Ricardo Kotscho: “prisão perpétua” de Lula é a última fatura de Moro 

Aos 73 anos, já condenado a 25, e com outros processos ainda em andamento, é muito difícil Lula sair vivo da prisão. Teria 98 ao final das penas já impostas, se não providenciarem novas condenações. O objetivo era esse mesmo, desde o início da Lava Jato: condenar Lula à prisão perpétua para evitar que ele volte a ser presidente.

Por Ricardo Kotscho*, no blog Balaio do Kotscho

Moro e Bolsonaro

Ainda durante a campanha, Jair Bolsonaro já tinha anunciado na avenida Paulista que, com a sua vitória, o ex-presidente iria “apodrecer na cadeia”, lembram-se? Nesta quarta-feira, o ex-juiz Sergio Moro entregou a última fatura da sua empreitada para eliminar Lula da política brasileira. Quem assinou a sentença foi a sua substituta, Gabriela Hardt, mas Moro já tinha deixado tudo preparado para a nova condenação a 12 anos e 11 meses em regime fechado.

Os bolsonaros e seus seguidores comemoraram nas redes sociais como se essa fosse uma grande conquista do governo. Para eles, a campanha eleitoral ainda não acabou, até porque não sabem fazer outra coisa na vida além de cultivar o antipetismo de palanque que os levou à vitória em outubro.

Ato contínuo, do seu leito hospitalar, Bolsonaro pai compartilhou a notícia no Twitter. Na Câmara, o filho Eduardo simplesmente pregou a extinção do PT e foi para cima do petista gaúcho Henrique Fontana, que ousou defender Lula: “O deputado falou da tribuna, mas hoje é um dia triste para ele. Lula acaba de ser condenado a 12 anos de cadeia. Lavagem de dinheiro e corrupção! O Lula tá preso, babaca!”.

No mesmo dia, outro filho, Flávio, ganhou a terceira secretaria do Senado, com direito a uma verba de R$ 456,7 mil para contratar funcionários sem concurso público. Dá para montar um exército de Queiroz, o motorista e operador financeiro da família que providencialmente sumiu do mapa.

Lula voltou e Flávio Bolsonaro sumiu das manchetes, mas a Procuradoria Regional Eleitoral continua investigando o senador sob suspeita de falsificação de documento público à Justiça, por conta de seus atípicos negócios imobiliários. No inquérito, há menção sobre possível lavagem de dinheiro.

Em Curitiba, a juíza Gabriela Hardt estava com tanta presa para exarar logo a sentença que se referiu a dois delatores, Leo Pinheiro e José Aldemário, da OAS, como se não fossem a mesma pessoa, além de cometer erros de português e de digitação. Moro e Hardt só não conseguiram provar qual a relação entre o sítio de Atibaia e a Petrobras, o alvo da investigação da Lava Jato, como constatou Mario Cesar Carvalho, na Folha: “Isso pode parecer um detalhe bizantino, mas, se o caso não tem relação com a Petrobras, todo o processo deveria ser anulado, porque o Supremo Tribunal Federal já decidiu que Curitiba só deve julgar os casos relacionados a corrupção na estatal petroleira”.

Como diria o ex-juiz, isso não vem ao caso. Outro delator, Marcelo Odebrecht, já tinha declarado em interrogatório de novembro de 2018: “Eu não fiz nenhuma tratativa, direta ou indireta, com o presidente Lula envolvendo contratos da Petrobras”. Mas o que importa isso agora? A defesa de Lula mais uma vez vai recorrer da sentença em todas as instâncias, cumprindo o ritual cujo desfecho já é conhecido.

Com o presidente Bolsonaro ainda no hospital e o vice fazendo papel de ombudsman, em meio a trapalhadas generalizadas desse ministério de fancaria, a condenação de Lula foi a única notícia boa para o governo nestes 37 dias em que o país foi virado de pernas para o ar.

Ainda não há previsão de alta para Bolsonaro deixar o hospital Albert Einstein onde está internado há 10 dias. Vida que segue.

* Ricardo Kotscho é jornalista