Manuela d'Ávila e sua menina no Dia da Mulher na Bahia

"Algo novo vai surgindo no cenário político e cultural brasileiro, e pode ser semente de coisa grande".

Por Haroldo Lima*

Manuela
 
As manifestações pelo Dia da Mulher na Bahia demonstraram a garra com que as mulheres vão lutando, de norte a sul do país, contra o aniquilamento em curso de seus direitos. Vaias, denúncias, palavras de ordem, cantos foram constantes na passeata que percorreu o eixo central político tradicional da capital baiana, sua Avenida Sete de Setembro.
 
Manuela participou da manifestação de mulheres em Salvador  I  Foto: Fernando Udo
O clamor que se levantava era todo contra o execrável governo federal, e especialmente contra seu presidente, o machista, racista e pornográfico Jair Bolsonaro.

A reforma da Previdência era estigmatizada com força, pois as baianas, a exemplo das mulheres de todo o Brasil, sentem ser elas as mais atingidas nesta traiçoeira reforma.

Em momentos variados, grupos diversos levantavam bandeiras gerais, como a exigência do “Lula Livre”, a elucidação do assassinato da Marielle Franco, o enfrentamento do feminicídio, o respeito à soberania da Venezuela.

A liderança da passeata estava com as mulheres, mas era grande a participação de homens solidários com as reivindicações levantadas, que eram pleitos das mulheres mas assumidos por toda a população brasileira.

Tudo isto que agitou o centro de Salvador na tarde de ontem, era o que tinha de comum com o que se viu nas inúmeras outras passeatas realizadas pelo Brasil afora. Mas na Bahia, houve algo mais.

O desavisado que fosse ao início da noite ao Porto da Barra, para sufocar seu cansaço e vitalizar suas energias nas bem regadas mesas dos muitos bares lá existentes, ficaria surpreso com uma fila quilométrica de gente que estava ali para comprar um livro, o livro de Manuela D´Ávila, “Revolução Laura”. Mais espantado ainda ficaria quando percebesse que naquela enorme e animada fila estavam jovens, em grande quantidade, mas não só, lá se espraiava também gente de diversas gerações, membros de organizações políticas mas, sobretudo, pessoal que não participava de partido algum, todos, entretanto, rebelados contra a situação que predomina no país e unidos no desejo de ver Manuela D´Avila, conversar com ela, com ela tirar uma selfie, com ela sorrir e dizer-lhe “vá em frente, estamos com você”, “adorei lhe conhecer”.

A fila que serpenteava pelo Porto da Barra se desenvolvia pelo meio da rua, onde não passa carro, e terminava na porta de uma casa, mas na rua, onde estava a Manuela, autografando livros. Sim, todo o lançamento da Revolução Laura foi na rua, no Porto da Barra, perto do lugar onde a primeira capital do Brasil foi fundada em 1549.

Um assanho de repente mexeu mais ainda aquela turma que não parava: chegou Caetano Veloso. Selfies e mais selfies, que é a forma atual de extravasar satisfação pelo encontro, manifestar alegria e registrar fatos para recordações futuras. A percussão do maracatu bateu mais forte, negras e negros evoluíam na contagiante coreografia afro. Era uma festa.

Estive lá. Há décadas freqüento coisas desse tipo na cidade da Bahia, na minha Salvador. As coisas de que falei acima, as frases que transcrevi entre aspas, eu as vi, eu as escutei. Posso dizer que nunca na Bahia houve algo desse tipo, com essa envergadura, com essa heterogeneidade.

Algo novo vai surgindo no cenário político e cultural brasileiro, e pode ser semente de coisa grande. Afinal, é uma comunista do PCdoB, quem está puxando atos com tal amplitude.

Agarrada com suas idéias de transformação, de democracia, de progresso, de liberdade, a Manuela apresenta tudo isso de forma diferente, jovial, moderna, indiscriminada, bonita, inteligente, vibrante, autentica e firme. E assim, aglutina multidões.

Manuela se apresenta agarrada com um ideário libertário e feminista e agarrada com Laura, a filha que com ela protagoniza a Revolução Laura, que ainda não tem quatro anos e que quando nasceu seu pai, poeta e compositor, fez uma música dizendo “menina, você resgatou o sol que um eclipse me roubou”.

Os 400 livros que chegaram para o lançamento logo se esvaíram. Precisou ser anunciado que ainda em março, ao fim do mês das mulheres, haverá na Assembléia Legislativa da Bahia outra oportunidade para se ter acesso à Revolução Laura.

Como haverá lançamentos em diversas outras cidades, Salvador já mostrou qual é a bitola esperada nesses próximos eventos, a amplitude, a grandiosidade e a coisa nova.