Carajás, 10 anos: No palco do massacre, sem-terra encerram acampamento

Um grande acampamento pedagógico no Pará, iniciado em 1º de abril pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), evoca o massacre de Eldorado dos Carajás (PA). O evento se encerra neste dia 17, quando se completam dez anos do massacre &mdas

O acampamento está montado na curva do “S”, na rodovia PA-150, entre os municípios paraenses de Curionópolis e Eldorado dos Carajás. Cada barraca leva o nome de um dos sem-terra assassinados. De acordo com o MST, há atividades como produção de óleos e sabonetes, jogos, capoeira e reciclagem, além de plenárias e debates sobre saúde, higiene e DST. Os participantes acompanham notícias pela rádio Resistência FM e podem utilizar a escola e a biblioteca instaladas no local.

O ato de encerramento pedirá a punição dos responsáveis pelo massacre. Espera-se um público de 20 mil pessoas. Artistas e autoridades devem prestigiar a atividade. Para reforçar a passagem dos dez anos do massacre, a exposição Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado, está percorrendo as cidades de Parauapebas, Eldorado dos Carajás, Marabá e Belém. Outros estados também promovem eventos.

Confira nota sobre o massacre, divulgada pelo MST:

Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados por policiais militares no chamado massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Nesse dia, três mil famílias sem-terra ocuparam a rodovia PA-150 para exigir ação urgente do Incra na desapropriação de um latifúndio improdutivo onde o MST montou o acampamento Macaxeira.

No entanto, as famílias foram cercadas por duas tropas de militares que abriram fogo contra eles, a fim de cumprir a ordem do governo do estado de “desobstruir a pista a qualquer custo”.

Dez anos após o massacre, a única conclusão a que se chegou foi a impunidade dos 155 soldados envolvidos no caso. O governo do estado nem chegou a ser indiciado. Até agora, três julgamentos já foram realizados.

Os dois comandantes responsáveis pela operação (coronel Pantoja e major Oliveira), apesar de serem os únicos condenados, aguardam em liberdade o julgamento de recursos no Supremo Tribunal de Justiça. Além dos 19 mortos no massacre, mais três pessoas morreram posteriormente em decorrência dos ferimentos, totalizando 22 mortos. Sem contar os estão para sempre marcados, tanto física como psicologicamente pela violência.

A chacina é um marco na luta pela terra, não só pela crueldade dos fatos, mas também pela grande repercussão internacional, já que as cenas do crime foram gravadas e divulgadas por uma emissora de televisão local. Em homenagem aos mártires dessa violência, a Via Campesina (organização internacional que reúne centenas de movimentos sociais, inclusive o MST) declarou o 17 de abril como o Dia Internacional da Luta Camponesa. Em 2002, o governo brasileiro assinou um decreto — de autoria da então senadora Marina Silva — estabelecendo a data como Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.