Não há terceira via

Hoje se divulga nova pesquisa Ibope e ocorre o primeiro debate televisivo com os presidenciáveis. Marina estará entronizada no segundo posto e se desvelarão os reposicionamentos de campanha de Dilma e Aécio no enfrentamento a ela e entre si. Mas há reposicionamento também de Marina em busca da terceira via, após a morte de Eduardo.

Diante das injunções, Marina quer dar vigor à terceira-via por caminho inusitado: e-e. Quer dizer, com FHC e Lula, parodiando. Força difusa, sem estrutura de apoio social orgânico, tem por cima a receita liberal (forçar o tripé macroeconômico) e a chancela de Neca Setúbal, Eduardo Gianetti e Lara Rezende. Por baixo, um sentimento difuso em grandes centros urbanos, de uma meia geração algo desesperançada, em disputa, não capturados ainda por um debate político de projetos para a sociedade. Marina força o componente de imaginário no debate, em especial sobre a bipolaridade política no país.

Amalgamando isso, o jogo contraditório e de alto risco da mídia, que precisa de Marina para um segundo turno mas que, ao mesmo tempo, tentará descontruí-la para viabilizar o plano A, Aécio Neves. A dupla de candidaturas Aécio e Eduardo dava mais conforto a essa estratégia. Mas, além da morte de Eduardo, cresce a sensação quanto à falta de estofo de Aécio e sua dificuldade de dialogar com a sociedade real, acentuada com a entrada de Marina na parada. Enfim, para as forças antípodas ao atual ciclo do país, a ordem é unida: derrotar Dilma; se não der o plano A, vale o plano B, Marina.

Anteriormente no blog (http://waltersorrentino.com.br/2014/05/15/terceira-via-social-liberal/) comentei o possível “social-liberalismo” como base ideológica para a terceira-vai (considerando que a social-democracia enveredou definidamente pelo liberalismo). Afirmava então: “… seria um social-liberalismo aggiornatto para as condições brasileiras. Mas quem disse que há espaço para social-liberalismo num país que ainda constrói um projeto nacional afirmativo? Pode ser só lantejoula transformista (…). E quem disse que há uma base social definida para o social-liberalismo no Brasil? Entre as forças sociais polares do país, nada assegura isso. Eleitoralmente, o apelo de Marina é anti-político na aparência e difuso – um nome eleitoral entre segmentos médios altos e que explora algum mal-estar na sociedade. Isso não é suficiente, e nem posso imaginar um sistema político de governo com os marineiros possa dar conta dos desafios estratégicos do Brasil”.

Nunca se deve subestimar a capacidade de manipulação dos monopólios midiáticos e dos poderosos das finanças, crueis e sagazes nesse mister, e que vão reforçados com a capacidade mistificante da candidata Marina. Mas isso tem limites expressos na avitaminose de Aécio e nas próprias contradições de estratégia política de Marina, que não reuniu consistência para um projeto de poder, releva intolerâncias e idiossincrasias e desagrega na política (o Estadão, em editorial coerente, já firmou balizas e queimou caravelas: Marina presidente seria o imponderável).

A campanha começou de novo. Só ela poderá demonstrar que não existem mais que dois projetos em disputa, um de continuidade e avanços nos trilhos já firmados pelos governos de Lula e Dilma, outra de negação e retrocesso. Não há lugar para dois candidatos antípodas a Dilma porque não haverá lugar para um terceiro projeto, só mistificações em torno de um mesmo caminho, embora os combates sejam diferenciados para lidar com Aécio e com Marina. A capacidade da campanha Dilma comunicar isso, na TV e nas ruas, decidirá a parada, com a exigência de alcançar também o imaginário das grandes parcelas urbanas.

Nesse sentido, Lula é um símbolo de futuro para o projeto, e propostas renovadas de melhoria de vida nos serviços públicos, nas condições de vida das metrópoles, devem se dirigir às mentes e corações. Mas há um outro fator, cujo diferencial é absoluto em favor de Dilma: a politização da campanha, nas ruas, com a militância e a base social de apoio, muito material. Nem tudo pode ser feito pelos programas de TV.

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