Conferência no Fórum Social Brasileiro declara apoio a Lula

O 2º Fórum Social Brasileiro (FSB) teve na tarde deste sábado (22/04), em Recife (PE), a sua maior atividade autogestionada. Trata-se da conferência “Por uma Nova Vitória das Forças Progressivas no Brasil — Fator Decisivo par

Ao declarar apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, as entidades e os partidos políticos presentes à conferência reafirmaram seu compromisso com um governo de esquerda, de base popular e viés progressista. Mesmo se obtiver a reeleição, Lula precisará ainda mais dos movimentos sociais para consolidar sua plataforma de mudanças. Apesar de liderar as pesquisas de intenção de voto, o presidente sofre bombardeios diuturnos da mídia, da grande burguesia, das oligarquias políticas e de outras poderosas forças contrárias à soberania do povo brasileiro.

Do outro lado do combate, seduzido pela coleira de tais forças e adestrado pela Opus Dei, está Geraldo Alckmin. É a personificação mais atualizada do retrocesso político e social no Brasil. Para impedir o retorno da direita neoliberal ao poder, é necessário formar uma coalizão ampla e democrática, levando em conta as mais diversas aspirações populares. É nesse duro quadro político — e momentaneamente eleitoral — que a conferência deste sábado tem seu maior valor.

Coube a Flávio Jorge, da Fundação Perseu Abramo, apresentar os convidados, enquanto Adalberto Monteiro, do Instituto Maurício Grabois, proferiu o discurso de abertura. “Que este debate — que este Fórum Social Brasileiro — contribua para forjar uma ampla frente partidária e dos movimentos para barrar o retorno da direita e avançar nas mudanças”, declarou. Os trabalhos, na seqüência, foram mediados pela prefeita de Olinda, Luciana Santos, e pelo vice-prefeito de Recife, Luciano Siqueira.

Cumprindo agenda política em outras cidades, o sociólogo Emir Sader e o prefeito de Recife, João Paulo, não puderam participar, embora fossem convidados. Sem eles, a mesa de debates foi composta pelos seguintes líderes:

–   Renato Rabelo (presidente nacional do PCdoB);

–   Humberto Costa (ex-ministro da Saúde e candidato ao governo pernambucano);

–   Eduardo Campos (presidente nacional do PSB);

–   Tânia Bacelar (economista e socióloga da Universidade Federal do Pernambuco);

–   Héctor Herrera Jiménez (tenente-coronel venezuelano; membro da Frente Cívico Militar Bolivariana);

–   François Houtart (sacerdote e sociólogo belga; presidente do Fórum Mundial das Alternativas);

–   Gustavo Petta (presidente da UNE);

–   João Felício (presidente nacional da CUT). 

Primeira convidada a discursar, Luciana Santos elogiou a atividade. “A terra de Frei Caneca está animada com esse empenho do povo para transformar o Brasil”, afirmou. Para Eduardo Campos, a eleição de Lula em 2002 indicou a importância do “acúmulo de forças” e “o esgotamento do modelo neoliberal”. Num segundo mandato, porém, as expectativas mudam. “Os primeiros quatro anos são de transição. Agora a etapa é outra”, disse o presidente do PSB. “Precisamos de uma nova Carta aos Brasileiros, visando à integração social e regional do Brasil.”

Humberto Costa lembrou o êxito dos programas sociais do governo Lula, como o Fundeb, o ProUni, o Bolsa Família e a Farmácia Popular. Também enfatizou o papel de resistência do Brasil frente às investidas imperialistas. “O presidente Lula jamais vacilou na percepção de que a Alca é perniciosa”, disse o ex-ministro.

Contra a recolonização –
Para Renato Rabelo, o Brasil vive mais uma encruzilhada política com significado histórico. O presidente associou a sanha maldita das elites de hoje com o radicalismo da antiga UDN (União Democrática Nacional). “Uma vitória dos tucanos — “as velhas oligarquias travestidas de modernas” — representaria a recolonização de um Brasil onde as elites seriam intermediárias dos interesses americanos”, afirmou o presidente do PCdoB.

Ecoando o discurso que fez no 6° Encontro Nacional da Corrente Sindical Classista (CSC), Rabelo comparou os três principais presidentes estadistas da História do Brasil: “Ao demolir a República Velha e apresentar um projeto de nação, Getúlio Vargas efetuou a unificação dos estados. Juscelino Kubitschek, sobretudo com Brasília, tratou da integração física do Brasil. Agora Lula se projeta como o responsável pela integração continental”.

O tenente-coronel Héctor Herrera Jiménez transmitiu aos brasileiros votos de saudação de Hugo Chávez e pediu um “Mercosul maior e mais forte”. “Não há revolução sem povo, e o Brasil é o país mais poderoso do continente. Precisamos nos unir política e economicamente, não baixando nossa cabeça para Bush”, disse Jiménez. Opinião semelhante tem Tânia Bacelar, que falou em seguida. De acordo com ela, “o Brasil começa a olhar para trás, buscando a consciência de seu pertencimento à América Latina”.

Gustavo Petta, em nome da juventude, e João Felício, representando os trabalhadores, disseram que declarar apoio a Lula não quer dizer subserviência cega. “A gente deve se unir sem adesismo acrítico nem oportunismo. Somos colaboradores do governo”, disse Petta. “Acharam que a eleição de 2002 foi um bom exemplo de luta de classes. Luta mesmo é neste ano de 2006, e devemos ter clara nossa posição, ao lado de Lula”.

O 2o Fórum Social Brasileiro termina neste domingo, com destaque para a Plenária dos Movimentos Sociais. O ato deve unificar diversas pautas de reivindicações.

Por André Cintra,
enviado especial a Recife (PE)