A revolução chamada Nadezhda Krupskaya

Ela foi muito mais que a mulher de Lênin. Apaixonada pela política, Nadezhda embarcou numa viagem revolucionária, escreveu o primeiro texto feminista russo e impulsionou a celebração do Dia Internacional da Mulher no seu país.

Krupskaia

“Nadezhda” é sinónimo de esperança em russo. Para muitos, tal como o seu nome, a mulher de quem falamos transmitia fé e uma promessa de um mundo novo, feito de uma igualdade entre classes sociais e gêneros. Passaram 80 anos desde a morte, no dia 27 de fevereiro de 1939, da mulher feminista e figura determinante no movimento radical que impulsionou a Revolução Russa e influenciou a celebração do Dia Internacional da Mulher na Rússia.

Eis Nadezhda Krupskaya, ou “Nadya”, o seu diminutivo, rosto feminino que deixou marca na política mas que continua em boa medida a ser conhecia pelo casamento com o líder soviético Vladimir Ilich Ulianov ou Lênin. Nasceu num gélido inverno, no dia 26 de fevereiro em 1869, numa família pobre em São Petersburgo, porém a sua paixão pela política aquecia e estimulava o seu caráter. Enquanto adolescente, Nadya apaixonou-se pela teoria da educação democrática do escritor russo Leo Nikolayevich Tolstói, que defendia que a ciência não devia ser utilizada como uma arma de exploração pela elite, mas sim democratizar-se.

Aos 25 anos, associou-se a um grupo de estudo Comunista clandestino, e embarcou numa viagem revolucionária. Envolveu-se numa organização de trabalhadores de uma fábrica de construção, deu aulas noturnas de alfabetização aos operários e criou o seu primeiro panfleto “The Woman Worker” (versão em inglês) que foi escrito em 1899 sob o pseudónimo de “Sablina”. O panfleto foi publicado dois anos depois através da imprensa clandestina “Iskri” (faísca em russo), mas devido à repressão durante a Revolução de 1905, o primeiro texto feminista significativo sobre a situação das mulheres na Rússia foi banido.

Pode ver a versão original do trabalho escrito de Nadezhda Krupskaya, que está disponível online num site russo.

A feminista revolucionária conheceu a sua segunda paixão – Lênin – em 1894, numa reunião de um grupo comunista. Desde muito cedo que a relação obrigou a um constante bailado entre a acção política, a fuga da polícia e as cartas secretas trocadas, nas quais usavam uma tinta invisível para passar mensagens codificadas. No seu livro as “Memórias de Lenin”, Nadiya recorda o interesse do companheiro pelas condições da classe trabalhadora, revelando ainda que aos domingos costumava visitá-la, “para ouvir as minhas intermináveis conversas sobre o meu trabalho nas fábricas”, escreveu.

Krupskaya sempre apoiou e colaborou na luta ao lado do marido, lançando uma série de bases que mais tarde dariam origem ao Partido Bolchevique, para o qual contribuiu na qualidade de secretária e tesoureira. Em 1910, o caráter corajoso de Nadiya impulsionou o Dia Internacional da Mulher na Rússia, que foi celebrado pela primeira vez em 1913. Quatro anos depois, no dia 8 de março de 1917, a greve, liderada por mulheres trabalhadoras têxteis, enformou o Dia Internacional da Mulher e, ao mesmo tempo, serviu de acendalha para a segunda Revolução Russa.

Após a morte de Lênin, em 1924, a luta pela continuidade do processo revoluciário sob a condução de Josef Stálin resultou numa sistemática onda de intrigas contra o poder soviético e surgiram acusações de que ela não teria sido aceita naquela nova fase da Revolução. No dia do seu aniversário, em 26 de fevereiro de 1939, recebeu a visita de camaradas do Partido Bolchevique. Nadiya morreu no dia seguinte.

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As informações básicas deste texto, com a versão de que Stálin teria perseguido Nadiya, são do site português Observador