Muito cuidado com o PIB

Há muita conversa fiada de economista sobre o PIB e o seu real significado. A produção anual de bens e serviços (que deve equivaler à renda anual da mesma sociedade) transformou-se no único instrumento de percepção sobre o andamento da economia, virou caricatura ou careta.

Principalmente agora, em plena campanha eleitoral, em que o coro do pessimismo mentiroso procura passar na mídia uma situação catastrófica que estimule o mal-estar dos empresários e dos consumidores, impõe-se como dogma que o crescimento do PIB no Brasil tem sido e está sendo pífio, menor que 2%. Com isto, tentam ofuscar a complexidade da situação em um mundo conturbado, que o próprio PIB – como média abstrata – está encarregado de medir.

Thomas Piketty, em seu badalado livro sobre o capital, informa que, secularmente, o PIB mundial tem crescido desde a revolução industrial a taxas anuais médias modestas: de 1700 a 1820 a 0,5%; de 1820 a 1913 a 1,5% e de 1913 a 2012 a 3,0%. Como média geral, de 1700 a 2012, o crescimento anual foi de 1,6%.

Embora todos queiramos PIB alto, é errado alardear a exigência de taxas altas, mágicas e continuadas (que ocorrem apenas durante períodos determinados para determinadas sociedades) e desprezar as medidas de outros aspectos da realidade econômica que são tão importantes como o PIB: crescimento da população, PIB per capita, renda distribuída ou concentrada, ganhos reais de salários, aumentos da produtividade e alguns outros.

Vou dar um exemplo: com o PIB brasileiro patinando em torno de 2%, os químicos da indústria farmacêutica de São Paulo fecharam este ano acordo salarial em que o aumento real do piso profissional da categoria foi de 4,18%. Para os dirigentes sindicais químicos e para os empregados que recebem o piso, que número reflete, no fim das contas, a sua realidade monetária relativa e circunstancial: 2% ou 4,18%?

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