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Coneb discute TV digital e democratização da comunicação

A tarde do segundo dia do 11º Coneb foi pautada por temas variados, entre eles a ampliação do uso da comunicação por setores variados da sociedade e o sistema de televisão digital, temas candentes da atualidad

A democratização da comunicação foi um dos debates que marcaram a tarde deste sábado no 11º Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE, em Campinas. Interessados em debater maneiras de fazer dos meios de comunicação um instrumento real da sociedade, dezenas de jovens de áreas variadas lotaram um dos auditórios da Unicamp para assistir a mesa formada por Rafael Evangelista, do projeto Intervozes e Jonas Valente, da Agência Carta Maior.
 
Ao falar sobre o monopólio da tevê brasileira por famílias tradicionais e monopólios regionais, Jonas Valente ressaltou que o Brasil produz anualmente cerca de 45 filmes, dos quais apenas 15 são exibidos. “O país tem produzido um olhar sobre si mesmo que não tem sido mostrado ao povo. Os filmes exibidos na televisão são em geral aqueles produzidos pela Globo Filmes”, disse. E completou que o direito à informação é fundamental para a formação de uma consciência social. “Nossas idéias precisam trafegar com mais liberdade. A lógica do lucro não pode se sobrepor à diversidade de visões” constatou, cobrando também da esquerda um maior envolvimento na discussão.
 
Em conversa com o Vermelho, Valente explicou que o maior entrave para se alcançar a democratização da mídia não está apenas no fato de o poder sobre os meios estar concentrado nas mãos de oito famílias, mas especialmente na construção, ao longo de nossa trajetória como nação, de um sistema deliberadamente monopolista. “Os mesmos grupos que sempre mandaram em seus estados são aqueles que detém o monopólio da comunicação”. Conforme destacou, essas oligarquias se alimentam de uma posição subserviente do Estado aos interesses desses grupos. “Um outro entrave que vejo no cenário atual é que a própria esquerda, que deveria se engajar nesta luta, não se apropriou totalmente desta idéia”. Além disso, lembrou, hoje cerca de 1/3 dos deputados federais possuem canais de televisão, ou seja, “o Legislativo reproduz essa situação”, tornando a resolução do problema um debate ainda mais árduo.
 
A implantação do sistema digital possibilitaria ampliar o uso da radiodifusão e abriria o campo para empresas pequenas, redes comunitárias e universitárias, por exemplo. Isso revolucionaria a concepção da mídia brasileira, totalmente concentrada nas mãos de interesses privados e restrita a grandes empresas, daí a relevância de se discutir esse novo formato.
 
Em manifesto assinado por entidades dos movimentos sociais, entre eles a UNE, pede-se, entre outros pontos, que seja feita “uma campanha nacional de esclarecimento público da população, através dos meios de comunicação comerciais e estatais” e destaca que “somente depois de garantido o devido debate democrático sobre tema tão relevante, uma decisão venha ser tomada”.
 
Por conta do envolvimento do movimento social na discussão da tevê digital, o debate tem sido travado em fóruns variados, como o Coneb. “Achava que ninguém ia prestar atenção nesta questão e, no entanto, o que vemos é um grande interesse de vários setores da sociedade. Dessa forma, vamos poder mobilizar cada vez mais gente para esta luta”.
 
Sobre a concepção e utilização de um sistema de tevê digital com tecnologia nacional, Valente lembra que “a tecnologia não é neutra. Ela sempre tem um lado e uma concepção nacional do sistema estaria a serviço do Brasil. Isso ajudaria na questão da diversidade e seria um salto para o campo de Ciência e Tecnologia nacional, uma área que hoje é uma das mais importantes da economia mundial”.
 
Em sua apresentação, Rafael Evangelista lamentou a carência de debate no que tange a democratização da mídia, bem como da introdução do sistema digital. “Tudo isso passou a ser tratado em 1998 e com maior ênfase a partir de 2003 [com o decreto presidencial que instituiu o programa brasileiro de tve digital]. É um debate recente e precisa ser aprofundado antes de se implantar qualquer sistema”, disse. Para ele, as consultas feitas pelo governo sobre o assunto contemplam as empresas da área e não a sociedade. “É preciso que saibamos quais serão os caminhos trilhados pela tevê digital de maneira a beneficiar o nosso povo. A questão não está focada em ser contra ou a favor do uso da tecnologia digital, mas sim mostrar que neste ponto as empresas de comunicação não querem abrir espaço para outros atores da mídia”.