Sem sossego entre formigas, muriçocas, camaleões e pipiras

Respondendo aos muitos e-mails de quem me lê em Minas, que carinhosamente pedem notícias minhas no Maranhão, digo-lhes: estou num entrevero inimaginável com formigas, muriçocas, camaleões; e apenas as pipiras são uma doçura. Estão rindo? É sério! São agruras da vida simples de quem decide morar na zona rural da ilha de São Luís… Nada do idílico tempo de adolescência no povoado Paranã, na Estrada de Ribamar…

Como se não bastasse a falta de sossego que é uma campanha política no Maranhão contra o clã sem destino: os Sarneys, que a cada segundo fustigam com uma nova tramoia, sem eira e sem beira, a ser desmentida, morta e enterrada, tarefas difíceis, porque em meio século eles “pintaram e bordaram” como exemplares camaleões da política – camaleões são personagens de muitas fábulas, nas quais são apresentados como astutos e pouco confiáveis!

Aqui, em minha área, como se fala no Maranhão para dizer o “meu lugar de morada”, estou pensando que a minha casinha foi erguida sobre formigueiros, tamanha a diversidade de formigas: das pequenitas, quase invisíveis, que vovó chamava “formiga de açúcar”, das pretinhas, das vermelhinhas, chamadas de “formigas de fogo”, e até saúvas! O que fazer para uma convivência pacífica e sem venenos com a correição? Estou quase entendendo padre Antônio Vieira: “Porque as formigas se fazem elefantes, não basta toda a terra para um formigueiro” (“Sermão da Terceira Dominga do Advento”).

Alguém conhece um meio ecológico, além das telas nas janelas e portas, de enfrentar muriçocas – “carapanãs” no Pará e “pernilongos” em muitos lugares? Estou precisando!
O forro de minha casa é abrigo de uma patota de camaleões! Segundo um moço que retelhou a casa, serviço que já tive de fazer duas vezes em menos de um ano, ele contou seis bichos adultos lá! O camaleão (do grego “chamai”, que significa “na terra, no chão” + “leon”, que significa “leão”) é um lagarto, mas não é iguana…

Tratados científicos dizem que “todos os camaleões são animais diurnos; a maior parte de suas vidas é solitária, e o hábito solitário só é abandonado na época de acasalamento, quando o macho desce das árvores à procura de fêmeas”. Os meus camaleões vivem em bando, diferentemente do que diz a ciência. Saem do forro quando o sol está a pino, vão comer num matagal próximo e retornam logo! E à noite fazem a festa, numa correria barulhenta que incomoda e dá até medo…

Como afugentá-los ecologicamente? Alguém do Ibama, que os protege, tem uma dica de como não ser obrigada a compartilhar moradia com camaleões? Além do mais, em deferência à minha ancestralidade, o camaleão é um animal sagrado para algumas tribos africanas, pois é tido como o criador dos primeiros seres humanos! Tanto que “nunca é morto, e, quando é encontrado no caminho, tiram-no com precaução, com medo de maldições”. Já na região amazônica, avistar um camaleão é um sinal de bons fluidos, pois é tido como um indicador de boa sorte, e matá-los traz mau agouro! Sendo assim, estou tentando uma convivência harmônica com eles! Garanto que, se não perturbassem a minha sesta e o meu sono noturno, eu os acharia belos!

Sobre as pipiras (Tachyphonus surinamus), aguardem! Fiquem com os versos de João do Vale, em sua música “Pipira”: “Mané, tem um viveiro/ Tem passarinho de toda qualidade/ Zabelê, canário, corrupião/ Pipira, sabiá tem azulão// Rosinha, tava brincando/ Pipira, lhe beliscou/ O dedo inchava, ela chorava/ Ai ai, ai dor… Fica o povo comentando/ Mais um que a pipira beliscou/ E tu também tá engordando”…

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