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Agnelo deixa o Esporte e será candidato no DF com apoio de Lula

“A minha candidatura reúne as melhores condições para unir amplos setores de centro-esquerda”.

É com esse espírito que Agnelo Queiroz, confiante, deixa o Ministério do Esporte para se candidatar a governador do Distrito Federal. À frente da pasta há pouco mais de três anos, o deputado comunista fez uma gestão inovadora. Conforme dados do ministério, um dos carros-chefe de sua gestão, o Segundo Tempo, atende 1 milhão de crianças e adolescentes em todo Brasil, gera emprego e renda para 11 mil pessoas e virou referência, segundo a ONU. O programa Pintando a Cidadania ajudou a reinserir no mercado mais de 17 mil brasileiros, entre portadores de deficiências, jovens em busca do primeiro emprego, trabalhadores com mais de 40 anos e detentos. Os investimentos do governo federal para os jogos Pan-Americanos de 2007 chegam a R$ 1 bilhão, enquanto o Bolsa Atleta beneficiou 972 atletas só em 2005. Em entrevista a Priscila Lobregatte, para o portal Vermelho, Agnelo fala sobre sua candidatura, o ministério e o apoio de Lula. Ele diz que o presidente “valorizou a área e o esporte passou a ser tratado no centro do governo”.

Vermelho: Como está a sua candidatura para o governo do Distrito Federal?

Agnelo: A minha candidatura reúne as melhores condições para unir amplos setores de centro-esquerda. Estamos na etapa de juntar esses apoios para poder concorrer às eleições. Depois de ouvir o presidente Lula, discutir com ele e, apoiado na decisão do PCdoB, tanto local quanto nacional, sairei do ministério no dia 31 de março, que é o prazo limite para a descompatibilização, para me candidatar ao governo do Distrito Federal.

Vermelho: Como o presidente Lula vê a sua candidatura?

Agnelo: Vê de maneira positiva, como uma candidatura com potencial, que pode unir amplos setores. Além de ter chances reais de ganhar as eleições, pode ajudar a fortalecer uma possível candidatura de Lula à reeleição.

Vermelho: A luta política no DF parece que será acirrada…

Agnelo: De fato. Há pessoas postulantes a candidato que estão em campanha h´ três anos de forma explícita. Mas isso começa a se reverter na medida em que os outros candidatos aparecem. A eleição propriamente dita ainda vai começar. No meu caso nunca fui candidato majoritário, nunca fui candidato a governador. Só depois da minha saída do governo e da constituição dessa frente é que a população vai identificar claramente quem é candidato mesmo. Isso vai se refletir também nas pesquisas.

Vermelho: Durante sua gestão à frente do Ministério do Esporte, o que mudou na política nacional para a área?

Agnelo: Houve uma mudança radical no esporte no Brasil nestes três anos e três meses do governo Lula, a partir da criação do Ministério do Esporte. Pela primeira vez, a área teve um ministério exclusivo. E a responsabilidade de cuidar dessa pasta foi uma atribuição dada ao PCdoB. Criamos uma política nacional voltada para o esporte e isso mudou toda a concepção que se tinha até então para o desenvolvimento desta área.

Neste sentido, a 1ª Conferência Nacional de Esporte foi fundamental. Foi um processo democrático importante e realmente participativo, para o qual mobilizamos 83 mil pessoas em todo o Brasil. Lula esteve presente no evento, o que demonstra a importância que o assunto tem para sua gestão. A conferência deu o norte, o rumo principal para a elaboração de um programa para o esporte que visasse o desenvolvimento humano. A partir dela, elaboramos nossa política e a aprovamos no Conselho Nacional de Esportes.

Hoje o Brasil tem uma política nacional séria, com objetivos e diretrizes, que trata o esporte como política pública de Estado. Esta é a essência da mudança. A partir daí, a sociedade passou a participar mais na elaboração dos projetos. Focamos nossa atuação no financiamento do esporte, no lançamento de programas de execução própria do Ministério do Esporte, na ampliação e estreitamento das relações internacionais na área esportiva. Contribuímos ainda para a geração de emprego e renda através do esporte; pensamos uma política para o futebol, para o esporte de alto rendimento, envolvendo inclusive os jogos Pan-Americanos.

Vermelho: Na sua avaliação, que pontos merecem destaque na política esportiva?

Agnelo: Ressalto, entre outras coisas, o fato de tratarmos o esporte como um instrumento de mudanças sociais. Um exemplo disso é o programa Segundo Tempo, que teve um grande êxito. É o maior programa sócio-esportivo do mundo, um programa de inclusão social através do esporte que envolve mais de um milhão de crianças e adolescentes em todo o Brasil.

Em março, lançamos um programa voltado para a terceira idade, o Vida Saudável, que já nasceu com 50 mil idosos cadastrados. E é só o piloto. O objetivo é que ele tenha dimensões cada vez maiores e atinja milhões de brasileiros. Instrutores serão treinados especialmente para essa idade.

Vale salientar que mudou também o sistema de financiamento do esporte, porque não existia praticamente nenhum. E agora existe o Bolsa Atleta.

Outro projeto importante é o Pintando a Liberdade, que contribui para a geração de emprego e renda para comunidades carentes e que, para mim, é também uma marca muito forte dessa nova forma de gerir as políticas esportivas.

Vermelho: O que evoluiu nas relações internacionais na área esportiva?

Agnelo: Destaco especialmente a implantação em Angola, no último mês de novembro, dos programas Pintando a Liberdade e Segundo Tempo; este já atinge cerca de mil crianças e é bancado pelo Brasil. Estive lá na inauguração e foi uma experiência incrível. O Pintando a Liberdade é uma fábrica social que funciona numa cadeia pública, em Viana, e que gera emprego e renda a partir da produção de material esportivo consumido pelo Segundo Tempo. Hoje, o Segundo Tempo é reconhecido pelas Nações Unidas como o maior programa sócio-esportivo do mundo.

Outra marca importante: o Brasil faz parte da direção do Conselho Sul-americano de Esportes, do qual fui presidente até recentemente. No Conselho Ibero-Americano de Esportes, formado por países da América Latina, Portugal e Espanha, também participamos da gestão na vice-presidência da entidade. Iniciei esse processo e espero que o meu sucessor dê continuidade. Foi a primeira vez que o Brasil presidiu um conselho que envolve todos os ministros de esporte das Américas e do Caribe, somando 42 países.

O Brasil se tornou uma referência internacional na área, e em pouco tempo, menos de três anos. Antes era conhecido pelo bom futebol, mas só. Atualmente, é reconhecido por várias modalidades esportivas e programas sociais. A aproximação com os outros países é muito saudável e importante. Agora estamos implantando o xadrez em muitas escolas aqui, um programa exitoso, para mais de 300 mil estudantes no Brasil. Assinamos um acordo com nove países para implantar o programa de xadrez em escolas da América do Sul. Da mesma foram, o Segundo Tempo será instituído em países latino-americanos.

Vermelho: E o esporte acaba servindo como instrumento de inclusão…

Agnelo: Sim. Nosso mandato à frente do ministério do Esporte teve essa preocupação: cuidar das crianças mais carentes, usando o esporte como uma ferramenta de desenvolvimento humano, de inclusão social. Ao darmos à criança a possibilidade de usar o seu tempo livre com atividades esportivas e com reforço escolar nas matérias em que estiverem mais fracas, e alimentá-las – porque elas precisam de maior aporte calórico para seu crescimento –, estamos ajudando no seu desenvolvimento integral. Isso melhora o rendimento escolar, a saúde e a auto-estima e dessa forma evitamos que nossas crianças fiquem expostas à violência. É muito gratificante saber que temos um milhão de crianças que estão tendo atividades complementares e com um custo muito baixo, sem muita burocracia.

Vermelho: E quanto à Time Mania?

Agnelo: A Time Mania já foi aprovada na Câmara e no Senado Federal. Falta a aprovação na Câmara de duas emendas apresentadas pelo Senado. A previsão é que a Time Mania entre em vigor no segundo semestre deste ano. Com a Time Mania, esperamos mudar a história do futebol brasileiro. Estamos dando uma saída para o saneamento financeiro dos clubes e pedindo contrapartidas que estimulem os clubes a terem uma profissionalização da sua gestão. Não vai poder jogar no campeonato quem tiver dívidas com a Previdência, a Receita e o Fundo de Garantia. É uma condição rigorosa, drástica, mas que estimulará muito a profissionalização dos clubes.

Em comparação com o último governo, que durou oito anos, houve uma grande evolução. Hoje temos também uma política completa de alto rendimento. Fazemos testes nas crianças ainda na escola, para descobrir talentos. Há o Bolsa Atleta, que financia os que não têm patrocínio, um programa que entregou quase mil bolsas no ano passado para atletas olímpicos, não olímpicos e para-olímpicos. Além disso, estamos criando centros multidisciplinares de auto-rendimento. Inauguramos um em Manaus que atende a região Norte do Brasil e vamos inaugurar outro em Goiânia (GO). Depois, em Maringá (PR) e em Campinas (SP).

Vermelho: Na sua opinião, a Time Mania pode enfraquecer a cartolagem?

Agnelo: Enfraquece qualquer tipo de atitude desonesta. Vai fortalecer os dirigentes sérios, os que adotam uma gestão profissional. Agora estes vão receber o dinheiro. Quem deve pouco ou não deve nada, já vai receber o dinheiro para investimento. E para os clubes que têm grandes dívidas, vai demorar muito para começarem a receber esse dinheiro para investimento. Portanto, ela é muito educativa, bem articulada, criativa. N ão tem recurso público, como em países da Europa que colocaram dinheiro público direto para salvar seus clubes. O próprio clube é o fator gerador. O governo entra como um grande articulador disso.

Vermelho: E as obras para os jogos Pan-Americanos?

Agnelo: As obras estão em curso, com o orçamento em andamento. O governo federal assumiu uma grande responsabilidade e assegura a realização do Pan. Aliás, o governo federal multiplicou quase por dez vezes o compromisso inicial, quando o Brasil ganhou em 2002 a condição de sediar os jogos pan-americanos. Além de incorporar novas atribuições, cumprimos todas que assumimos e ainda ajudamos a prefeitura do Rio de Janeiro a cumprir obrigações sob sua responsabilidade, como foi o caso das obras do autódromo. O governo federal passou R$ 60 milhões para ajudar a prefeitura do Rio a executar essa obra.

Vermelho: Certa vez, o presidente Lula comentou que um perna-de-pau em matéria de futebol estava fazendo pelo esporte o que gente da área não havia feito. A que você atribui o seu jeito com essa área?

Agnelo: (risos) Eu atribuo, primeiro, à nossa afinidade com a área. Além de ser um apaixonado por esporte, a minha própria formação, de médico, me fez compreender que o esporte é um fator maravilhoso para o desenvolvimento humano. E poder concebê-lo como política pública é muito importante. O esporte tem de ajudar o nosso povo, o seu desenvolvimento. Tem de formar os recursos humanos para o desenvolvimento da nossa pátria e diminuir as desigualdades. Estas são as nossas linhas prioritárias. Tanto é que a maior parte dos recursos do ministério vai para o programa social e não para o rendimento em si.

A visão do PCdoB é outro fator que ajudou muito. O Partido tem uma concepção democrática da sociedade, sem preconceitos, e nos ensina a nos relacionarmos com amplos setores da sociedade na construção de uma política. Este é um fator determinante: ouvir exaustivamente e debater, como fizemos em toda a nossa trajetória.

Tem um outro fator essencial: o apoio pessoal e de estadista do presidente Lula. Ele compreende o papel do esporte. Todos os grandes projetos, os aumentos de recursos, tudo isso foi tratado diretamente com ele. Ele valorizou a área e o esporte passou a ser tratado no centro do governo. Nas reuniões ministeriais, assim como os outros ministros davam opinião e mostravam o que estavam fazendo, o ministro do Esporte interagia com a mesma estatura. Isso permitiu tratar a política de esporte no primeiro escalão. É ao conjunto desses fatores que atribuo o êxito de nossa política à frente do ministério. Durante 2006, vamos colher muito dos frutos que foram plantados.