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CPIs gastaram mais de R$ 5 milhões só em consultoria

CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos consomem quase R$ 5 milhões em consultorias. Apesar da gastança desenfreada, nenhuma das três Comissões é bem avaliada pela população, conforme mostrou

CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos consomem quase R$ 5 milhões em consultorias. Apesar da gastança desenfreada, nenhuma das três Comissões é bem avaliada pela população.

Empresas que prestam consultoria às Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) que investigam o desvio de recursos na atual gestão já embolsaram quase R$ 5 milhões dos cofres públicos pelos serviços prestados sem licitação. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), só este ano, o Senado pagou R$ 1,39 milhão às consultorias Villas Rodil, Ernst & Young e Tempo Real Tecnologias de Informação (TRGROUP), pela colaboração nas investigações. Somado aos R$ 3,46 milhões pagos no ano passado, os gastos já chegam a R$ 4,85 milhões.

Das empresas contratadas, até agora, a que mais recebeu dinheiro do governo foi a Ernst & Young. Ao todo, o Senado pagou R$ 2,75 milhões à empresa de auditoria e consultoria pelos serviços prestados à CPI dos Correios. O dinheiro serviu para arcar com a análise de transações feitas pelos fundos de pensão com títulos públicos entre os meses de janeiro e agosto de 2005.

Já a Villas Rodil, que colaborou não só com a CPI dos Correios, mas também com a do Mensalão e a dos Bingos, recebeu R$ 1,55 milhão pelo trabalho. De acordo com informações do Siafi, o dinheiro foi pago pelos serviços de "revisão das movimentações financeiras de pessoas jurídicas e físicas", investigadas pelas CPIs. Foi a Villas Rodil, por exemplo, a responsável pela análise da movimentação financeira das contas bancárias do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como o operador do mensalão.

Também a pedido da CPI dos Correios, o Senado adquiriu o software Analist Notebook, produzido pela empresa americana I2 e também utilizado pelo serviço secreto britânico para detectar transações de lavagem de dinheiro. A nova ferramenta custou, até agora, à União R$ 557,9 mil, pagos à TRGROUP, empresa que fornece o produto no Brasil. Nesse valor estão incluídos, além do software, serviços de consultoria e treinamento para instalação e utilização dos programas e licenciamento do produto. O software permitiu simplificar o cruzamento de bancos de dados referentes a movimentações bancárias e escutas telefônicas analisadas pela comissão.

Para contratar a Ernst & Young e a Villas Rodil sem licitação, o Senado alegou o caráter emergencial do caso, com base no artigo 25 da Lei de Licitações, que dispensa o processo em situações assim classificadas. A TRGROUP, por sua vez, também foi dispensada da licitação por ter sido considerada fornecedora exclusiva do software solicitado pelas CPI.

Atraso das CPIs

Todas as três empresas foram contratadas pelo Senado em novembro do ano passado com o objetivo de agilizar as investigações. Mesmo com a colaboração e com a quantia gasta, as dúvidas persistem, e a origem do dinheiro que alimentou todos os esquemas de corrupção continua sendo uma incógnita.

A CPI dos Correios, que deveria ter terminado no final de 2005, concluiu seus trabalhos apenas esta semana, sem que oposição e governo tenham chegado a um consenso. O relatório final foi aprovado no "tapetão" sem considerar as emendas apresentadas pelos integrantes da Comissão e a maioria das conclusões a que o relator da CPI chegou são baseadas em hipóteses e não em fatos ou provas deocumentais. Já a CPI do Mensalão foi obrigada a encerrar suas investigações no final de 2005, sem sequer ter votado o relatório final e apontado os beneficiários do esquema. A comissão dos Bingos, que deveria encerrar suas atividades no dia 25 de abril, é outra que acabou prorrogada até 24 de junho por uma manobra política da oposição. Conhecida como a CPI do Fim do Mundo, a comissão funcionará como ferramenta dos oposicionistas para alvejar Lula e seu governo até o meio do ano, quando o presidente pretende assumir formalmente a sua condição de candidato à reeleição.

As empresas A Ernst & Young informou por meio de seu assssor de imprensa, Paulo Sadala, que a empresa não está autorizada a fornecer qualquer tipo de informação sobre os serviços prestados às CPIs. Segundo Sadala, o sigilo das informações foi uma determinação feita pelo Senado no contrato.

Por intermédio do departamento de marketing, a TRGROUP informou que é a única representante no Brasil da empresa americana I2 e também a fornecedora exclusiva do software Analist Notebook no país. A empresa informou ainda que o Senado está estudando a prorrogação do contrato de consultoria, no entanto, não quis informar o preço total cobrado pelos serviços. Segundo o departamento, o contrato com o órgão impede a empresa de fornecer maiores detalhes sobre o assunto.

O Contas Abertas entrou em contato também com a sede da Villas Rodil, em São Paulo. No entanto, até o fechamento da matéria, o diretor da empresa Silmar Palumbo não quis comentar o caso.

De acordo com informações do site do Senado, o contrato com a TRGROUP terminou no dia 23 de março. No caso da Ernst & Young e da Villas Rodil, a prestação de serviços se encerra ainda esta semana. A Subsecretaria de Apoio às Comissões Especiais e Parlamentares de Inquérito do Senado informou que os contratos com as três empresas de consultoria não devem ser prorrogados, visto que as CPIs dos Correio e do Mensalão já foram concluídas.

Trabalho das CPIs é reprovado por 62,8% dos eleitores

Apesar da gastança desmedida, a população está bastante insatisfeita com o desempenho das CPIs. Esta insatisfação foi observada na pesquisa do instituto Sensus, divulgada ontem e encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Ao serem perguntados se estavam contentes com a atuação e os resultados das CPIs, 62,8% dos entrevistados disseram que não, contra apenas 20,1% que deram uma resposta positiva à questão. Outros 17,2% não souberam ou não quiseram responder.

Ricardo Guedes, diretor do instituto Sensus, lembrou que há alguns meses, havia uma expectativa muito positiva de que as CPIs poderiam apurar. Mas ele preferiu não interpretar as razões que levaram ao descontentamento da maioria.

A CPI dos Correios encerrou seus trabalhos na semana passada sem conseguir provar a existência do chamado "mensalão", embora o relatório final – duramente contestado – afirme sem provas que o esquema teria ocorrido.   

Já a CPI dos Bingos abriu tanto seu leque de atuação e foi tão partidarizada que acabou rebatizada de "CPI do Fim do Mundo": investiga tudo, menos os bingos.   
Fonte: Contas Abertas  e agências