O dobre de finados do pan-americanismo imperialista

Tive a honra de fazer na última quinta-feira (16), em São Paulo, em nome do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), a conferência inaugural da Semana de Relações Internacionais das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), organizada pelo Conselho Institucional dos Estudantes de Relações Internacionais (Cieri).

É sempre gratificante expor para estudantes e professores de Relações Internacionais opiniões sobre a época atual que se caracteriza por dilacerantes crises, explosivas contradições, instabilidade e acidentadas transições nos aspectos econômico e geopolítico. É nesse marco que se insere a integração latino-americana e caribenha, o tema que me foi proposto.

O debate sobre política e relações internacionais apenas aparentemente está distante do cotidiano das pessoas, mas na essência tem tudo a ver com a vida, o trabalho e as lutas da população. Por isso mesmo, acabou fazendo parte do debate eleitoral em curso. Aécio Neves e Marina Silva deixaram claro ao longo da campanha que preferem o Brasil distante dos seus parceiros atuais e mais próximo dos Estados Unidos e da União Europeia. Assim, no dia 26 de outubro, a população se pronunciará também sobre qual a melhor política externa para o país – se a subordinação às potências imperialistas ou a luta contra o hegemonismo, pela democratização das relações internacionais, a plena vigência do direito internacional, os direitos dos povos, a soberania nacional, a integração solidária e a paz mundial.

Na região latino-americana e caribenha estão em construção mecanismos de integração regional que permitem aos países em desenvolvimento defenderem-se em um cenário mundial de crise econômica e ameaças à paz, abrindo a possibilidade de edificar novas alternativas para o desenvolvimento e de constituir um polo geopolítico que enseja novas correlações de forças.

É fenômeno positivo, nesse marco, a construção dos mecanismos de integração latino-americana e caribenha – Mercosul, Unasul, Celac e Alba.

A União das Nações do Sul (Unasul), que reúne os 12 países da América do Sul, visa a construir um espaço de articulação em todos os âmbitos – político, econômico, social, científico e cultural – entre nações soberanas. O organismo sul-americano prioriza a solidariedade, a cooperação e o diálogo, com vistas a criar o ambiente de diálogo, segurança e paz. A Unasul está criando uma nova diplomacia, o que pode ser exemplificado com a participação que teve na solução das crises políticas na Bolívia (2008), Equador (2010), Paraguai (2012) e Venezuela, em 2014, sempre condenando aventuras golpistas e antidemocráticas e a intervenção estrangeira.

Por seu turno, a fundação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em dezembro de 2011, numa reunião dirigida pelo saudoso presidente venezuelano e comandante da Revolução Bolivariana, Hugo Chávez Frias, foi um fato de tamanha dimensão que o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, disse tratar-se do acontecimento institucional mais importante da região no espaço de um século, e o presidente atual de Cuba, Raúl Castro, destacou o caráter transcendental do fórum, reivindicando mais de dois séculos de lutas e esperanças.

A Celac, ao lado da Unasul e da Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América (Alba), afiança-se como instrumento de diálogo e defesa da identidade, aspirações e culturas regionais, sob o princípio básico da inclusão dos 33 países independentes da América Latina e do Caribe, emergindo como um dos fatores propulsores de novos equilíbrios no mundo, um ator diferenciado na cena internacional, contraposto aos hegemonismos imperiais, credenciado a contribuir para o advento de nova ordem política e econômica mundial.

A existência desse conjunto de mecanismos de integração soberana e solidária entre povos e nações independentes constitui uma “revolução institucional” na região e faz soar o “dobre de finados” do pan-americanismo sob a hegemonia do imperialismo estadunidense.

Para os acadêmicos em Política e Relações Internacionais o tema da integração é fascinante como objeto de reflexão, estudo e análise e ao mesmo tempo suscita o justo orgulho da geração atual que se sente como sujeito de um novo momento da história, em que se constroem os instrumentos para uma nova ordem mundial de cooperação entre os povos e paz.

Nesse sentido, é salutar o papel desempenhado pelos Cieri’s, ao organizar eventos como a Semana de Relações Internacionais. Recentemente, em 30 de agosto, o Cebrapaz participou de evento realizado pelo Cieri da Universidade Paulista (Unip), ocasião em que se comemorou o dia de ação global contra a Otan. Isto enriquece a vida acadêmica e contribui para formar consciências em favor de um mundo de desenvolvimento, equilíbrio, cooperação e paz, o que está na contramão da ideologia hegemonista e belicista difundida pelas potências imperialistas.

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