França reconhece uso de tortura na Guerra da Argélia

Governo francês reconheceu pela primeira vez nesta quinta-feira (13) que agentes do exército francês torturaram militantes do movimento independentista durante a Guerra da Argélia, entre 1954 e 1962

Maurice Audin

O Estado francês admitiu sua responsabilidade pela tortura de Maurice Audin, matemático e ativista comunista e anticolonialista que lutou pela independência da antiga colônia da França, a Argélia. 

“Em nome da República Francesa”, o Estado admitirá que Audin não desapareceu depois de escapar da prisão, mas foi “torturado até à morte ou torturado e depois executado” por soldados franceses. Detido na sua casa em Argel no dia 11 de junho de 1957, por suspeitas de conluio com as atividades da Frente de Libertação Nacional, Audin, na época com 25 anos, era professor assistente na Universidade de Argel e filiado no Partido Comunista local.

Em 2014 o ex-presidente François Hollande já tinha reconhecido que o ativista, transformado em um dos símbolos da repressão francesa na Argélia, não tinha escapado e que tinha morrido na prisão. A admissão de que a morte de Audin resultou diretamente de tortura feita pelas Forças Armadas é um reconhecimento histórico e necessário, esperado há mais de 60 anos.

No comunicado da presidência revelado pela Folha, lê-se que "a morte [de Audin] foi tornada possível por um sistema legalmente constituído de detenções (…) que contribuiu para desaparecimentos e permitiu a tortura para fins políticos". 

Será autorizada ainda a desclassificação de documentos históricos confidenciais, relativos a outros desaparecidos e a vítimas do Exército francês, na guerra que pôs fim a 132 anos de colonização da Argélia.

A Guerra de Independência Argelina, também conhecida como Revolução Argelina, foi o movimento de libertação nacional da Argélia contra o domínio francês. Em 1956, a França permitiu o poder de polícia ao exército. Seria a fase mais violenta do conflito, chamada por Paris, até pouco tempo, de "operação de restabelecimento da ordem". Cerca de 300 mil argelinos morreram.