Rei do Nepal promete restaurar poder ao povo

O rei Gyanendra do Nepal disse finalmente nesta sexta-feira, após semanas de violentos protestos antimonárquicos, que vai devolver o poder político ao povo. Pelo menos 12 pessoas morreram e centenas ficaram feridas em ações policiais contra

O rei tentou atenuar a crise na sexta-feira, anunciando em pronunciamento nacional que dará à aliança a autoridade de escolher o primeiro-ministro. "O Poder Executivo do Reino do Nepal, que estava sob a nossa salvaguarda, deve a partir de hoje ser devolvido ao povo", disse Gyanendra, com aspecto sério, usando um barrete típico e paletó preto.

"Pedimos à aliança de sete partidos que recomende o nome para o posto de primeiro-ministro assim que possível, para a formação de um conselho de ministros, que terá a responsabilidade de governar o país de acordo com a Constituição". Aparentemente, o rei descarta qualquer reforma para diminuir os próprios poderes, o que é uma das principais exigências dos partidos, que também pedem a eleição de uma Assembléia Constituinte para promover tais reformas. Os partidos devem se manifestar oficialmente de forma conjunta, possivelmente amanhã, sábado.

Gyanendra demitiu o governo e assumiu poderes absolutos em fevereiro de 2005, prometendo esmagar uma década de rebelião maoísta, que provocou 13 mil mortes.

Os rebeldes maoístas, que têm uma aliança informal com os sete partidos coligados, insistem na convocação de uma Constituinte para aderir formalmente ao bloco.

Gyanendra assumiu o trono em 2001, quando seu irmão mais velho, Birendra, foi morto pelo próprio filho, o príncipe Dipendra. O atual rei sofre enorme pressão internacional para restaurar a democracia. A União Européia e a vizinha Índia elogiaram a promessa de abertura. Falando às agências de notícia internacionais, apenas duas horas antes do anúncio, o embaixador norte-americano em Kathmandu, James Moriarty, disse que o rei não teria escolha senão ceder às exigências dos partidos. "Se não, acho que a monarquia não vai durar e veremos uma revolução dentro do Nepal".

Na sexta-feira, manifestantes queimaram pneus e bloquearam ruas da capital, onde foi imposto toque de recolher para impedir uma passeata na direção do palácio real.

Membros da oposição tentaram também coibir a movimentação de tropas e policiais, e havia colunas de fumaça erguendo-se de vários pontos da cidade, de 1,5 milhão de habitantes. Um escritório tributário foi queimado nos arredores de Kathmandu, e houve confrontos entre manifestantes e policiais em outras áreas. Não há relatos de vítimas graves na sexta-feira.

O toque de recolher começou às 9h (0h15 em Brasília) e seria mantido até 0h (15h15), mas só está sendo observado no perímetro urbano. No anel viário ao redor da capital, dezenas de milhares de pessoas fizeram uma passeata, agitando bandeiras e exigindo que o rei deixe o país.

Tropas de choque com armas automáticas e veículos blindados ocuparam os principais cruzamentos para impedir que os manifestantes chegassem ao palácio. Na quinta-feira, a polícia abriu fogo contra dezenas de milhares de manifestantes que tentavam entrar na cidade. Pelo menos três pessoas morreram e cem ficaram feridas.

Muitos nepaleses se disseram contentes com o anúncio real. "O rei deu tudo o que podia", disse Bobby Singh, piloto da Royal Nepal Airlines. "Agora a bola está na quadra da aliança de sete partidos". A influente militante feminista Prabha Thakar disse que o rei deu "a melhor notícia em muito tempo". "Não é um tudo ou nada, mas, a esta altura, acho que definitivamente há uma luz no fim do túnel."

Da Redação
Com agências