Rei do Nepal recua e acata exigências da oposição

O rei Gyanendra, do Nepal, anunciou na noite desta segunda-feira (24) o que desta vez parece ser um recuo de fato, depois de 19 dias de rebelião no país. Ele disse que agora aceita a restauração do Parlamento que dissolveu em 20

A coalizão é formada por sete partidos (daí a sigla SPA, Aliança dos Sete Partidos em inglês) e entrou em negociação com os guerrilheiros maoístas em luta contra o rei desde 1996. "É apenas um primeiro passo e devemos daqui por diante avançar prudentemente para construir um novo Nepal", comentou Jhalanat Khanal, líder de uma das sete agremiações, o Partido Marxista-Leninista Unificado do Nepal.

"Pedimos à Aliança dos Sete Partidos que assuma a responsabilidade de conduzir o país pela via da unidade nacional e da prosperidade", declarou Gyanendra na tevê nepalesa, em tom bem diferente do usado dois dias antes, numa declaração rechaçada pelos oposicionistas. Com a nova atitude do monarca, pode se transformar em festa nacional a manifestação convocada para esta terça-feira, onde já se previa a presença de 2 milhões de pessoas.

"Por meio desta declaração", disse o monarca, "reestabelecemos a Câmara de Representantes que foi dissolvida em 22 de maio de 2002". O Parlamento se reunirá já na quinta-feira. Ele também apoiou a convocação da Constituinte, pedra de toque das reivindicações populares. Disse que aceita o "mapa docaminho", de 12 pontos, formulado pela PSA. 

O rei também expressou condolências pelas "vidas perdidas" durante as cenas de repressão policial-militar dos últimos 19 dias. Pelo menos 14 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Ontem mesmo, a ação repressiva deixou um saldo de 33 feridos.

Fracasso monárquico

Com a declaração de segunda-feira, conclui-se a tentativa monárquica que teve início no primeiro dia de fevereiro, para restabelecer poderes absolutos (a monarquia nepalesa, encravada no Himalaia, entre a Índia e a China, e com 26 milhões de habitantes, só conheceu uma Constituição em 1959). Foi um fracasso. Resta saber se o recuo chega a tempo para salvar a coroa.

O recuo foi visto como uma tentativa de conservar o regime monárquico, mesmo com poderes limitados. Mas o espanhol Mariano Ernesto Abello escrevia ontem, de Katmandu, que "à medida que os dias passam, as exigências dos cidadãos crescem (muito mais que as dos políticos). Pouquíssimos concordam ainda com uma monarquia cerimonial. O que exigem agora é principalmente que o rei Gyanendra abandone o poder e se vá, e que se instale a República".

Com agências e