Mídia peruana faz campanha agressiva contra Humala

Os principais jornais do país estão fazendo campanha clara e aberta contra a candidatura do líder nacionalista Ollanta Humala, favorito nas pesquisas de intenção de voto. Similiar à campanha difamatória que ocorre na Venezuela

Os meios de comunicação peruanos embarcaram total e abertamente na campanha para evitar que o candidato nacionalista Ollanta Humala, da coligação União Pelo Peru (UPP), chegue ao palácio presidencial. Os dois principais jornais de circulação nacional, El Comercio e La República, saem praticamente todos os dias com denúncias contra Humala e seus assessores mais próximos.

As denúncias vão desde supostas violações de direitos humanos, quando o atual candidato comandava um batalhão anti-subversivo do Exército no começo dos anos 90, até vínculos com o ex-chefe de inteligência da era fujimorista, Vladimiro Montesinos.

Os tablóides e jornais locais vão além das denúncias, com manchetes que qualificam Humala de "fascista" ou "aspirante a ditador". Emissoras de TV e rádio seguem a mesma linha. Na semana passada, o candidato a segundo vice-presidente de Humala, Carlos Torres Caro, foi flagrado num almoço com o controvertido empresário e dirigente da TV Panamericana Gennaro Delgado Parker – abrindo uma pequena crise na equipe de campanha do candidato da UPP. Delgado Parker tem uma dívida de mais de US$ 10 milhões com o Estado peruano e os jornais interpretaram o encontro como uma tentativa da UPP de chantagear o empresário.

"Nesse caso, o desequilíbrio na cobertura corresponde a uma causa justa: a de evitar que uma ameaça à liberdade de imprensa se instale no governo", justifica ao Portal Estadão.com.br um editor do diário El Comercio. "O sr. Humala não gosta de jornais nem de jornalistas e já declarou isso publicamente mais de uma vez".

O ex-presidente Alan García, do centro-esquerdista Apra, também não é uma boa opção para o poderoso segmento conservador no país. Representante dessa elite, o El Comercio aderiu sem disfarces à campanha da candidata conservadora Lourdes Flores, da Unidade Nacional.

"Desde 2000, quando Montesinos controlava a imprensa por meio de chantagem e ameaça de fechamento de empresas de comunicação, não se via tanto desequilíbrio na cobertura de uma campanha eleitoral", diz Arturo López, professor de Comunicação Social da Universidade San Martín de Porres, de Miraflores. "A verdade é que as empresas proprietárias de jornais, revistas e emissoras de TV e rádio do país são muito frágeis economicamente e dependem quase totalmente de recursos do Estado para sobreviver. E, num hipotético governo de Humala, acreditam que deixariam de receber esses recursos e favores fiscais".

Da Redação,
Com jornal O Estado de S. Paulo