O adeus de Betinho

O samba paulistano perdeu na última semana um dos seus ícones: Alberto Alves da Silva, o popular Betinho, filho do Seu Nenê, fundador de uma das mais tradicionais agremiações de samba de São Paulo, a Nenê de Vila Matilde. A história de Betinho se confunde com a história de evolução, estagnação, modernização e, consequentemente, do inevitável embranquecimento das escolas paulistanas, sobretudo neste início de século 21.

Filho mais velho de seu Nenê, Betinho era a encarnação da alma de uma escola de samba, conhecia como ninguém as engrenagens que giram dentro e fora de um barracão, da idealização de um samba enredo ao sambar no pé, a evolução, a harmonia, a fantasia, a simpatia e o carisma essenciais para o sucesso do espetáculo.

Mas o menino que aprendeu no quintal casa a fazer carnaval sentiu com a morte do pai a difícil tarefa de administrar um legado que não dependia mais pura e simplesmente da arte de fazer alegria. A festa agora virou espetáculo para o mundo, e com isso a necessidade de muito dinheiro no qual nem Betinho e nem a maioria das famílias negras, que a quatro ou cinco gerações estavam saindo do regime escravocrata, aprenderam ainda a lidar.

A morte de Betinho prenuncia o fim de um ciclo de famílias negras que construíram e administraram por décadas a alegria do carnaval num período em que o espetáculo não era apenas um negócio que movimentava milhões como na atualidade, o que infelizmente tem levado algumas agremiações se tornarem reféns do seu próprio destino de arrecadar cada vez mais dinheiro para poder se manter de pé e competitiva.

Um destino que está levando escolas como a própria Nenê, Camisa Verde Branco e Peruche, entre outras, à difícil decisão de entrar no esquema financeiro da modernização ou desaparecer no anonimato, como os seus antigos dirigentes.

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