Manuela d’Ávila critica projeto que acaba com a cotas para mulheres

Por Bruno Luiz Santos  – A Tarde

Manu

A ex-candidata a vice de Fernando Haddad (PT), Manuela D’Ávila (PCdoB), criticou nesta sexta-feira, 8, o projeto de lei do senador Angelo Coronel (PSD-BA) que propõe o fim da cota mínima de 30% de candidaturas femininas nas eleições proporcionais. A ex-deputada estadual veio a Salvador para lançar o livro “Revolução Laura”, em que traz reflexões sobre a maternidade e o período no qual concorreu às eleições de 2018. O evento aconteceu nesta noite, na Casa Ninja, na Barra, em Salvador.

Ao A TARDE, Manuela afirmou que a proposta de Coronel é “equivocada”. Para ela, as mulheres não podem ser penalizadas pelas candidaturas-laranja, uma referência ao escândalo das candidatas de fachada envolvendo o partido do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Uma das justificativas de Coronel para apresentar o projeto foi que as cotas propiciam o surgimento de candidatos-laranja. “Ao invés de fortalecer mecanismos para punir quem frauda as cotas, como o partido do presidente, o projeto pune as mulheres. Esse é o erro”, protestou.

Manuela também criticou o padrão ético do governo Bolsonaro. O presidente se elegeu com discurso de combate à corrupção, mas vê seu partido imerso em denúncias de crime eleitoral. Uma delas causou a exoneração do secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. No entanto, outro escândalo envolve atualmente o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, acusado de patrocinar um esquema de candidaturas-laranja em Minas Gerais. “É um governo fake, que cria factoides para esconder seus interesses. É um governo antinacional que se diz nacionalista. Diz que ama o Brasil acima de todos, mas divide a população com ódio”, rechaçou Manuela.

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Presentes no evento, correligionárias de Manuela endossaram as críticas à proposta de Coronel. A deputada federal Alice Portugal classificou o texto como “inoportuno e descontextualizado”. Ela relembrou que, pela primeira vez, a Câmara tem 10% de deputadas e disse que este é o momento de ampliar iniciativas para aumentar a participação das mulheres na política. “É só cumprirmos a lei que teremos mais mulheres aptas a concorrer”, opinou.

Para a deputada estadual Olívia Santana, o projeto “desmantela” uma conquista feminina. Segundo a parlamentar, é preciso reconhecer que as mulheres têm desvantagem em relação aos homens nas disputas por espaços de poder.

“Nós não temos historicamente as mesmas condições de disputa de poder que os homens. É preciso oportunizar isso”, destacou, ao relembrar que, desde 1932, quando a mulher conquistou o direito ao voto no Brasil, foi somente em 2018 que o país conseguiu eleger 77 deputadas federais – a Câmara tem 513 deputados.

“Se não tivesse essa lei [de cotas], certamente eu não teria sido eleita. Talvez eles tenham medo disso [do crescimento da participação das mulheres na política]. É uma crescente. Mais mulheres podem se eleger, e a entrada de mulheres significa que algum homem tem que sair”, avaliou.

A parlamentar também disse que o projeto de Coronel é um desrespeito às mulheres, principalmente ao eleitorado feminino que resolveu votar nele, mesmo após a saída de Lídice da Mata da chapa majoritária da candidatura de Rui Costa à reeleição, que gerou protesto de movimentos feministas à época.

“Muitas mulheres avançadas, feministas votaram nele para que pudessem evitar a eleição de um senador apoiado por Bolsonaro [referência indireta a Irmão Lázaro]. Aí ele faz isso, apresenta um projeto nefasto desses”, lamentou.


O evento aconteceu nesta noite, na Casa Ninja, na Barra, em SalvadorO evento foi realizado na Casa Ninja, situada no bairro da Barra

Recepção para Manuela

A ex-candidata a vice de Haddad foi recebida com ares de pop star da política pelos soteropolitanos. O lançamento do livro levou centenas de pessoas à Barra, que formaram uma extensa fila para obter autógrafos, fotos e selfies com Manuela. Quem também chamou atenção de quem foi ao evento, pela fofura, foi Laura, a filhinha de 3 anos da ex-deputada. A menina dá nome ao livro.

O público infantil também compareceu em peso ao lançamento. Acompanhadas dos pais, elas aproveitaram para tirar fotos com Manuela ou também para interagir com Laura. Era possível ver muitas meninas vestidas com uma camisa preta com a inscrição “Lute como uma garota”, frase que exalta a força feminina.

Mas foi possível encontrar também adultos emocionados com a presença da ex-candidata a vice. Foi o caso da cantora e estudante de Jornalismo Lilian Casas, que veio com a família de Itabuna para encontrar a comunista. Ela não segurou as lágrimas quando esteve frente a frente com Manuela.

“Ver a Manuela em meio a tudo isso que está acontecendo, por tudo o que ela está sofrendo nas redes sociais, a gente se sente acarinhado, com força e energia, com a certeza de que estamos no caminho certo”, disse sobre o motivo da emoção.

Correligionários de Manuela, como o deputado federal Daniel Almeida e o presidente estadual do PCdoB e secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Davidson Magalhães, também compareceram ao evento.

Mais cedo, ela participou também da Marcha Unificada das Mulheres, um ato sobre o Dia Internacional da Mulher. Na manifestação, que saiu da Praça da Sé e terminou no Campo Grande, o projeto de Coronel foi um dos principais alvos de protesto das mulheres.