Crescimento de Alckmin na pesquisa CNT/Sensus é questionável, dizem analistas

A ampla vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida sucessória deste ano foi confirmada nesta terça-feira (11), com a divulgação de mais uma pesquisa CNT/Sensus. Se as eleições fossem hoje, Lula venceria

O jornalista José Roberto de Toledo, especialista em leitura de pesquisas, postou na lista de discussão da Abraji (Associação dos Jornalistas Investigativos) um comentário pertinente sobre o levantamento do Sensus, divulgado hoje. Segundo Toledo: a comparação do resultado atual (abril) com a última pesquisa do instituto (fevereiro) leva a crer que Alckmin está subindo, e Lula, caindo. “Não é verdade. Como já demonstraram Ibope e Datafolha, a diferença entre ambos está mantida no último mês", afirma o jornalista.

A 81ª rodada da pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta terça-feira (11) mostra que Lula tem 37,5% e Alckim, 20,6%. Na pesquisa anterior, eles tinham 42,2% e 17,4%, respectivamente.

José Roberto Toledo explica porque estes números devem ser lidos com cautela: “o que acontece é que a Sensus não fez pesquisa em março. E agora estão comparando fevereiro com abril como se nada tivesse ocorrido no meio do caminho. O problema é que ocorreu".

"Se compararmos a pesquisa Datafolha de 20/21 de fevereiro com a de 6/7 de abril, veremos que a diferença entre Lula e Alckmin foi de 26  pontos percentuais para 20 pontos percentuais. Mas se compararmos a mesma pesquisa de fevereiro com a de março, constataremos uma queda da diferença de 26 pontos percentuais para 19 pp. Ou seja, a queda ocorreu há um mês. A Sensus/CNT é notícia velha. Mais do que isso: induz a erro de interpretação, pois parece que esse movimento está acontecendo agora", diz Toledo.

Denuncismo não atingiu Lula

Outro analista, o cientista político e pesquisador da PUC e FGV de São Paulo, Marco Antonio Carvalho Teixeira, vai na mesma linha.

Segundo Teixeira, apesar da queda de Lula, o presidente continua o candidato mais competitivo dessas eleições e destaca que os escândalos insuflados pela imprensa contra o governo não colaram na imagem de Lula. "A figura de Lula é muito mais forte do que o de sua legenda, ele não depende do PT, mas o partido precisa dele", avaliou.
Para Carvalho Teixeira, o governo foi eficaz para resolver o episódio que envolveu a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. "O Palocci (ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci) foi demitido rapidamente e o custo eleitoral que o caso poderia ter, foi debelado", emendou.

Além disso, o cientista político acredita também que a maioria do eleitorado precisa de elementos mais palpáveis para fazer um julgamento mais crítico sobre a eventual ligação de Lula com esses episódios. "Outro dado importante é que os atuais índices de rejeição de Lula são inferiores aos que ele registrou em campanhas passadas."
A respeito dos bons índices registrados pelo pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho, e da queda do índice de rejeição apontado pela pesquisa CNT/Sensus, o pesquisador da PUC e FGV de São Paulo acredita que isso é reflexo dos programas da legenda e da exposição do peemedebista na mídia.

Além disso, ele avalia que Garotinho pode estar sendo visto por muitos eleitores como a terceira via. "Enquanto Lula e Alckmin estão no embate, Garotinho está correndo por fora."

Outro cientista político, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fábio Wanderley Reis, afirma que o resultado das recentes pesquisas de intenção de voto, Datafolha e CNT/Sensus, indica que a onda de denúncias que tomou conta do País afetou os políticos em geral. "Essa onda de denúncias afetou a classe política como um todo e contaminou o cenário", emendou.

Na sua avaliação, isso explica porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantém nos mesmos índices de aprovação nessas pesquisas, mesmo com o acirramento das denúncias e ataques da oposição.

E também arrisca uma explicação para o fato do principal opositor de Lula nessas eleições, o tucano Geraldo Alckmin, ainda não ter decolado: "A oposição não teve êxito nos ataques porque a imagem de Lula não foi abalada. Aliado a isso, a economia continua sendo um fator favorável ao governo petista."

Fábio Wanderley destaca que apesar desse clima, a campanha eleitoral deverá ser muito acirrada e as denúncias devem crescer "É claro que Alckmin tem chances de crescer, mas não começou bem sua campanha, ainda mais com as denúncias que atingem, inclusive, membros de sua família", considerou.

Para o professor parte desse desgaste que o tucano vem sofrendo tem a ver com o seu desempenho nas pesquisas. "E ainda não é possível avaliar, mais precisamente, se ele vai crescer a ponto de incomodar o Lula."
A respeito do pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho, o cientista político destaca que ele vai ter que, primeiro, vencer as resistências internas de sua legenda para conseguir emplacar uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto.
"O Garotinho é uma peça importante no atual cenário de pré-campanha", destacou. Ele acha difícil a candidatura Garotinho porque isso inviabilizaria as alianças do PMDB em muitos Estados.
Para o professor, o presidente Lula consolidou uma imagem popular e isso se reflete na sua liderança nas pesquisas. "Por isso, as atuais denúncias estão longe de ser um fator seguro de desgaste para o presidente".
Fábio Wanderley destaca, ainda, que o elevado índice de votos nulos e brancos é "um reflexo do desencanto dos eleitores pelos escândalos que envolvem a classe política".

Lula só fica em segundo na região Centro-Oeste

Segundo a pesquisa CNT/Sensus, o presidente Lula lidera as intenções de votos em todas as regiões do País, menos no Centro-Oeste. A região do País em que ele tem o maior índice de intenções de votos é o Nordeste: 67%, desconsiderando votos nulos, brancos e de pessoas indecisas. Em segundo lugar, na região, aparece o pré-candidato do PMDB à presidência da República, Anthony Garotinho, com 18,1%, seguido do tucano Geraldo Alckmin, com 10 6%, e da senadora Heloísa Helena (P-SOL), com 4,3%.

Na Região Norte, conforme a pesquisa, Lula tem 56,9% das intenções de voto, Garotinho tem 27,6%, Alckmin, 13%, e Heloísa Helena tem 2,4%. Na Região Sudeste, Lula aparece com 40,2%; Alckmin, com 37%; Garotinho, com 17,6%, e Heloísa Helena, com 5 1%.

Na Região Sul, Lula tem atualmente 38,9% das intenções de votos. Alckmin aparece com 32,1% e Garotinho com 19,9%. Heloísa Helena tem 9%. Finalmente, no Centro-Oeste, Alckmin lidera, com 38,3% das intenções de votos, seguido por Lula, com 28,7%, por Garotinho, com 24,3%, e por Heloísa Helena, com 8,7%.

Na segmentação por sexos, Lula tem 47,5% das intenções de voto das mulheres e 49,5% das dos homens. Garotinho tem 23,8% (femininos) e 29,4% (masculinos).

Favorito em todos os cenários

Nacionalmente, nos dois cenários de primeiro turno propostos pela pesquisa, Lula abre 17 pontos percentuais sobre Alckmin. Sobre Garotinho, a vantagem é de 23 pontos. No cenário com menos candidatos, Lula tem 37,6%, seguido de Alckmin (20,6%), Garotinho (15%) e Heloísa Helena, do Psol (4,3%). Brancos, nulos e indecisos somam 22,7%.

Com o acréscimo de outros postulantes, o quadro fica assim: Lula (36,6%), Alckmin (19,6%), Garotinho (13,6%), Heloísa Helena (4,9%), Cristóvam Buarque, do PDT (1,7%), Roberto Freire, do PPS (1,3%) e José Maria Eymael (0,2%). Brancos, nulos e indecisos são 22,3%.

Num eventual segundo turno, Lula bateria Alckmin por 45% a 33,2%; Garotinho por 48,5% a 24,2%; e Heloísa Helena por 52,4% a 17,9%. Nos três casos, o percentual de brancos, nulos e indecisos varia de 21,9% a 29,8%.

Espontâneo e rejeição

Na declaração espontânea de voto, quando os nomes não são apresentados aos entrevistados, Lula tem 26,4%, Alckmin 9% e Garotinho 2,8%.

Entre os candidatos em que o eleitor afirma que não votaria, a maior rejeição é a de Garotinho, com 50,7%. Em seguida, vem Heloísa Helena, com 47,5%. Lula e Alckmin estão praticamente empatados nesse quesito, com 35,7% para o petista e 33,5% para o tucano.

Lula também lidera entre os eleitores que só votariam em um candidato. Nesse item, o presidente tem 30,5%. Alckmin aparece com 6,8%, Garotinho com 4,9% e Heloísa Helena com 2,2%.

Aprovação de Lula é a maior desde setembro

Ainda segundo a pesquisa, a avaliação positiva do governo Lula e a aprovação do desempenho do presidente são as maiores desde setembro do ano passado.

O índice dos que acham o governo ótimo ou bom é de 37,6%, enquanto os que acham ruim ou péssimo ficou em 24,1%. A avaliação regular é de 36,7%.

A aprovação ao presidente Lula continuou em patamar elevado e estável em 53,6% – era 53,3% na pesquisa anterior. Já o índice de desaprovação recuou de 38% para 37,6% – uma queda de 0,4 pontos. Também foi o menor desde setembro.

Para Ricardo Guedes, do Instituto Sensus, a estabilidade da imagem do presidente deve-se ao bom desempenho do governo nas áreas econômica e social.

"A parte econômica está estável, há geração de empregos, os programas sociais ajudam o governo e o reajuste do salário mínimo ficou acima da inflação", disse Guedes.

Caso Francenildo

O impacto da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa foi medido pela pesquisa de opinião.

Dos entrevistados, 60% têm acompanhado ou ouviram falar da violação da sigilo do caseiro Francenildo contra 37,3% que disseram que nunca ouviram falar do assunto.

Dos que sabem do caso, 62,1% dizem que o impacto foi negativo para a reeleição do presidente.

A pesquisa ouviu 2.000 entrevistados entre 3 e 6 de abril. A margem de erro é de 3 pontos para cima ou para baixo. Clique aqui para ver a íntegra da pesquisa.

Da redação
Cláudio Gonzalez
com informações das agências