do partido é o ambiente político nacional. A chegada da esquerda e do presidente Lula ao poder, na avaliação do PCdoB, criou um clima favorável à legenda e ao fim dos preconceitos em relação aos comunistas. Também deu visibilidade e orçamento ao partido. No auge dos últimos três anos, eles chegaram a ter dois ministros no governo: Aldo Rebelo na Articulação Política e Agnelo Queiroz no Esporte.

No caso de Rebelo, o cargo criou as condições para que, do Palácio do Planalto, seguisse quase direto à presidência da Câmara, onde fica até o início de 2007. Graças à visibilidade que tem no Congresso, Aldo está cotado agora para a disputa majoritária em São Paulo. Poderá ser lançado ao Senado como forma de ajudar Lula e os petistas na guerra com o ex-prefeito José Serra (PSDB), franco favorito ao governo do Estado (ver quadro nesta página).
O Esporte anabolizou também o nome de Agnelo. Há três semanas, ele deixou o ministério para se lançar ao governo do Distrito Federal. Com o apoio de Lula, está prestes a conseguir unir em torno dele as oposições ao ex-governador Joaquim Roriz (PMDB), que renunciou em março para concorrer ao Senado. Pode chegar em outubro com um frente ampla reunindo desde o PT e o PSB ao PDT do senador Cristovam Buarque, ex-governador do DF.

Os exemplos de Aldo e Agnelo sintetizam o salto que o PCdoB pode dar a partir deste ano. Nas prefeituras e ministérios, o partido aumentou seu estoque de experiência administrativa. Apenas os orçamentos do Esporte, Aracaju e Olinda, juntos, chegam a mais de R$ 1,6 bilhão anual. Os cargos e a disputa majoritária também ampliam o capital político. Lideranças como o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, candidato a senador na chapa do ex-ministro Humberto Costa (PT), em Pernambuco, ganharão musculatura para outras disputas no futuro, mesmo que percam agora. Siqueira, ainda que derrotado pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), ficará forte para concorrer à sucessão do prefeito João Paulo (PT), em 2008.

Atentos a isso, os comunistas já estão aquecendo outros siqueiras em todo o País para entrar no jogo dos grandes da política brasileira.