As flores de crochê, o trabalho, as pessoas, o mundo

Passado o segundo turno das eleições presidenciais, voltei tranquila à minha rotina de artesã, preparando novos produtos, fotografando e postando na página que criei para isto no face. E essas flores, se me permitem, ficaram mesmo lindas! No entanto, uma preocupação vem crescendo em mim há alguns anos e penso que começar a falar dela pode oferecer alguma contribuição, pra mim inclusive, sobre o mundo composto por pessoas.

Tenho visto todo o tipo de opinião sobre o resultado das eleições, e é claro que não se esperava que quem foi derrotado no processo ficasse feliz! Mas, espanta-me uma formulação de que a troca de grupo no comando do país, por si só, resolveria uma série de problemas crônicos que temos. Não estranho quem deseja que o país volte ao velho rumo, anti-povo. Estes defendem os que lhes interessa. Como sabemos, crônico quer dizer "estado doentio prolongado". Chamo a atenção para o prolongado.

O Brasil é o maior país da América do Sul, que é uma parte do continente americano, que é um dos cinco continentes, tudo isso e os mares dentro do planete Terra. Não, não estou falando de geografia pura e simples. Estou falando de que o Brasil, como qualquer país, é fruto de um processo histórico, que tem particularidades mas que está dentro da mesma economia mundial; num mundo em que ocorrem disputas em vários campos: o econômico, o militar, o político; um mundo em que potências imperialistas ainda buscam usufruir dos países que consideram menos importantes, como se ainda vivêssemos nos tempos da colonização.

Hoje mesmo li um artigo do Vladimir Safatle versando sobre o "povo brasileiro", enquanto uno, não existir. Nisso concordo com ele. Precisamos, como muitos disseram ao longo do processo eleitoral, estudar história. Mas não só a dos governos tucanos, a história do Brasil mesmo. Um país "descoberto" em 1500; que começou a ser ocupado enquanto lugar pra plantações; depois com pessoas pela necessidade de que Portugal não fosse roubado por outros países, ou seja, mandaram pessoas pra cá pra ter guardas no local…Enfim, um país que declarou independência não pelos interesses dos nascidos aqui; depois, em 1889 tornou-se República, mas que ainda assim manteve governos centrais que não o dimensionavam adequadamente.

O que eu chamo de dimensionar adequadamente o país é buscar torná-lo desenvolvido por igual, ou seja, se o Sul e Sudeste já atingiram certas condições de redes de esgoto, saúde e educação, falando em número de construções e em qualidade também, já é mais que hora de levar estas estruturas para onde os índices são menores, ou seja, O Norte e o Nordeste e o Centro-Oeste tem também o direito ao desenvolvimento. Nisso o Brasil não é um e nunca foi.
Chegamos ao tamanho do Brasil: sim, o Brasil é territorialmente enorme. Não, não acredito que dá pra cuidar de tudo ao mesmo tempo. Até aí, nenhuma novidade. Agora, penso, e é o que me preocupe no que tange às pessoas, no que entendemos por construção do nosso país.

Recentemente apareceu no meu face uma história sobre alguém que conversou com um rapaz que acabara de ser preso…negro, envolvido com o tráfico o preso. Penso nela, porque penso nos efeitos de vivermos numa sociedade capitalista, ou seja, orientada em grande medida pelos ditames do capital, que não é uma pessoa mas manda pra caramba!

Dizia o tal "entrevistador" que foi perguntar como, por que o rapaz, tão cedo, foi se envolver com o crime, obtendo como resposta o seguinte, em minhas palavras: primeiro, bem novo foi procurar trabalho numa oficina mecânica porque queria os tênis da moda e sair. A tal oficina, sem registro e oferecendo ao jovem um trabalho precarizado, ou seja, um bico ou subemprego, foi denunciada por vizinhos e fechada. Desemprego. Novamente, o rapaz encontrou outro trabalho precarizado e o empregador, novamente denunciado por não ter registro, não cumprir a burocracia, enfim, fechou. Novo desemprego e crime.

Perdoem-me se não reproduzo adequadamente o texto, procurei um pouco no face, mas não encontrei. Mas preocupam-me algumas coisas que leio num relato, mesmo impreciso, mas que tenha a intenção de dizer que não tem problema um jovem encontrar subemprego, bico, precariedade, qualquer coisa sem perspectivas. E também a motivação para ir tentar ganhar dinheiro. Claro, qualquer alternativa dentro da lei é melhor do que tornar-se criminoso, mas é dentro da lei aproveitar a mão de obra de um jovem pra explorar indiscriminadamente, por mísero salário, sem condições nem perspectivas?

Cedo as prioridades e/ou necessidades identificadas pelos meninos e meninas tem relação com bens, consumo. Estudar frequentemente está relacionado a fazer faculdade nos cursos cujas profissões tem melhor salário no mercado, não se pensando prioritariamente nas aptidões pessoais, por exemplo.

Finalizando, penso em quantos de nós estão dispostos a construir um país para todos? Quantos de nós estão querendo se livrar dos problemas, não importa como, ao invés de os resolver? Qual a diferença entre uma coisa e outra? Acho que pensar nestas questões é uma boa forma de aproveitar essas mobilizações, pró e contra "Dilma", que vivemos este ano.

Estando do lado que se sente vitorioso nesta eleição, sinto-me também na obrigação, como sempre me senti, de contribuir com a construção do país. Por isso, tendo conseguido fazer faculdade, passei dois anos lecionando voluntariamente num pré-vestibular comunitário; tendo conseguido reunir minha biblioteca empresto livros; sendo mãe ensinei meus filhos a serem cidadãos e ensino ainda; e sendo pós-graduanda incluí este ano estudos sistemáticos sobre a história do Brasil, com especial atenção a pesquisas nos arquivos da ditadura. Pretendo continuar conversando. A tarefa é enorme, e o Brasil também!

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