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Henfil, 75 anos

Henfil teria completado 75 anos no último dia 4 de fevereiro. Foi um lutador pela democracia que faz falta nestes tempos bicudos que o país vive.

Por José Carlos Ruy*

Henfil

Da periferia de Belo Horizonte para o mundo! Este foi o trajeto de Henrique de Souza Filho, o Henfil, que nasceu em 5 de fevereiro de 1944 e, na última terça-feira teria completado 75 anos de idade. Ele viveu até 4 de janeiro de 1988. Antes de se tornar a figura icônica que foi, ele teve a vida dos pobres da periferia. Em escolas públicas fez seus estudos iniciais; frequentou um curso supletivo noturno que o capacitou para o curso superior de sociologia, na UFMG, que só frequentou por alguns meses.

Foi lá também onde, como os meninos pobres, começou a trabalhar, inicialmente como embalador de queijos numa fábrica de laticínios; depois foi office boy em uma agência de publicidade, de onde foi o jornalimo, em que estreou em 1694, na revista Alterosa, de Belo Horizonte, como ilustrador. A carreira foi rápida. Desde 1965 colaborou no jornal Diário de Minas, com caricaturas políticas. Em 1967, criou cartuns esportivos para o carioca Jornal dos Sports, e teve trabalhos publicado nas revistas Realidade, Visão, O Cruzeiro, Jornal do Brasil e Placar. A consagração veio mesmo em 1969, quando o traço característico, rápido e econômico dos Fradins se tornou uma espécie de sinônimo gráfico de O Pasquim.

Sua vida foi curta, abreviada pela AIDS que a ceifou às vésperas de completar 44 anos de idade. Mas durou o suficiente para que deixasse sua marca indelével na arte do cartum, na escrita e também na luta pela democracia, contra a ditadura de 1964 e pelas liberdades.

Seus personagens, de traços rápidos, econômicos e elegantes, com destaque para os Fradins (Cumprido e Baixim), Graúna. bode Orelana, Zeferino, Ubaldo o Paranóico – toda a turma que ganhou vida em seus traços inovadores e geniais – representam a resistência democrática, mordaz e irônica, contra os generais de 1964, contra a cruel repressão policial, e contra todos aqueles que, na sociedade, apoiavam a repressão e o estado de exceção. São personagens que registram para sempre, na arte genial de Henfil, a resistência, feroz mas bem humorada. Seus cartuns, sua escrita são, com certeza, a melhor tradução brasileira da expressão latina «ridendo castigat mores».

Henfil não se contentou apenas com a luta pela democracia através de sua arte. Foi um militante que saiu às ruas, juntou-se à luta popular em vários momentos, como na Campanha pela Anistia, em 1978/1979, e na luta pelas Diretas Já, em 1984, nas quais teve atuação marcante.