Direto da Rússia: A Rodada Sul-Americana na Copa – Por Felipe Iturrieta

Esse 3 a 0 da Croácia na Argentina é um micro 7 a 1 (como se aquele 4 a 0 de 2010 contra a Alemanha não tivesse bastado pros 'hermanos'). 

*Por Felipe Iturrieta

croacia arg - Divulgação

Digo isso com o ponto de vista de quem observa uma cultura de futebol (latina, talvez?) de buscar um mega-craque que seja praticamente invencível e montar um time que gire ao redor desse talento, pra que o mundo possa ver as proezas de um Rei ou um Deus do futebol. É esse estilo de jogo, essa visão do esporte, na minha opinião, que leva essas surras. Emblemático ver jogadores argentinos pálidos e sem saber pra onde ir, pedindo impedimento, enquanto uns europeus de uniforme escuro tocam curto na boca do gol, como se estivessem na pracinha jogando com as crianças.

Não dá pra dizer "que sirva de recado para o Brasil", porque na verdade, esse recado já foi dado, convenhamos. E pelo menos o Brasil, tendo se recuperado (com dificuldade) contra a Costa Rica, apresenta uma equipe muito mais sólida que a Argentina, e como gato escaldado, não deve passar vergonha tão cedo novamente, apesar de provavelmente pegar Alemanha ou México (adversários historicamente complicados para o Brasil) nas oitavas.
 
Talvez sirva de recado pro Uruguai, que logo mais pega os donos da casa no primeiro jogo difícil da Celeste nesta Copa, e em seguida provavelmente encara Espanha ou Portugal. Se ficarem jogando pra agradar Suárez, que parece totalmente desconfortável nessa Copa, vão acabar tomando um baile antes de voltar pra casa também. 
 
Com a Colômbia sendo a primeira vítima sul-americana do Japão e o Peru já fazendo as malas, a situação futebolística do nosso continente é deplorável. Infelizmente, já faz muito tempo que brasileiros e argentinos buscam seus novos Pelés e Maradonas enquanto até a Espanha está ganhando Copa do Mundo. 
 
Por outro lado, chapéus se alçam em tributo ao futebol do Modric. Sem badalação ou ceninhas, joga muita bola, e para a equipe. Vi mais de um lance em que um zagueiro "carniceiro nutella" da albiceleste não só perdeu o tempo da bola, mas também perdeu o tempo da falta, achando que ia dar um carrinho pra intimidar (ou machucar?) o camisa 10 no passo seguinte, mas ops, o Modric já tocou a bola, e lá se foi o argentino arrancando grama do campo e tentando lembrar se o cara é destro ou canhoto**. Uma lição que poderia ser muito útil ao Neymar, que de tanto segurar a bola acaba inevitavelmente sofrendo muitas faltas, aumentando o risco de lesões.
 
Ainda há esperanças de que essa Argentina se classifique para as oitavas de final. Ainda há esperanças de que o Uruguai avance por mais alguns jogos. Sim, há ainda grandes possibilidaes de que o Brasil seja campeão, inclusive. Mas eu não acho que há esperanças, a longo prazo, para esse estilo de futebol que acaba criando equipes que dependem de garotos mimados. 
**Jogar com 'as duas pernas' aliás, é uma coisa que o Messi fazia no começo de sua carreira e quase não faz mais. E pensar que na Copa de 2006, em que ele ainda jogava como ambidestro, a Argentina vencia a Alemanha, dona da casa, nas quartas de final, quando Riquelme, que jogou um bolão, saiu cansado aos 27 do segundo tempo. Pekerman deixou esse jovem Messi no banco e colocou Cambiasso no jogo. A Argentina tomou o gol de empate e, nos pênaltis, Cambiasso perdeu a cobrança que mandou os argentinos pra casa. Naquela ocasião, em que uma boa seleção argentina não girava ao redor de um só craque, a derrota veio na conta da covardia da "retranca no final" (pra fazer trinca com aquele gol do Imperador Adriano que custou uma Copa América aos 'hermanos', devido à soberba e a vaidade).