A polarização política e o ódio de classe

Certas coisas são difíceis de engolir. Ridículas, como as de Arnaldo Jabor, dizendo que é a hora de onça beber água, logo durante o racionamento em São Paulo, fruto de desinvestimentos e falta de planejamento. Onça não vai beber água em São Paulo. Sérias, outras. Alberto Goldman completou uma travessia transformista. Deu-se ao desrespeito democrático, à lá UDN, que Dilma não terá condições de governar, se vitoriosa. Chega a um clima odiento.

Prega-se, de diferentes modos, que “a campanha do PT promove a agressão e o ódio”. Atentemos para isso. Ninguém foi mais agredida e combatida, por pensamentos, palavras e obras, que Dilma Rousseff durante os últimos 3 anos de mandato. Cotidianamente. Duramente. Despudoradamente. Ela foi escrutinada todos os dias durante esse período, e isso foi exacerbado na campanha. Enfrentou até mesmo uma aposta contra o país, com que setores financistas e da mídia monopolizada deram as costas aos interesses nacionais mais uma vez e destilaram preconceitos sociais terríveis.

Quem apostou no “quanto pior, melhor” não foi a oposição? Quem protagonizou a fantástica demonstração de má-educação e reacionarismo político que os manifestantes na Arena Corinthians na abertura da Copa Mundial (aliás, ontem à noite, repetiram o dito nas ruas em frente à PUC)? Então, quem pregou o ódio?

Até o jornalista Fernando Rodrigues, inadvertidamente (?), chega a dizer que as políticas sociais “do PT” são uma vitória mas, ao mesmo tempo, “uma derrota por ter resultado numa divisão política perversa”. Barbaridade: a divisão perversa então não teria sido produzida por décadas e séculos de concentração de renda, exclusão, falta de direitos para as maiorias sociais? Foi “o PT” e nós da esquerda quem promovemos essa situação social?

Aécio só se sustentou, na reta final, explorando o antipetismo, fruto de grandes interesses comprometidos com governos oriundos de forças populares, cevado em três derrotas consecutivas nas eleições presidenciais, ressentido. Instila ódio e incuba o ovo da serpente. O resto é discurso tão “edificante” quanto vazio para enfrentar o essencial: a obra por maior igualdade social e regional, com desenvolvimento e afirmação nacional.

Deviam compreender, eles todos, que essa é a raiz da polarização política brasileira, que transcende os partidos políticos. E que não seria obra rápida promover o resgate histórico dessa situação. Ela precisa enfrentar mais de oito décadas, desde a modernização do país, em que não se consagraram direitos universais para integrar o povo brasileiro à gesta nacional. Esse é o ciclo progressista da América Latina que precisa permanecer e depende de modo fulcral dos resultados de domingo próximo.

Devia se prestar mais atenção ao que disse Leci Brandão, no ato dos intelectuais no Tuca em apoio a Dilma: ”essa gente precisa ser avisada de que a escravidão acabou”.

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