Como a esquerda deve agir numa situação emergencial?

O Brasil está vivendo impasses políticos em meio a dificuldades econômicas e crônicos problemas sociais estruturais, o que faz pipocarem insatisfações de toda a ordem. Apesar de que a presidenta Dilma e as forças progressistas que a apoiam se empenharem na solução destes problemas, a usina de mentiras que é a mídia privada atribui ao governo e à esquerda a responsabilidade pelas dificuldades momentâneas que o país enfrenta.

A oposição neoliberal e conservadora, que não aceita o veredito das urnas de 2014, pela quarta vez consecutiva contrário a seus partidos e lideranças, aproveita-se da situação para gerar uma crise política e governamental que provoque um desenlace artificial da situação por meio de aventuras antidemocráticas. Impeachment, renúncia da mandatária, “parlamentarismo de fato” e outras formas de “golpe suave”, além dos indecorosos apelos ao retorno à ditadura e à intervenção externa feitos na Avenida Paulista a 15 de março, são as hipóteses que circulam nas redações dos veículos da mídia monopolista e nos bastidores de alguns gabinetes de Brasília.

Nas forças da base de sustentação do governo, sobretudo entre os partidos progressistas e os movimentos sociais há insatisfação, confusão, perplexidade, desorientação e falta de unidade estratégica e tática sobre qual o melhor posicionamento a adotar em face de uma situação emergencialmente grave.

Decerto, o ajuste das contas públicas é um remédio amargo. Pior, ao atingir os trabalhadores e conter o risco de provocar recessão é a rigor injusto. E mais, pode não ser eficaz, porquanto as vicissitudes da economia brasileira se devem à própria natureza do modelo neoliberal que nunca foi frontalmente atacado, inclusive no período de 2003 a 2014. Em essência, a mudança de tal modelo só ocorrerá no quadro de rupturas revolucionárias para as quais não se formou a correlação de forças necessária.

Em tal quadro, as forças progressistas na condução do governo, tendo responsabilidades com a nação, não podem permitir o agravamento ulterior da situação, o que só provocaria danos irreparáveis à maioria da população e tornaria vulneráveis as posições internacionais do país. A presidenta da República tem feito reiteradas considerações nesse sentido e apelos à compreensão sobre o significado de que se reveste, neste início de segundo mandato, a realização do ajuste proposto.

Forças políticas centristas e fisiológicas, com importantes posições de mando na vida política do país, num abandono total de patriotismo, senso de responsabilidade e mesmo de solidariedade com a mandatária, ao invés de se somarem ao esforço para solucionar os graves problemas, tiram partido da situação para aumentar sua cota de poder e tornar o governo refém de seus propósitos. Sucessivamente, infligem derrotas ao governo nas casas legislativas.

A questão que isto suscita é se os partidos de esquerda e progressistas devem engrossar as fileiras de uma oposição de fato, como tem acontecido em algumas votações no Congresso Nacional, ou se, ainda que cobertos de razão nas críticas ao “plano Levy”, não deveriam, em nome dos superiores interesses nacionais e da governabilidade, renovar, com gestos e não com palavras, o voto de confiança na mandatária.

Em suma – como agir numa situação emergencial – acrescentar dificuldades políticas ou, apesar de tudo, manter a perspectiva de realizar reformas democráticas a partir da afirmação de um governo dirigido pelas forças progressistas?