Até onde Bolsonaro suportará o desgaste?

A precária articulação política do governo Bolsonaro no Congresso Nacional e o destempero do próprio presidente nas redes sociais tem ampliado seu desgaste e já há quem especule sobre a possibilidade dele não concluir o mandato. 

Por Iram Alfaia

Bolsonaro e Guedes

Um dos sinais claros dessa situação foi dado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, durante debate na Comissão de Assuntos Econômicos CAE) do Senado na quarta-feira (27).

Ele mandou um recado direto ao chefe: "Se o presidente apoiar as coisas que podem resolver o Brasil, estarei aqui. Agora, se ou o presidente ou a Câmara, ninguém quer aquilo, eu vou ser obstáculo para os senhores? De forma alguma, voltarei para onde sempre estive".

Guedes externou aquilo que já vinha reclamando nos bastidores, ou seja, o fogo amigo do próprio governo pode lhe afastar do comando da pasta.

Os assessores dele que estiveram na CAE, segundo apurou a coluna Painel do Folha de S.Paulo, fizeram a seguinte leitura: “um dos pilares de sustentação do governo de Jair Bolsonaro decidiu avisar publicamente que, sem retaguarda, não permanecerá no posto. O destinatário da mensagem é o próprio presidente”.

No exato momento em que Paulo Guedes debatia na CAE Bolsonaro dizia ao apresentador da TV Band José Luiz Datena que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estava abalado emocionalmente por causa de problemas pessoais. 

Bolsonaro fez referência a prisão do ex-ministro Moreira Franco que é padrasto da mulher de Maia.  A resposta do presidente da Câmara  mostrou que ainda difícil de restabelecer um bom relacionamento com o presidente. Segundo ele, Bolsonaro está "brincando de presidir" o país.

E prosseguiu: "Abalados estão os brasileiros, que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza, capacidade de investimento do Estado brasileiro diminuindo, 60 mil homicídios e o presidente brincando de presidir o Brasil".

Repercussão

No Facebook, o ex-ministro Bresser Pereira afirmou que Bolsonaro não quer resolver problemas, mas está empenhado em cria-los.

“Não quer fazer os compromissos necessários para governar. Não sabe que a política é a arte de argumentar e fazer compromissos para alcançar a maioria. Pensa que governar dessa maneira não vale a pena”, afirmou.

Para o líder do PT no Senado, a atual situação é insustentável. “Com a Presidência sendo exercida no Twitter para atacar até aliados, o Brasil experimenta o maior caos político dos últimos anos”, diz.

Para ele, o governo se dissolve a passos largos. “E a pergunta que circula nos corredores de Brasília é: até quando ele se aguenta?”, questiona.