Dilma, coelhos e cartolas

No café da manhã com jornalistas na quinta feira (7), a presidenta Dilma Rousseff disse que não tem coelho na cartola, sinalizando que não haverá pacotões para sair da crise econômica. A saída resultará de uma construção paciente, que já começou em dezembro com a troca no ministério da Fazenda e a iminência do fim da política econômica recessiva de Joaquim Levy.

 
A gravidade da crise econômica não autoriza qualquer solução mágica. No Brasil ela tem componentes externos e internos, refletindo a doença que ataca o capitalismo a nível mundial e agora manifesta-se nas dificuldades como as vividas pelas bolsas chinesas.  A situação é grave e impõe para o Brasil a adoção de medidas econômicas e sociais de forte impacto que ajudem a recompor a capacidade fiscal para que o Estado possa atender às demandas sociais que o país exige.
 
A implementação das medidas sinalizadas por Dilma exigirá muito debate e diálogo, sobretudo a reforma da Previdência, que já enfrenta resistências a serem levadas em conta. A aprovação da CPMF e a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) vão esbarrar também na forte oposição dos setores mais interessados apenas no insucesso do governo – a turma do quanto pior melhor.
 
Os coelhos ausentes da cartola não são apenas os da economia. O governo terá que se esforçar para recompor a base política no Congresso Nacional (principalmente na Câmara dos Deputados) e no conjunto da sociedade, onde já foi identificada uma discreta tendência de recuperação na pesquisa Datafolha feita em dezembro.
 
A presidenta Dilma Rousseff falou, com destemor, de erros cometidos pelo governo em anos anteriores. Em 2015 eles se traduziram no forte afastamento do governo em relação a sua base social. Em que pese este distanciamento, diante da ameaça golpista promovida pela oposição, em conluio com a mídia, houve um crescente protagonismo do povo organizado em defesa da democracia e da legalidade – e que resultaram na grande manifestação de 16 de dezembro, fator de viragem na crise política com o isolamento e desmascaramento da oposição direitista e neoliberal.
 
Janeiro começou com sinais positivos. O golpismo ganhou os rostos nítidos de Aécio Neves, do PSDB, de Eduardo Cunha e da ala do PMDB que ele comanda. É preciso lembrar que este é um ano eleitoral – e o PMDB, que comanda mais de mil prefeitura, deverá pensar duas vezes antes de ir  às urnas abraçado com o rejeitado Eduardo Cunha. Esta é outra enorme dificuldade para a oposição: de herói da direita golpista, o presidente da Câmara transformou-se em símbolo do que há de pior na política conservadora brasileira, batendo recordes de rejeição. 
 
Setores cada vez mais amplos dos atores políticos passaram a rejeitar o abraço de afogado de Cunha e Aécio, sob o risco de submergirem na mesma água turva em que eles navegam e seu golpe direitista de consequências imprevisíveis. 
 
O instinto de sobrevivência de Michel Temer levou-o ao recuo. Ele tem dito a interlocutores que o impeachment perdeu força e sinaliza um grande esforço para harmonizar o PMDB de maneira a se manter presidência do partido. 
 
A próxima reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão), prevista para fevereiro, faz parte do esforço de recomposição da base do governo. Ali será retomado o diálogo entre os diferentes setores sociais em torno das alternativas para sair da crise e retomar o desenvolvimento. 
 
Assim como a econômica, a cartola política também não autoriza soluções mágicas. Lula tem razão ao dizer que o impeachment está morto mas não sepultado. O golpismo tem seus pregoeiros contumazes, com Fernando Henrique Cardoso à frente: ele começou o ano insistindo na continuidade do golpe, sob qualquer forma (impeachment, cancelamento da eleição de Dilma Rousseff pelo TSE ou mesmo, sonha ele, a renúncia da presidenta). 
 
Não há coelhos na cartola, e isso exige a paciente e persistente construção de saídas que, sendo políticas, tenham reflexos favoráveis na economia. Mais do que nunca é preciso que as forças progressistas e de esquerda, além do próprio governo, tenham em conta que ainda ocorrerão muitos embates, difíceis e prolongados. É preciso enterrar de vez o impeachment para que o Brasil recupere a tranquilidade política e possa enfrentar a crise econômica. 
 
Este é um roteiro que a presidenta Dilma Rousseff prometeu perseguir com “unhas e dentes”.