Equatorianos iniciam nova jornada contra TLC

Depois de doze dias de paralisações pelo país e o estancamento das negociações do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, o governo equatoriano enfrenta agora a nova jornada de protestos indígenas contra o acordo.

Depois de doze dias de paralisações pelo país e o estancamento das negociações do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, o governo equatoriano enfrenta agora a nova jornada de protestos indígenas contra o acordo. Segundo a agência Prensa Latina, vários grupos de diversas regiões anunciaram uma caminhada por Quito para rechaçar a assinatura do TLC e a defesa da soberania nacional.

 

As negociações do tratado – a nova configuração da estratégica Área de Livre Comércio das Américas (Alca) – com o império norte-americano foram suspensas há mais de uma semana, quando as manifestações se intensificaram a ponto de o governo do presidente Alfredo Palácio decretar estado de emergência nas principais províncias de oposição. Entretanto, o governo já manifestou interesse em realizar outra rodada de negociações em meados do mês que vem.

 

Na sexta-feira passada, veículos de imprensa equatorianos informaram que estava sendo preparado um levante nacional indígena, aprovado na última sexta-feira (31) pela Assembléia da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) para meados deste mês.

 

O presidente da Federação de Camponeses Indígenas (Fenocin), Santiago De la Cruz, anunciou domingo passado – pouco antes de ser detido por militares na província de Azuay – que o setor dos nativos da Costa estão também se somando aos protestos. Ele também informou que os grupos dessa região não ficarão de braços cruzados diante das ações do governo, que quer assinar um tratado em condições inapropriadas para os pequenos setores produtivos do país.

 

Segundo o dirigente camponês, desde segunda-feira centenas de indígenas saíram do centro de Guayaquil, na província de Guayas, para se unir amanhã, em Quito, com outro grupo, que realiza uma caminhada desde o território sulista de Loja. O principal objetivo das marchas é chamar a atenção sobre os prejuízos que a assinatura do TLC com Washington irá causar ao Equador, e em especial aos agricultores.

 

Os grupos indígenas exigem do governo de Palácio que retire a equipe negociadora que se encontra em Washington e convoque imediatamente uma consulta popular para provar que a maioria dos equatorianos se opõe ao acordo.

 

Ditadura neoliberal

 

Para De la Cruz, há uma “atitude ditatorial” por parte do governo, que pretende silenciar a voz do povo com o objetivo de ocultar o crescente rechaço ao tratado. Segundo o dirigente, 69% dos equatorianos se opõe à assinatura do acordo. Baseado nisso, a Conaie exige que sejam suspensas as negociações, além de transparência sobre as negociações e a convocação do referendo. “O povo deve decidir se quer ou não um TLC com Washington”, disse a um canal de televisão De la Cruz.

 

Até o início desta semana, o estado de emergência estava sendo mantido nas seguintes províncias: Imbabura, Cotopaxi, Chimborazo, Cañar e parte de Pichincha, que é por onde milhares de manifestantes devem passar para chegar à capital. Além disso, o porta-voz da Fenocin, Edwin Navarrete, afirmou à imprensa internacional que há um plano militar nacional para deter toda e qualquer pessoa com traços indígenas e não permitir sua entrada em Quito.

 

Os acessos à várias cidades são mantidos bloqueados por forças militares, que detêm ônibus e veículos privados, que obrigam que identifiquem cidadãos indígenas. A marcha de camponeses tem caráter pacífico e deve se aproximar da capital na próxima quarta-feira. Durante o trajeto, a expectativa dos organizadores é de que cerca de cinco mil pessoas se integrem ao movimento, que também terá manifestações culturais pedindo a não assinatura do TLC.

 

Os manifestantes consideram que o acordo será muito prejudicial à agronomia equatoriana, que pode chegar a desaparecer. Além disso, apontam que não existe o apoio governamental para os pequenos produtores.

 

Alguns países já assinaram o TLC com os Estados Unidos, principalmente os centro-americanos, que firmaram em bloco no ano passado. Na América Latina possuem o acordo Peru e Colômbia, cujos governos são aliados do presidente George W. Bush. Na América Central, o acordo – que chama-se DR-Cafta – foi firmado por El Salvador, República Dominicana, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Costa Rica.

 

CAN

 

No final de março, o presidente venezuelano Hugo Chávez criticou a posição desses governos em estabelecer os acordos comerciais com os EUA ao invés de fortalecer a integração dos países da região. Chávez chegou a dizer que a Comunidade Andina de Nações, presidida pela Venezuela, teria acabado.

 

Para o líder bolivariano, nações unidas em blocos como a CAN ou o Mercosul “só devem assinar um tratado com uma potência como os Estados Unidos se estiverem juntos”. “No momento que alguns países fazem isso, acaba a unidade”, disse para os presidentes de bancos centrais da região que participaram de um fórum em Caracas.

 

A CAN é integrada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Os membros da CAN se revezam na presidência a cada ano. A Venezuela deve entregar o comando em julho, de acordo com o calendário da Comunidade, fundada em 1968.

 

Da Redação,
Mônica Simioni
Com agências internacionais