Geraldo Alckmin e o partido de Silvério dos Reis

Candidato da direita apresenta suas diretrizes de governo, uma reedição do projeto de demolição do Brasil moderno e uma receita certa para castigar o povo.

Geraldo Alckmin - Foto: Reprodução GloboNews

É fácil imaginar o Brasil com Geraldo Alckmin na Presidência da República. Em sua participação no programa de entrevistas “Central das Eleições”, do canal de televisão GloboNews, do Grupo Globo, ele recitou a velha cartilha do projeto neoliberal de alto abaixo. Pregou as “reformas” do Estado para acabar com direitos sociais e democráticos (como as “reformas” da Previdência Social e política), além de defender a entrega do petróleo e gás do pré-sal para empresas estrangeiras, a privataria e o fim da gratuidade nas universidades públicas.

As propostas do candidato da direita entram por outros caminhos tortuosos, como a facilitação de posse de armas no campo, a extinção do Ministério do Trabalho e a manutenção do desmonte da estrutura sindical e da legislação trabalhista. Em resumo: é a reedição piorada do projeto que marcou o país nos anos 1990, de demolição dos saltos civilizatórios, e que mostrou seu potencial destrutivo nesses dois anos do governo golpista de Michel Temer. Na torre de comando da campanha de Alckmin o painel de controle revela abertamente os fios condutores que ligam suas propostas com aquela época.

Ao se constatar essa premissa, emerge aquela constatação do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, que presidiu a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) nos anos 1990, de que no Brasil há dois partidos: o de Tiradentes e o de Joaquim Silvério dos Reis. Ele fez essa afirmação em 1968, no livro "Presença de Alberto Torres", escrito para reagir contra o entreguismo dos militares golpistas.
Também no período de hegemonia neoliberal, o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, afirmou que o golpe de 1964 não acabou com o processo de redemocratização; foi completado com os presidentes Fernando Collor de Mello e principalmente Fernando Henrique Cardoso (FHC).

De acordo com Arraes, Collor e FHC repetiram, com suas políticas de destruição do patrimônio nacional construído nos anos que precederam os seus governos, a política do general Eurico Gaspar Dutra, eleito em 1945, que dilapidou os recursos que foram acumulados durante a guerra, no governo de Getúlio Vargas. O pior, disse ele, foi que FHC fez tudo isso com um sorriso na televisão; os militares ao menos tinham o lado duro.

Vício Neoliberal

As ideias de Alckmin é a continuidade disso tudo, a negação do conceito político que fez o Brasil entrar firme em sua fase moderna, quando o Estado deu prioridade à acumulação de capital físico (máquinas, equipamentos e instalações industriais) — política adotada sobretudo pela “era Vargas” basicamente por meio do BNDES, da Telebrás, da Eletrobrás, da Siderbrás, da Nuclebrás e da Petrobrás e se abriu para as questões sociais.

Não há problema em defender publicamente essa plataforma política. O problema aparece quando ela se esconde em argumentos hipócritas. Um debate eleitoral sério deve ser intransigente com a ética e com a verdade. Fora disso, tudo o mais é demagogia. Alckmin, enfim, está mordido pelo vício neoliberal de pregar uma coisa e fazer outra. Ou seja: promete fazer o que seu projeto de governo nega.