Lei Pelé: Resquícios Neoliberais na relação Jogador-Clube

Neste mês que assistimos em nosso país a Copa das Copas fora de campo e o vexame dos vexames dentro dele, é chegado o momento de refletirmos sobre o futebol que temos e o futebol que merecemos. Neste artigo de hoje vou comentar exclusivamente sobre a Lei Pelé, mas ainda falarei futuramente da CBF e seus dirigentes.

Evidentemente que é preciso olhar com calma sobre o processo de europeização que nosso futebol viveu nos últimos 20 anos, especialmente depois da vitória brasileira na Copa de 1994, que consolidou um processo técnico e tático que empobreceu de maneira imensa o talento e a criatividade dos centro campistas a serem formados nas categorias de base desde então.
Conhecidos por serem grandes reveladores de craques, até meados dos anos 90, os times de futebol possuíam uma imensa autonomia sobre seus jogadores, especialmente sobre as chamadas “joias” da base. De maneira a fortalecer o empresariado, que até então não tinha tanta presença nas categorias juvenis, criou-se a Lei Pelé durante os anos 90 (governo FHC) com o argumento de libertar os jogadores de seus times, ou seja, acabar com a escravização do atleta pelo clube.

Entretanto, esta Lei, a meu ver uma forma neoliberal de lidar com o problema, buscava na verdade flexibilizar as garantias dos trabalhadores, enfraquecendo os times e fortalecendo os especuladores do mercado futebolístico.
Tal situação trouxe então um novo desafio: libertar os jogadores (especialmente os mais jovens) dos empresários da bola. É só ir ao um jogo ou treino da base de um grande clube para ver de perto esta situação.

Juntamente com o poderio crescente dos empresários, vimos um enfraquecimento dos times de futebol como instituição, estando a maior parte deles a beira da falência ou devendo ao fisco milhões de reais. Esta situação transformou os clubes brasileiros em revendedores de craques, situação que piora ano a ano…

Para conseguir vender mais e melhor a sua matéria prima (atletas) aos grandes centros europeus, os empresários passaram a pressionar os clubes a moldarem, desde a base, seus jogadores ao estilo europeu, sendo capazes de não aceitarem jogadores mais baixos ou mais magros, devido à busca de um biótipo pré-determinado, o do atleta forte, grande e de grande vitalidade física.

Como a experiência de um time recheado destes atletas deu resultado com o Brasil de Parreira em 1994, isto passou a ser seguido aos poucos pela maior parte dos clubes de futebol do país, sendo exceções somente atletas muito acima da média, como Neymar ou Lucas, por exemplo.
Os jogadores que fugiam (ou fogem) deste biotipo descrito passaram a ser deixados de lado, se tornando presas ainda mais fáceis para os empresários os levarem para Europa a preço de banana, ficando o clube formado com nada ou quase nada, como foi o caso do imbróglio jurídico do meia Oscar com seu time formador, o São Paulo, por não se sentir valorizado em detrimento de outros volantes ou meias do elenco de então.

Outros exemplos disso não faltam, como David Luiz e Daniel Alves, negociados ainda na base e que quase nada renderam financeiramente a Vitória e Bahia, clubes que os formaram desde a infância, foram relegados por zagueiros e volantes brucutus na hora da subida para o profissional.

Reestruturar este processo de formação de atletas e acabar com a Lei Pelé fortalecendo os clubes como entidades formadoras de atletas são pilares fundamentais se quisermos debater a fundo a situação de nosso futebol, pois da maneira que estamos, logo iremos parar de torcer para clubes, mas passaremos a torcer para os empresários, afinal de contas, até times fantasmas para registro de jogadores eles já possuem mesmo…

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