As contradições que ligam o futebol ao nosso dia a dia

Após mais um domingo de decisões estaduais de futebol, é sempre comum vermos as gozações entre torcedores, especialmente entre os ganhadores e os perdedores. Quando se tem um erro de arbitragem então, nem se fala, é polêmica para semana toda! Foi assim no Rio de Janeiro por exemplo.

Antes que alguém mais desavisado ache que vou reclamar de arbitragem, aviso que está enganado, pois erros de juízes apitando é tão comum aqui como na Europa, quem acompanha o Campeonato Inglês, por exemplo, entende bem sobre o que eu estou falando.

O que me chamou mesmo a atenção neste último domingo, foi a entrevista pós-jogo do goleiro flamenguista Felipe, que, ao ser questionado sobre o impedimento não marcado no gol do título respondeu ironicamente: “Roubado é mais gostoso”. Apesar do tom de brincadeira e provocação do goleiro em cima dos vascaínos, esta resposta precisa ser analisada em um contexto além do futebol, pois esta resposta circulou (e está circulando) com muita veemência nas redes sociais.

Esta expressão me lembra dum antigo jargão da política, o do “rouba, mas faz”. Se roubado é mais gostoso, roubar e garantir um bom resultado para si e para os seus também é. Como alguém que use esta mesma expressão para justificar o título de seu time pode, por exemplo, questionar um escândalo de corrupção? Será que é tão diferente assim, ou as oportunidades é que são diferentes?

Eu me pergunto até onde vai à hipocrisia de muitas pessoas, pois furar uma fila, não devolver o troco, não dar lugar no ônibus a um idoso ou uma grávida, justificar que ganhar roubado é melhor, enfim o que todas estas pequenas “corrupções” tem de diferente para um banqueiro ou um deputado que seja comprovadamente desonesto?

O debate sobre o papel do corrupto em nosso país é feito de maneira falha, pois não queremos enxergar o problema cultural que temos em relação a isso, recebendo, inclusive uma denominação própria: “o jeitinho brasileiro”. Se pode para mim e não pode para você, não deve poder para ninguém, este é o ponto chave que deve ser analisado.

Cada vez que vejo alguém bradando aos quatro ventos que é contra a política tradicional, que é contra os deputados, que é contra tudo, eu me pergunto, até onde vai a capacidade de honestidade desta pessoa? Até onde aparece o que ela quer? Ou ela é realmente incorruptível?

Enfim, o que quero mostrar é que o problema da corrupção é cultural, que ele é aceito em nosso país e isto sim deve ser combatido, mais que justificar que roubado é mais gostoso ou que rouba, mas faz, devemos questionar quem roubou? Por que roubou? Para que roubou?

O buraco é mais embaixo, pois enquanto buscarmos apenas o corrupto e não atacarmos o corruptor, ficaremos sempre reféns de nós mesmos, ou do nosso famigerado “jeitinho brasileiro”….

*Título Original: Roubado é Mais Gostoso: As Contradições que Ligam o Futebol ao Nosso Dia a Dia

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