Pesquisas, PIB e vida real

Outro dia, um importante empresário europeu comentou aqui no Recife a absoluta discrepância entre o olhar estrangeiro (dos investidores, sobretudo) acerca da cena brasileira e a visão predominante na mídia tupiniquim.

Fosse verdade o que se lê nos jornais e revistas semanais e sites e o que se vê na TV e ouve no rádio – disse ele -, o Brasil estaria mergulhado em profunda recessão, o desemprego teria assumido proporções “espanholas” e o ambiente social seria de revolta ou caos. Porém, apoiado em números concretos, e comparando a situação brasileira com a do resto do mundo, asseverou (expressando a opinião reinante lá fora) que aqui reside, em meio à crise global, parte das melhores oportunidades de negócios – especialmente porque não há recessão, a oferta de emprego se mantém estável e o mercado interno continua em expansão.

De fato, a mídia hegemônica de há muito abandonou a missão de informar, trocando-a pela propaganda explícita de sentido político. Na oposição ao governo federal, todos os mecanismos de deturpação dos fatos são empregados para fomentar uma opinião pública insatisfeita e tendente à mudança no pleito presidencial que se aproxima.

Dentre muitos, dois itens frequentam o noticiário e ocupam os “analistas”: as pesquisas eleitorais e o desempenho do Produto Interno Bruto. E associada a ambos, a cantilena de que o “mercado” estaria inseguro diante da possibilidade da atual presidenta renovar o seu mandato.

O ridículo e odioso episódio do Banco Santander, que veio à tona dias atrás, diz bem desse tal “mercado” referido como se fora a expressão do sentimento da maioria da população. Nada mais é do que o setor rentista, empenhado em fomentar as candidaturas de oposição e pautar o aparato midiático.

As pesquisas eleitorais teimam em revelar uma enervante (para eles) estabilidade das intenções de voto na presidenta Dilma, a despeito do implacável bombardeio diário disseminado em todas as mídias. Com a possibilidade real de uma sensibilização forte da maioria dos eleitores a partir da veiculação do programa eleitoral gratuito na TV e no rádio, quando a atual mandatária poderá expor o conjunto da obra.

Quanto ao PIB – assim como o terrorismo inflacionário -, por mais que se faça alarde do baixo crescimento da economia (omitindo-se os condicionantes externos negativos), que é concreto, não parece ter aderência na percepção do eleitor.

Há, assim, um contraste notável entre a pregação oposicionista midiática e a vida cotidiana. Estima-se que um terço dos lares brasileiros abriga famílias beneficiadas pelos programas sociais do governo federal – uma das razões para a enorme dificuldade da candidatura de Aécio Neves (e também da de Eduardo Campos) penetrar no Nordeste e no Norte, que numericamente desequilibram a tendência majoritariamente oposicionista do eleitorado do Centro-Sul.

O eleitorado classificado pelos padrões mercadológicos como pertencente aos segmentos C, D e E provavelmente não se dispõe a trocar sua relativa segurança atual, resultante da melhoria objetiva das suas condições de existência, por um apoio a candidaturas oposicionistas que acenam com o desconhecido – ou, pior, para uma volta ao passado recente de grandes vexames para o povo trabalhador.

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