Vale foi advertida sobre sensores 2 dias antes da tragédia, diz PF

E-mails trocados entre profissionais da Vale e de duas empresas ligadas à segurança da barragem de Brumadinho mostram que, dois dias antes do rompimento, a mineradora já havia identificado problemas nos dados de sensores responsáveis por monitorar a estrutura. A Polícia Federal (PF), que investiga o caso, identificou os e-mails. De acordo com o último levantamento, 150 pessoas morreram na tragédia e 182 estão desaparecidas.

vale brumadinho

A TV Globo teve acesso aos depoimentos prestados por dois engenheiros da empresa TÜV SÜD, André Jum Yassuda e Makoto Namba, responsáveis por laudos de estabilidade da barragem. Eles haviam sido presos em dia 29 de janeiro, mas por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça) foram soltos na terça-feira (5). Os advogados Augusto de Arruda Botelho e Brian Alves Prado, que defendem os engenheiros, disseram que não comentarão o conteúdo do depoimento.

Já o delegado Luiz Augusto Nogueira, da Polícia Federal, referiu-se, no depoimento, à existência dos e-mails trocados entre os funcionários da Vale, da TÜV SÜD e da Tec Wise, outra empresa contratada pela Vale. Segundo Nogueira, as mensagens começaram a ser trocadas no dia 23 de janeiro, às 14h38, e se prolongaram até as 15h05 do dia seguinte. A barragem se rompeu em 25 de janeiro, às12h28min25s.

Nas perguntas, Nogueira afirma que o assunto das mensagens “diz respeito a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10 de janeiro de 2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 piezômetros automatizados”. No depoimento não constam, no entanto, detalhes sobre as mensagens.

O engenheiro Makoto Namba afirma que só ficou sabendo das alterações dos dados fornecidos pelos sensores após o rompimento da barragem. Depois de ler as mensagens para Namba, o delegado o questionou: “qual seria sua providência caso seu filho estivesse trabalhando no local da barragem?”.

Namba respondeu, segundo o relatório da PF, que “após a confirmação das leituras, ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do PAEBM [Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração] para as providências cabíveis”.

No depoimento, Makoto Namba também falou sobre uma reunião com funcionários da Vale sobre o laudo de estabilidade assinado por ele. Segundo o engenheiro, um funcionário da Vale chamado Alexandre Campanha o perguntou: “A TÜV SÜD vai assinar ou não a declaração de estabilidade?”. À PF, Namba disse à PF ter respondido que a empresa assinaria o laudo se a Vale adotasse as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de 2018. No entanto, ainda assim, assinou o documento.

Segundo ele, “apesar de ter dado esta resposta para Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase proferida pelo mesmo e descrita neste termo como uma maneira de pressionar o declarante e a TÜV SÜD a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato”. A TÜV SÜD informou que não comentaria o assunto por estar sob sigilo.

Com informações do “Poder 360”