O significado da visita de Martin Schulz a Lula

Em Curitiba, ex-líder dos social-democratas alemães, que integram a coalizão do governo Merkel, diz que seu partido "tem interesse na vitória do PT" nas eleições presidenciais.

Lula e Schulz - Foto: DW

O ex-líder do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha e ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz se somou à galeria de visitantes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão.

Ao se encontrar com o petista na quinta-feira (31/08), Schulz disse que a visita era tanto de caráter privado quanto em nome dos social-democratas alemães, sinalizando que o SPD tomou posição pública em relação aos problemas judiciais do ex-presidente e que torce pela vitória dos petistas nas eleições.

Antes da visita de Schulz, apenas alguns membros isolados do SPD haviam criticado as ações na Justiça contra Lula e a possibilidade de ele ser barrado nas eleições. Schulz é o mais notório membro do partido a se manifestar e agir em solidariedade ao petista.

Em Curitiba, ele disse que veio transmitir a solidariedade dos social-democratas europeus e que realizou "a viagem a pedido de Andrea Nahles", a líder de seu partido. Ele também afirmou que "discutiu a visita" com o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, outro filiado ao SPD.

Em entrevista à DW, Schulz também afirmou que não está em posição de "julgar o Judiciário brasileiro", mas opinou que os procedimentos contra Lula "provocam mais perguntas do que dão respostas". "Não sou um especialista na lei criminal brasileira, mas eu confio e acredito nele [Lula]."

Ele também não escondeu que torce pela vitória do petista nas eleições presidenciais. "Nós temos um grande interesse em uma vitória eleitoral do PT", disse ele, sem esclarecer exatamente quem seria esse "nós", mas dando a entender que seriam os social-democratas, que mantêm há décadas uma relação de proximidade com o PT.

Segundo Schulz, esse "interesse" se dá porque os petistas, na sua visão, eram defensores do multilateralismo. "No lugar do multilateralismo defendido pelos governos de Lula e de Dilma Rousseff, estamos vivenciando – não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro – um retorno das políticas isolacionistas."

Ele também negou que sua visita configure uma interferência em assuntos internos de outro país. "A permissão da visita que recebi é para um homem que conheço há muitos anos e que, na minha visão, foi preso com base em procedimentos muito questionáveis e duvidosos."

Em agradecimento pela visita, Lula entregou um bilhete a Schulz. "Aos companheiros democratas da Alemanha, quero agradecer a solidariedade de vocês desde os tempos das greves de 1980. Agora fizeram um golpe, tirando uma presidente eleita, e agora com um golpe judicial não querem que eu concorra a Presidencia [sic] do Brasil. Conto com a solidariedade do povo alemão. Lula."
Após a visita, o deputado Rolf Mützenich, porta-voz de assuntos externos do SPD, disse que a visita de Schulz "chamou atenção para a questionável e controversa, em termos constitucionais, perseguição ao ex-presidente Lula". Ele também salientou que há uma "longa e produtiva" cooperação entre o PT e o SPD e disse desejar que "as próximas eleições possam ser conduzidas livremente e de maneira transparente".

O deputado não foi o único a comentar a visita. O deputado verde Frithjof Schmidt disse que é "certamente legítimo que Schulz visite um velho conhecido e aliado político na prisão e obtenha informações dele".