Queda da Selic pode levar juros aos patamares de 2004

A taxa básica de juros (Selic) será reduzida para o menor patamar desde dezembro de 2004. As expectativas do mercado financeiro são de que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic em 0,75 ponto percentual, dos atuais 16,5% para 15

A taxa básica de juros (Selic) será reduzida para o menor patamar desde dezembro de 2004. As expectativas do mercado financeiro são de que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic em 0,75 ponto percentual, dos atuais 16,5% para 15,75% ao ano. A terceira reunião do ano inicia amanhã e termina na quarta-feira. A análise é de que a inflação, medida pelo IPCA, está convergindo para a meta de 4,5% para este ano e a atividade econômica não está tão fraca, o que possibilita o gradualismo.

"Os índices de preços de março confirmaram o caráter temporário das pressões do início do ano, reforçando o cenário favorável para a inflação nos próximos meses. Com o forte recuo dos preços dos alimentos no atacado e a sazonalidade favorável para o preços do álcool daqui para a frente, a inflação do 2o trimestre deve ser significativamente menor do que a inflação dos primeiros meses do ano", ressalta a economista do Banco Fibra, Maristella Ansanelli.

As expectativas de mercado já refletem o cenário mais benigno, com projeções para 2006 abaixo da meta de 4,5% e recuo consistente das projeções para a inflação dos próximos 12 meses, que atingiram 4,2% na última semana.

A atividade econômica também trouxe boas notícias, voltando a dar sinais de recuperação no ano, com a produção industrial sendo puxada pelo maior dinamismo do consumo, especialmente afetado pela política fiscal menos restritiva. Partindo de um nível de utilização da capacidade instalada da indústria relativamente baixo, 2006 deve ser marcado por maior crescimento e menor inflação. Assim, o Copom tem espaço para continuar o ritmo de corte de juros. "Mantemos nossa expectativa de 14% no final do ano, mas com viés de baixa", prevê a equipe do banco Bradesco.

O economista do Santander, Constantin Jancso, que aguardava uma redução de 1 ponto na reunião passada, agora prevê um novo corte de 0,75 ponto. "O discurso do BC sobre política monetária está muito claro. A inflação está se comportando bem, mas a atividade econômica também. A aversão ao risco por parte dos estrangeiros está maior", observa. Jancso lembra que a Selic está se aproximando de um patamar inédito. "Estamos entrando em um território novo, onde ainda não se sabe como a economia brasileira vai reagir. A atividade está bem e não precisa de um corte maior", analisa.

Outra questão ponderada pelos economistas é o lado político. O economista do Fator, Vladimir Caramaschi do Vale, acredita na redução de 0,75 ponto. Na análise, ele considera a troca do ministro da Fazenda como um dos pontos que levam ao conservadorismo do BC. Para o economista da Austin Ratings, Alex Agostini, haveria condições de queda de 1 ponto percentual na Selic. "O Mantega precisa provar credibilidade. Este é mais um teste. A decisão está mais relacionada à credibilidade do que às questões técnicas", explica.

No ambiente internacional o risco aumentou diante da volatilidade nas últimas semanas, com elevação das taxas de juros internacionais e novo aumento dos preços de commodities. Houve movimentos substanciais de moedas em algumas economias, mas a expectativa para o crescimento mundial foi elevada, com a consolidação da recuperação da Zona do Euro e Japão.

Em relação aos Estados Unidos, o crescimento acima do esperado nos últimos meses tem levantado temores sobre o rumo da política monetária. "O Brasil nos parece bem posicionado para enfrentar um ambiente internacional um pouco menos favorável: superávit em conta corrente, diferencial de juros interno e externo alto e reduzida necessidade de financiamento externo", explica a equipe econômica do Bradesco.
No cenário doméstico, houve aumento da volatilidade dos mercados financeiros, em parte por conta do ambiente internacional, em parte devido aos eventos do lado político. "Esse movimento foi modesto e não modifica o cenário para a inflação, para a atividade e, portanto, para a trajetória da taxa de juros", diz o relatório do Bradesco.
 
Fonte: Jornal do Comércio