Diplomatas criticam aceno de Bolsonaro contra Cuba

A indicação do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) de romper relações diplomáticas com Cuba causou reações negativas entre diplomatas brasileiros. Para a maioria, vivemos em tempos onde a relação com todos os países é importante, e que ter presença em todas as partes é essencial.

Bolsonaro - TÂNIA RÊGO EBC/REPRODUÇÃO

"O princípio da diplomacia brasileira é o universalismo, ter relações com todos os países independentemente da orientação política. Se tiver que aplicar essa medida, como ficaria Rússia, como ficaria a China, e outros países? O tempo em que nós não tínhamos relações com todos os países ficou pra trás. Isso seria, no fundo, um retrocesso a mais. Uma embaixada é um posto de observação política, troca de ideias sobre a situação mundial, tem muitas funções além da questão do comércio", disse o ex-embaixador Rubens Ricupero, em entrevista ao jornal O Globo.

Para o ex-embaixador do Brasil na França, o Brasil não está vivendo uma situação onde precise apressar definições neste sentido.

"O timing, a linguagem importam muito, então o melhor é aguardar o Brasil escolher seu chanceler. Essas declarações do presidente e do vice ainda são um rescaldo da retórica eleitoral. A campanha gera uma forma de linguagem que depois é decantada pela própria experiência de governar. Não sei até que ponto estamos diante de comentários feitos de forma circunstancial, ou se isso já é uma definição de política pública", disse.

Já o ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, diz que a decisão pode prejudicas o Brasil comercialmente.

"Hoje o Brasil praticamente já não tem relações com Cuba, porque Cuba retirou o embaixador aqui, criticou muito esse governo atual do Temer, apoiou a teoria do golpe do impeachment. Mas o Brasil, independentemente do governo, tem alguns interesses. Temos uma dívida a receber de Cuba, então se você cortar as relações com o país, você pode deixar de receber milhões de dólares", lembro Rubens.