Diversidade temática marca 11º Coneb

Ao longo da tarde desta sexta, cerca de 4 mil jovens se dividiram para assistir os debates propostos pela UNE. Os temas, que foram da defesa da Amazônia à reforma agrária, garantiram debates ricos e acalorados. Nomes como Aziz Ab’ Saber

O estudante mineiro de História começava a discorrer sobre sua tese – de que Aécio Neves seria a reencarnação de Tiradentes – quando o geógrafo Aziz Ab’Saber descia cuidadosamente a escadaria do auditório CB1, da Unicamp. Tinha início ali os debates da campanha A Amazônia é do Brasil!, que teve ainda a presença do deputado federal pelo PCdoB/AM, Eron Bezerra. Na tarde de sexta-feira (14), cerca de 4 mil jovens dividiam suas atenções em mais de uma dezena de atividades que aconteciam paralelamente no campus da universidade.
 
Aos 82 anos, Ab’Saber começou sua apresentação falando sobre sua experiência de vida e seu conhecimento sobre a Amazônia. Respeitado por amplos setores da sociedade, o geógrafo tratou dos malefícios que a construção de estradas na região amazônica ocasionou para a sobrevivência da floresta. O ponto de partida, segundo Ab’Saber, foi a construção da Belém-Brasília no final dos anos 50 pelo presidente Juscelino Kubitschek. Para ele, é importante concatenar a implementação de estradas com a preservação do entorno. Ele alertou ainda para o grande interesse que a Amazônia sempre despertou nos países imperialistas. “Os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia. Lá está tudo o que os Estados Unidos querem. É urgente atentarmos para isso”.
 
Em seguida, o deputado comunista e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Assuntos Amazônicos da Assembléia Legislativa do Amazonas, Eron Bezerra, apresentou um relato sobre a situação da Amazônia, denunciando as ações que, ao longo de décadas, vêm tentando fazer da floresta um patrimônio à disposição dos interesses hegemonistas. Ele lembrou que a floresta amazônica concentra 20% da água doce do planeta, tem 7,8 milhões de quilômetros de extensão dos quais 5,5 milhões estão no território brasileiro, integra nove países e nela são faladas cerca de 250 línguas diferentes.  “A Amazônia guarda em si os dois grandes pressupostos necessários para a vida: água e calor. Ela é o último espaço vital do Planeta e por isso é alvo de cobiça permanente”, disse.
 
O deputado discorreu inda sobre as três teses que dividem os discursos sobre o uso da Amazônia. A primeira, chamada por Eron Bezerra de “teoria do desenvolvimento”, é a base para aqueles que acreditam que o território amazônico deve se desenvolver independente da preservação ambiental. É o ponto de vista comum de latifundiários e fazendeiros locais, preocupados com seus próprios lucros. A segunda visão caracteriza a Amazônia como um santuário que deve ser preservado a qualquer custo. Neste caso, ignora-se a necessidade de sobrevivência das populações locais. Além disso, é um discurso que considera a floresta um patrimônio da humanidade. “Isso, na prática, significa abrir mão de nossa soberania. Os norte-americanos, por exemplo, defendem que a Amazônia só está em território brasileiro por um acidente geográfico porque na verdade, para eles, ela seria da humanidade”, denunciou. A terceira tese, defendida por setores progressistas, propõe o desenvolvimento sustentado da floresta com soberania. Dessa forma, seria possível preservar e, ao mesmo tempo, oferecer maneiras das populações sobreviverem. “Conscientizar a juventude neste sentido tem sido um dos grandes méritos da UNE”, lembrou.
 
Traçando um breve histórico, Eron Bezerra recordou alguns momentos em que a floresta sofreu ações visando seu controle por países hegemônicos. Em 1927, acordos com Washington determinava que os empréstimos para o Brasil estariam condicionados à obtenção de grandes extensões de terras amazônicas pelos Estados Unidos. Em 1945, outra tentativa de “aquisição” da Amazônia: a implantação do instituto Hiléia Amazônica, um organismo supranacional que teria o papel de gerir a floresta e no qual o Brasil teria direito a apenas um assento. Hoje, lei recém-aprovada possibilita o arrendamento de floretas por empresas nacionais ou estrangeiras, um assalto ao patrimônio brasileiro. “O imperialismo, como vocês puderam ver, nunca desistiu de se apropriar da Amazônia”.
 
 

Vozes da América

Em outro fórum de discussão, centenas de jovens lotaram o auditório 2 do ginásio da Unicamp para participar do debate A América Latina se levanta. Em pauta, os diversos movimentos progressistas que vêm crescendo no continente e que teve como marco a eleição de Hugo Chávez na Venezuela. O processo, marcado ainda pela eleição de lideranças como Lula e Evo Morales, tem unido os povos latino-americanos contra os desmandos dos Estados Unidos. Para o evento, estavam previstas as participações de Diego Marin (Aceu – Colômbia), Samuel Pinheiro Guimarães, secretário geral de Relações Exteriores, Valter Pomar, o deputado federal do PSol, Babá e Ronaldo Carmona, do Cebrapaz, que falou, entre outras coisas, sobre o terrorismo que a direita faz contra a onda progressista latino-americana.

 

“Há um conjunto de sinais deste movimento que indicam para a vitória das forças democráticas. As formas de luta assumem características diferentes em cada país, mas há o traço comum da participação popular ao lado de forças de esquerda na luta contra o imperialismo. São países que querem interromper de vez os processos de intervenção e se unem pela integração latino-americana”. Lembrando as palavras de Celso Furtado, Carmona salientou que tudo que cheira a povo é taxado,  pela direita, de populismo. “A América Latina está se tornando um pólo de oposição ao imperialismo e se as forças conservadoras ganharem as próximas eleições, há um grande risco de retrocesso nesse quadro devido a importância que o país tem no continente”, finalizou.

 

Enquanto isso, em outros espaços da Unicamp, centenas de jovens participavam de fóruns variados. Debates como O papel dos movimentos sociais na construção de um projeto nacional; Avaliação e mercantilização da educação; Educação e reforma universitária, Um novo olhar sobre as políticas públicas para a cultura, Políticas Públicas de Esporte; A luta pela reforma agrária, entre outros, ocuparam a tarde dos participantes do Coneb. O evento termina domingo, com a realização da plenária final.

 

De Campinas,

Priscila Lobregatte