PF cerca PSDB, prende Paulo Preto e faz busca em endereços de Aloysio 

A operação “Ad Infinitum”, 60ª fase da Lava Jato, promoveu nesta terça-feira (19) um cerco ao PSDB-SP – o diretório tucano que abriga nomes como José Serra, Geraldo Alckmin e João Doria. Deflagrada pela Polícia Federal de Curitiba, a ação prendeu o ex-diretor da Dersa e homem-bomba do PSDB, Paulo Preto. A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-senador Aloysio Nunes, que foi chanceler no governo Temer e hoje preside a estatal paulista Investe SP (gestão Doria).

Aloysio Nunes e José Serra

A operação investiga um complexo esquema de lavagem de dinheiro praticado pela Odebrecht, por Paulo Preto e outros três operadores, entre 2007 e 2017. Segundo o Ministério Público Federal do Paraná, a corrupção do PSDB-SP, apenas nesse esquema, movimentou R$ 130 milhões – que correspondem ao saldo de contas controladas por Paulo Preto na Suíça no início de 2017.

Numa dessas contas, segundo o MPF, foi emitido um cartão de crédito em favor de Aloysio Nunes, em dezembro de 2007, na semana entre o Natal e o Ano-Novo. O cartão teria sido entregue ao tucano num hotel em Barcelona, na Espanha. Na época, Aloysio era secretário da Casa Civil do governo de São Paulo (gestão José Serra).

As investigações são baseadas em informações colhidas no sistema de propinas da empreiteira Odebrecht. Para avançar na apuração, 12 mandados de busca foram expedidos, com foco em endereços de Paulo Preto e Aloysio.

“Caixas-pretas”

Considerado um dos mais graúdos operadores do PSDB, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, é acusado de ter beneficiado a empreiteira, disponibilizando valores em espécie ao Setor de Operações Estruturadas, que comandava o pagamento de propinas. O ex-diretor da Dersa também recebeu valores em suas contas na Suíça das empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, igualmente investigadas na Lava Jato.

Essas contas bancárias foram encerradas no primeiro trimestre de 2017, depois de o acordo da Odebrecht ter se tornado público. Em seguida, os valores foram transferidos para contas nas Bahamas. Para o procurador da República Júlio Noronha, ainda há “várias caixas-pretas que precisam ser abertas”.

Paulo Preto teria disponibilizado, no segundo semestre de 2010, R$ 100 milhões em espécie para um operador no Brasil, que teria entregado os valores ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, aos cuidados de um doleiro. Esse doleiro pagava propinas, a mando da empresa, a vários agentes públicos e políticos.

Entre os favorecidos, estavam executivos da Petrobras, como Paulo Roberto Costa, Roberto Gonçalves e Pedro Barusco. Aí estaria o vínculo com a Lava Jato de Curitiba, a quem cabe apurar desvios na estatal de petróleo. Segundo o MPF, propinas foram pagas pela empreiteira, em espécie, para seis diretores e gerentes da Petrobras.

Documentos fornecidos pela Odebrecht e apreendidos em fases anteriores da Lava Jato, depoimentos de colaboradores, troca de mensagens, relatórios de informação e extratos embasam a investigação. “Foi fundamental a obtenção de evidências mediante a cooperação internacional entre o Brasil e quatro países: Suíça, Espanha, Bahamas e Singapura”, diz o procurador Roberson Pozzobon. “Os mandados de busca e apreensão que estão sendo cumpridos hoje visam a obter outras peças dessa gigantesca figura criminosa.”

Outros casos

O ex-diretor da Dersa já é alvo de investigação pela Lava Jato em São Paulo, que apura desvios em obras rodoviárias no estado. Mas, segundo os procuradores de Curitiba, sua atuação no governo estadual não é alvo da investigação desta terça, que se concentra em seu papel de operador da Odebrecht.

No início deste mês, o Ministério Público Federal pediu à Justiça que o ex-diretor da Dersa seja condenado a cerca de 80 anos de prisão na primeira ação da Lava Jato de São Paulo. Nela, o ex-diretor é réu sob suspeita de peculato (desvio de dinheiro público), inserção de dados falsos em sistema de informação e formação de quadrilha.

A Procuradoria diz que ele desviou verbas públicas em reassentamentos de moradores para a construção do trecho Sul do Rodoanel. O anel viário, que circunda a capital paulista, ficou justamente sob a responsabilidade da Dersa. Cerca de R$ 7,7 milhões na ocasião (valor que, corrigido, ultrapassa hoje R$ 10 milhões) foram desviados. Paulo Preto ainda teria beneficiado quatro empregadas suas com unidades da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e auxílios-mudança, que deveriam ir para os atingidos pela obra.

Uma decisão do ministro do STF Gilmar Mendes deve levar esse caso à prescrição. Assinada na semana passada, essa decisão liminar (urgente e provisória) anula a fase final do processo e reabre a possibilidade de produção de provas por parte dos réus, fazendo com que a tramitação seja mais demorada.

A prescrição de parte dos crimes atribuídos por delatores a Preto é dada como certa por investigadores do caso em São Paulo. Isso porque ele completa 70 anos em 7 de março, daqui a quatro meses. Com isso, a possibilidade de que as apurações sobre o principal caso em que ele é citado avancem depende de documentos que ainda serão despachados pelo Supremo.

O ex-senador Aloysio Nunes, por sua vez, já foi alvo de um inquérito no STF que apurava doações irregulares à sua campanha ao Senado, em 2010. A investigação foi arquivada no fim do ano passado, por falta de indícios mínimos de autoria ou materialidade.

Da Redação, com agências