Liberal democracia, reação ao comunismo

O iluminismo do século 18, há muito esquecido, terá como fim não o esclarecimento do homem, mas o avanço de seu braço no pensamento liberal econômico, e disso para o avanço da ditadura da máquina. Com o tempo, será confundida a vontade de superar a natureza com a competitividade darwinista e a busca pelo poder de domar toda e qualquer adversidade, influindo sobre o pensamento humano e sobre sua paisagem

A sede de prosperidade levou a humanidade ao avanço do imperialismo e das grandes companhias, que concentram cada vez mais poder após as revoluções racional-burocrata e industrial, gerando respectivamente os monopólios empresariais e os Estados nacionais modernos.

Com a instalação da democracia dos liberais, foi dado ao cidadão o direito de ser explorado, e se, exausto, sobreviver e conseguir poupar, poderá aproveitar das “maravilhas” que o seu parco dinheiro puder comprar. Assim seguimos com a série “Democracia, Participação e Cultura (parte 7)”.

Não tardou para que as classes menos abastadas percebessem que diante de promessas de transformações nada havia mudado para as massas que, antes exploradas pelos mestres donos das terras, apenas passaram para condição de explorados pelos donos das fábricas. No século 19 e 20, consolidaram-se, no imaginário do proletariado, as lutas por direitos trabalhistas, igualdade jurídica, estado laico, dignidade e voto universal. Assumiram estas causas não sabendo do que se trata o Estado, nem da essência do poder ou o discurso mestre, ao invés de destituírem estes poderes acumulados, apenas ajudaram a consolidar suas relações de subserviência com a nova ordem estabelecida.

Com a perda de poder da igreja e das monarquias, o homem não mais temeria a Deus, mas a máquina, e não esteve mais na condição de vassalos nos feudos, mas de proletários nas cidades. Não mais quiseram como fim encontrar a boa morte e a redenção nos céus prometida pela igreja, mas o bom consumo oferecido pelo capitalismo e seus pequenos prazeres, fruto do fetiche mercadológico, uma morte lenta e sem redenção, portanto. Deus não teria morrido, como afirmou Nietzsche, mas segundo Aganben (2012) "Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro". O câmbio simbólico do poder da igreja instaurada sobre a humanidade, converteu-se nas relações materiais objetivas, relacionadas ao consumo. O homem encontrou substituição de um senhor pelo outro, de um vício menor, por um ainda maior.

O homem, embrutecido, não mais pelo Estado de natureza, mas pela máquina, como bem exemplificou Chaplin em “Tempos Modernos”, passa a reagir a exploração material, simbólica, existencial. As sonhadas sociedades igualitárias não foram possíveis, tampouco foram efetivados os Estados fortes e independentes prometidos por lideranças autoritárias.

Nesse ambiente de crise entre os feudos e as cidades, ideologias, contradições ocorridas nos primeiros Estados modernos irão empurrar agremiações políticas na Alemanha, comunas em Paris, agitações operárias na Inglaterra, entre outros, em seguidas greves, conflitos pacíficos e armados. Por fim, derrubadas de regimes, culminado com governos de transição comunistas ou anarquistas (a exemplo das revoltas de 1848 e da Comuna de Paris de 1971), que não tiveram muita duração, mas inspiraram gerações de ativistas. O espectro do comunismo que rondou a Europa, e assombra o mundo capitalista até hoje, não por ter se efetivado, mas por ser a maior promessa de transformação nas relações humanas entre oprimidos e opressores desde que surgiu o cristianismo. Razões evidentes para que seus valores construídos no materialismo histórico e científico sejam combatidos violentamente desde então.

Como é sabido, o alemão Karl Marx foi o pioneiro na análise do que ficou chamado por realidade concreta, dos acontecimentos e disputas políticas, ou do jogo político, tendo desenvolvido a perspectiva da análise tanto teórica, quanto prática (Práxis) do ponto de vista do proletariado, e com relação a sua posição de classe.

O materialismo histórico e dialético, iniciado com Hegel, se desenvolveu através de Marx, como afirma Engels no prefácio à terceira edição alemã de “O 18 Brumário”, segundo ele, quem: “primeiro descobriu a grande lei do movimento da história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer se desenvolvam no terreno político, no religioso, no filosófico ou noutro terreno ideológico qualquer, não são, na realidade, mais do que a expressão mais ou menos clara de lutas de classes sociais”.

Portanto, a História seria, segundo os Marxistas, a história da exploração dos homens pelos homens e da luta de classes. Delineando uma visão menos utópica sobre o papel da democracia em um Estado capitalista. Marx definiu o Estado como um arranjo político que age em favor da burguesia industrial e forças capitalistas em oposição ao povo onde as "relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência" (MARX, Karl. Prefácio “Contribuição à Crítica da Economia Política”, 1982, p. 25).

Relações que não formariam oposições entre Estado/sociedade civil, nem de base/superestrutura, mas na realidade um todo social, pensado como uma estrutura formada por níveis específicos, em estreita correlação entre si, portanto, um todo intrincado e desequilibrado (CODATO, Adriano. O 18 Brumário, Política e Pós-Modernismo). A forma dialética histórica adotada por Marx como método de observação da Sociedade, Economia e Política, permitiu a leitura da dinâmica da exploração social e o surgimento das teorias críticas, forçando novas observações sobre a essência do poder, do Estado e da democracia, para além da aparência.

(continua)

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