Milhares protestam contra a extrema direita na Itália

Italianos saem às ruas de Milão contra políticas anti-imigração do governo em Roma, que consideram excludentes e racistas. Com o lema "Pessoas primeiro", manifestação reúne 200 mil participantes, segundo a prefeitura.

Italia fascismo - Foto: AP Photo/L. Bruno

Uma multidão saiu às ruas de Milão, no norte da Itália, neste sábado (02/03), em protesto contra políticas do governo federal consideradas excludentes e racistas pelos opositores. Segundo autoridades, cerca de 200 mil pessoas participaram do ato contra a extrema direita.

A marcha, que reuniu italianos de todas as idades, percorreu alguns pontos da cidade, antes de aglomerar os manifestantes na praça central em frente à famosa Catedral de Milão.

Apesar de político, o protesto foi bastante festivo, embalado por música e com pessoas tocando bongô e trompetes. Uma das canções entoadas foi Bella ciao, que se tornou símbolo da resistência italiana contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial.

Os manifestantes carregavam ainda uma variedade de bandeiras, como a da Itália, a da União Europeia e a do movimento LGBT, além de centenas de emblemas de organizações da sociedade civil que se uniram à manifestação.

O ato teve como lema "Prima le persone" (as pessoas primeiro), em referência ao slogan "Prima gli Italiani" (primeiro os italianos), usado pelo ministro do Interior da Itália, o populista de direita e anti-imigração Matteo Salvini.

Faixa traz os dizeres "as pessoas primeiro" em italiano, que foi lema da manifestação

A manifestação, cujo manifesto dizia condenar "a política de medo e a cultura da discriminação", foi convocada por vários grupos e organizações sociais descontentes com a política adotada pelo governo federal referente à acolhida de imigrantes.

"Inclusão, igualdade de oportunidades e uma democracia real para um país sem discriminação, sem muros e sem barreiras", pediam os organizadores no manifesto.

O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, descreveu a manifestação como "um testemunho político poderoso de que a Itália não é somente o país como se tem descrito atualmente".

"É um momento de grande mudança para o país, e esta é a nossa visão de Itália", acrescentou Sala, que participou do ato na capital financeira da Itália.

Música e dança embalaram o protesto pacífico deste sábado

"Somos a Itália que diz 'basta'", escreveu, por sua vez, o assessor da cidade para políticas sociais, Pierfrancesco Majorino, no Twitter. Foi ele quem informou a estimativa de 200 mil participantes na "marcha alegre, festiva e pacífica, de todas as cores".

Também estiveram presentes outras figuras políticas, como Nicola Zingaretti, chefe da região do Lácio, no centro da Itália, onde Roma está localizada. Um dos fundadores do Partido Democrata, Zingaretti lamentou que o atual governo federal "traga tanto ódio, rancor e divisão".

Por sua vez, Maurizio Landini, chefe da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) – o maior sindicato do país, com mais de 5,5 milhões de inscritos – acusou a coalizão de governo populista de direita em Roma de "promover políticas erradas e não combater as desigualdades".

Crianças brincam embaixo de uma grande bandeira do movimento LGBT durante a marcha

O partido de Salvini, a ultradireitista Liga, passou a integrar o governo italiano ao lado do populista Movimento Cinco Estrelas em 2018. Com a aliança, Salvini, um linha-dura com imigrantes, ganhou o cargo de ministro do Interior, bem como um dos postos de vice-primeiro-ministro da Itália.

Desde então, o país tem repetidamente se recusado a aceitar que navios de ajuda humanitária que resgatam migrantes no Mar Mediterrâneo atraquem em seus portos.