Aníbal exige que Serra enfrente prévias e provoca tensão no PSDB

O vereador José Aníbal (PSDB-SP), que aparece na lista de possíveis nomes do PSDB para o governo de São Paulo, garantiu ontem (29/3) que não irá retirar sua candidatura mesmo que o prefeito de São Paulo, José Serra, coloque seu nome à disposição do partid

Mesmo diante da expectativa de que Serra poderá anunciar sua pré-candidatura hoje (30/3), Aníbal disse que se manterá na disputa e apontou a possibilidade de levar a decisão à direção partidária, exigindo a realização de prévias. Serra desistiu de disputar a presidência da República justamente por se negar a participar de prévias contra o governador Geraldo Alckmin, que acabou ficando com a indicação.

Aníbal reconheceu que Serra aparece com grande força nas pesquisas eleitorais, mas insistiu que os levantamentos representam apenas um "retrato do momento" e não significam que outros nomes do PSDB não sejam capazes de vencer a eleição. "Acho mesmo um erro grave a idéia de que a renúncia (de Serra) é condição para que o PSDB continue governando o Estado de São Paulo", disse Aníbal.

Segundo sua assessoria, um dos trunfos de Aníbal é uma pesquisa interna do PSDB que daria ao vereador 14% das preferências entre os formadores de opinião do Estado. Aníbal também ressalta que, ao contrário de Serra, já lançou sua candidatura há "bastante tempo".

O vereador disse já ter comunicado a direção partidária e o governador Geraldo Alckmin de sua intenção de manter sua pré-candidatura. Questionado sobre quais critérios devem ser usados para a escolha caso o prefeito paulistano aceite disputar a vaga, Aníbal disse que estará satisfeito com o critério que for escolhido pela comissão executiva nacional ou pelo diretório do PSDB.

De qualquer forma, Aníbal ressaltou que até o momento não tem qualquer motivo para retirar seu nome, até porque Serra ainda não havia manifestado formalmente, até o início da noite de ontem, a intenção de concorrer ao governo na próxima eleição.

O presidente do diretório estadual do PSDB, deputado estadual Sidney Beraldo, criticou o vereador tucano. Para Beraldo, a força do nome do prefeito José Serra no ninho tucano dispensaria a realização de prévias.

"Não vejo a necessidade de prévias, dado o grande apoio do partido ao prefeito José Serra", afirmou Beraldo. O deputado afirma que "defenderá essa tese" na reunião da Executiva do partido.

Estresse

Recentemente, quando foi questionado se as manifestações de parlamentares tucanos a favor de Serra o incomodavam, Anibal disse que "no que elas têm de espontâneo, nada a reparar", mas "no que elas têm de induzido, não acho tão bom porque cria estresse, pressão dentro do partido. E eu não faço isso", afirmou.

O pré-candidato deu uma gargalhada quando questionado se em sua opinião o ritual de escolha do candidato a governador seguirá o mesmo colocado em prática na escolha do candidato a presidente, marcado por jantares em restaurantes caros e reuniões secretas entre cardeais do partido. "Se não há convergência, é necessário se estabelecer um procedimento de escolha. Mas sem jantares e sem rapapés", afirmou. "Em São Paulo estamos conscientes de que o procedimento tem de ser este. A população está farta deste jogo de cena."

Agenda cancelada

A renúncia de José Serra da Prefeitura de São Paulo era esperada para esta quarta-feira à tarde, mas foi adiada justamente por causa da insistência de José Aníbal.

Ao cancelar sua agenda de ontem, criou-se a expectativa de que o prefeito estaria preparando uma carta para enviar à Câmara municipal comunicando o abandono do mandato. Mas após as declarações de Aníbal, a tensão tomou conta do ninho tucano e Serra, irritado, adiou o anúncio.

O presidente da Casa, Roberto Tripoli, explicou à Rádio Jovem Pan, que, regimentalmente, se Serra decidir concorrer ao governo do Estado, terá que entregar sua carta de renúncia até sexta-feira (31), último dia deste mês.
Feito isso, ele (Tripoli) publica Diário Oficial no dia seguinte e o vice-prefeito, Gilberto Kassab (PFL), assumiria o cargo.

Eleitores insatisfeitos com atitude de Serra

A decisão de Serra de abandonar a prefeitura da capital contraria a expectativa dos eleitores. Pesquisas de opinião feitas entre o fim de fevereiro e o início de março mostraram que a maioria dos paulistanos queria que ele cumprisse o mandado até o fim, como havia prometido durante a campanha política. Pela pesquisa feita pelo Centro de Pesquisa Motivacional (CPM Research), encomendada pelo Instituto Ágora, para 70% dos paulistanos o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra não deveriam deixar os cargos que ocupam para concorrer a outros.

A pesquisa, divulgada no dia 13 de março, também revelou que 86% dos cidadãos querem ser consultados antes de os governantes se candidatarem a outros cargos sem cumprir o mandato atual. Mais de 70% dos 375 eleitores pesquisados não sabiam o nome de quem vai assumir os cargos de prefeito e governador com a saída de Serra e Alckmin.

No final de fevereiro, um levantamento do instituto Datafolha já mostrava que 50% dos entrevistados desaprovavam uma eventual saída de José Serra da prefeitura da capital para concorrer à presidência. A pesquisa ainda mostrou que apenas os simpatizantes de Serra não se importavam com a idéia de ele deixar o Executivo municipal.

PT planeja ato contra candidatura de Serra

Ainda ontem, a direção do PT em São Paulo anunciou que pretende promover um ato na próxima sexta-feira contra a candidatura do prefeito José Serra ao governo paulista. Antes mesmo de o tucano ter confirmado sua intenção de concorrer à vaga nas próximas eleições, o diretório municipal do PT já agendou uma manifestação para o meio-dia, em frente ao Teatro Municipal.

De acordo com o vereador Paulo Fiorilo, que também ocupa a presidência do PT no município, a idéia é cobrar de Serra o compromisso firmado na época em que disputou a prefeitura com a petista Marta Suplicy. Serra garantiu que não deixaria o cargo em função da corrida presidencial deste ano. "O que nós vamos fazer é cobrar a coerência que, infelizmente, o prefeito Serra não teve", disse o vereador petista. "Ele disse que não ia fazer da cidade um trampolim", acrescentou.

Outro tema da manifestação, de acordo com Fiorilo, será o fato de o cargo ser entregue ao vice Gilberto Kassab. Segundo ele, tanto Kassab quanto o PFL não possuem a "experiência" e a "tradição" necessárias para governar a cidade de São Paulo.

Da redação,
com informações das agências