O efeito Manu

"Se enfileirarmos todos os candidatos a vice na história recente do país, dificilmente veremos algo parecido com Manuela d´Ávila".

Por Ricardo Miranda, de Os Divergentes

Manuela Haddad - Foto: Thallita Oshiro

“Quem vai tirar Temer do Jaburu sou eu“.
Manuela D´Ávila, lembrando ser ela, em qualquer hipótese, a vice na chapa. O Palácio do Jaburu abriga a residência oficial do Vice-Presidente da República.

“Tá cheio de gente sem sal querendo ser presidente da República“.

Fernando Haddad, brincando depois de perguntas sobre o carisma de Lula, que está preso, e a dificuldade de substitui-lo em campanha.

Fernando Haddad (PT) e Manuela D´Ávila (PCdoB) fizeram na tarde desta terça, 7, o primeiro pronunciamento oficial depois do fim de semana de convenções partidárias, seguido de uma concorrida coletiva de imprensa em São Paulo. O que vai sair na mídia, é outra história. Foi uma estratégia acertada, colocar lado a lado, a potencial – e provável – chapa presidencial, com a, ao que parece, irrefreável impugnação de Lula, e dar-lhes a chance de falar pela primeira vez. O dueto funcionou muito bem. Ao fundo, um cartaz do que já se convencionou chamar de triplex, ironia com o “crime” que mantém o ex-presidente detido em uma solitária na sede da PF desde 7 de abril – Manuela, à esquerda, Haddad, à direita, e Lula ao meio. A palavra-chave foi unidade, houve flertes já de olho no segundo turno, e falou-se um pouco de tudo, de monopólio da mídia a “privatização” do pré-sal.

Havia ali, a despeito da foto vigilante de Lula, e do desejo de todo petista de que o ex-presidente seja solto e ainda concorra a um terceiro mandato, um ar de renovação. Haddad-Manuela podem se tornar, por circunstâncias muito especiais dessa campanha, a novidade que faltava. E, se os votos de Lula começarem a pingar na dupla, uma chance real de vitória da esquerda. Mas à parte o charme da dupla, era impossível, ao final, não ter uma outra certeza: Manu rouba a cena.
Se enfileirarmos todos os candidatos a vice na história recente do país, dificilmente veremos algo parecido com Manuela D´Ávila. Ela está afiada, afiadíssima, e, vade retro machismo, tão bonita que espanta. Ou melhor, aglutina. Se vice não decide eleição, como já dissemos por aqui, e o relevante é mesmo a transferência dos votos de Lula para Haddad, Manuela pode fazer a diferença nas aparições na TV e nos comícios. Se alguém ainda acha que o fato de ser de um partido comunista pode representar alguma ameaça para o eleitorado, ainda mais nesses tempos irracionais, os primeiros passos de Manuela indicam que pode ganhar corações e mentes com sua presença. Manuela pode não apenas dar um empurrãozinho para aumentar os votos entre o eleitorado feminino, maioria crucial, como, e isso é relevantíssimo, entre os jovens entre 16 e 25 anos, onde, por exemplo, Bolsonaro tem 30% do púbico que declara no capitão-deputado sua intenção de voto.

Pela estratégia do PT e do PC do B, se a candidatura de Lula for deferida pela TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Haddad sai da chapa e Manuela entra como vice. No cenário em que o TSE barra Lula, Haddad sobe para cabeça da chapa e Manuela é homologada sua vice. “Da mesma maneira que Manuela disse que não precisava estar na chapa, eu não preciso estar na chapa. No momento que a candidatura do Lula for homologada, vamos estender o tapete vermelho para Manuela como vice”, disse Haddad.

Manuela ainda teve tempo de extrair a melhor frase da coletiva. “Quem vai tirar Temer do Jaburu sou eu.” Muitos risos. De fato, como vice na chapa – encabeçada por Lula ou Haddad -, será ela, caso vença, a ocupar o Palácio do Jaburu, residência oficial do Vice-Presidente da República. Depois de morar um tempo no Palácio da Alvorada, Temer voltou para o Jaburu. Manuela gravou ainda uma mensagem para militantes da UJS (União da Juventude Socialista) e falou que fará uma “campanha para ocupar o Palácio do Jaburu”. Não deixa de ser uma piada pronta. Manuela e Jaburu definitivamente não combinam.